São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2001
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coluna social

Agulhadas e massagem em pessoas especiais

ELKA ANDRELLO E ADRIANA GLÓRIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A fisioterapeuta e acupunturista Rosana Pontes, 45, e a técnica em reabilitação Fátima Botelho, 46, colocam em forma portadores de deficiência física e mental da região de São Miguel, na zona leste de São Paulo. Há dois anos, a dupla distribui massagens e agulhadas em um espaço cedido pela ONG Centro de Apoio e Convivência Raio de Luz.

   

O espaço usado pelas voluntárias é aberto e gratuito. A maioria dos pacientes já chega com o tratamento prescrito pelo médico. Do contrário, Rosana faz o diagnóstico para Fátima colocar a mão na massa. "Todo local que tem ortopedista e neurologista tem de ter reabilitação. O governo não oferece esse tipo de serviço. Muitos hospitais não têm fisioterapeuta, e, por conta disso, muita gente que poderia ter vida normal fica definhando em casa. Se demora muito para ser tratado, o problema pode ficar irreversível", diz Fátima.

   


Com a maior tranquilidade, Rosana explica aos pacientes, que nunca ouviram falar em acupuntura, que a agulhada não dói. Ela já foi voluntária em outros lugares, mas essa é a sua primeira experiência com pessoas especiais. "Estou me sentindo bem com o tratamento. Já venho aqui há dois anos. No começo, ficava com medo das agulhas, depois relaxei", diz o paciente Cledson de Oliveira, 21. "Fisioterapia casada com acupuntura dá mais resultado. Regulo o corpo das pessoas com as agulhas. É como se eu acionasse umas chavinhas", diz Rosana. Ela usa agulhas descartáveis importadas que ela mesma compra.

   


Fátima começou a trabalhar como voluntária na região de São Miguel depois de ter sofrido um acidente de carro. Ela ficou sete meses sem andar e precisou fazer cem sessões de fisioterapia. As duas hérnias de disco, que ficaram de sequela, não impedem que ela atenda até 11 pessoas em uma tarde de trabalho.
"Cada caso é um caso. Se eu não conquistar a pessoa, eu não trato. Há gente que gosta que eu cumprimente com um beijo, há gente que não. Tem de ensinar a pessoa a viver bem com o que sobrou. Dou atenção para o paciente e para a família dele. E, se a pessoa some, vou até a casa dela para saber o que está acontecendo. Normalmente, é dificuldade para arranjar transporte", diz Fátima.

   


No futuro, Rosana e Fátima esperam montar um centro de fisioterapia no bairro. Fátima já conseguiu reforço: duas psicólogas, moradoras da região, estão se especializando na USP para atender portadores de deficiência e entrar no time.
E tem mais: uma casa já foi doada para servir de centro de atendimento. Só falta agora arranjar dinheiro para pagar os impostos atrasados e para fazer uma boa reforma no local.


Doações pelo tel. 0/xx/11/6584-6342.

coluna.social@uol.com.br



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