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s.o.s família - rosely sayão
Qualquer filho está sujeito a consumir droga
Se há assunto complexo e delicado de tratar com pais e escolas, o uso de drogas é um deles. Costuma provocar reações passionais tão intensas que fica particularmente difícil -quando não impossível- manter uma
reflexão equilibrada sobre o problema.
Já se discutiram amplamente os prováveis
motivos que levariam ao uso -ou melhor, ao
abuso- das drogas. O que se pode concluir é
que não há um motivo único, mas diversos, já
que não temos um adolescente padrão, e sim
adolescentes bem diferentes.
Alguns começam a usar drogas por pura curiosidade: é preciso reconhecer que há uma
superexposição do tema e isso estimula a curiosidade da garotada. Outros usam para tentar diminuir ou dissimular algum sofrimento
que incomoda e que faz parte da vida. Há também os que têm problemas familiares, escolares ou de outra ordem e buscam alívio da pressão que isso provoca. Outros querem ser o que
não costumam ser, agir de modo diferente,
enturmar-se, encontrar mais prazer ou mais
felicidade etc. Enfim, essa discussão nunca levou a nada.
Por isso os discursos em tom acusatório que
elegem os pais, a escola ou as más companhias, por exemplo, como os maiores responsáveis pelo encontro dos jovens com as drogas
são totalmente equivocados. Os jovens usam
drogas principalmente porque elas existem,
estão aí, são oferecidas pela sociedade e alguma coisa interessante têm para oferecer. Mas,
além disso, elas têm também efeitos nocivos, e
isso não se pode negar.
Acontece que a maioria das abordagens a
respeito das drogas não é eficaz para a prevenção de seu uso ou dos problemas de seu uso
abusivo. Adianta colocar medo, apontar os
malefícios, as consequências desastrosas possíveis? Pelo jeito, não. Eles continuam usando,
experimentando, arriscando-se. Vale a pena
apostar em um mundo sem drogas, em jovens
perfeitos que resistam aos apelos que elas fazem? Também não. As drogas resistiram até
hoje a todos os tipos de abordagem.
O pais têm medo das drogas. É normal e realista sentir isso. Nenhum tipo de educação oferece garantia de que o filho não se torne usuário ou mesmo dependente. A questão é fazer o
que é possível.
Em primeiro lugar, é bom não esperar que o
filho seja um santo. Ele pode, sim, não resistir
à tentação da droga, tão onipresente no mundo atual. E, quando se espera ou se trabalha
pelo ideal, o possível nunca é considerado.
Em segundo lugar, os pais podem -e devem- fazer o controle da vida dos filhos enquanto eles não têm mecanismos de auto-regulação. Isso significa colocar-se a par dos lugares que frequentam, colocar limites de horário e aplicar sanções quando as regras são
transgredidas, por exemplo. É assim que ele
aprende a se cuidar: sendo cuidado.
Outra coisa: muitos pais esquecem que boa
parte da educação do filho se dá pela observação atenta que ele faz das atitudes familiares.
Quantos pais já não se alcoolizaram na frente
dos filhos? Isso é bem perigoso, mesmo que tenha sido uma só vez. Permitir que o filho use
drogas em casa também oferece riscos altos:
ele pode sentir-se autorizado a usar, sem receio nenhum. Mas o mais importante talvez
seja admitir que os pais não são onipotentes.
E a escola? Há quem afirme, hoje, que as escolas se transformaram no maior centro de
distribuição e de concentração de drogas. Não
é bem assim. Claro que há drogas na escola
também. É que ela representa o mundo: o que
há fora da escola há dentro dela também. Mas,
como instituição educativa, ela precisa deixar
claros seus limites e suas regras, e isso nem
sempre é feito. No entanto isso não basta. Ela
precisa ir além e adotar algum trabalho sensato, realista, eficaz e realmente educativo.
Hoje, a abordagem do uso de drogas que se
tem mostrado mais eficaz é a que adota a política da redução de danos. Escolas e pais precisam conhecer melhor esse tipo de trabalho.
Sugiro um livro: "Que Droga é Essa?", de Aidan Macfarlane, Magnus Macfarlane e Philip Robson (200 págs., R$ 25, Editora 34, tel. 0/
xx/11/3816-6777).
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail:
roselys@uol.com.br
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