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Ingrediente
Bom preparo diminui rejeição ao fígado
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Argh! Essa é a reação
usual quando se fala
em fígado de boi como ingrediente culinário. De sabor acentuado e
amargor característico, que o
tornam mais "difícil" para o paladar, ele ainda é objeto de um
certo preconceito gastronômico do brasileiro, que considera
as vísceras dos animais alimentos menos nobres.
Historicamente, essa idéia
não se justifica. "Desde a Pré-História, as vísceras eram consideradas a parte mais nobre
dos animais. Após a caça, eram
os guerreiros e os chefes das tribos que comiam o fígado e o coração do animal abatido", conta
Alessandro Nicola, professor
de gastronomia do Centro Universitário Senac.
Na medicina tradicional chinesa, o fígado é aconselhado
para fortificar o sangue. Faz
sentido: "Do ponto de vista nutricional, é um alimento muito
interessante. Além de ser uma
das maiores fontes de ferro (6
mg/100 g), também é rico em
vitaminas A, C, D, B1, B12, zinco
e selênio, entre outros", diz Ricardo Hauy Marum, presidente
do Instituto Brasileiro de Educação em Nutrição.
No entanto, o alimento também é rico em colesterol (450
mg/100 g), o que leva à recomendação de ser consumido
com moderação. "Para crianças
saudáveis, comer fígado duas
vezes por semana é o suficiente
para prevenir a anemia", afirma Marum.
O tipo de ferro presente no fígado, assim como em outras
carnes vermelhas, é mais facilmente absorvido pelo organismo do que o encontrado em vegetais. Por isso é considerado
muito importante na alimentação de crianças, especialmente
em idade pré-escolar, quando é
comum a deficiência de ferro.
As vantagens nutricionais
acabaram, paradoxalmente,
contribuindo para aumentar a
rejeição ao fígado. A lembrança
de ter sido obrigado a comê-lo,
quase como se fosse um remédio, faz muita gente desprezar o
alimento na vida adulta.
Uma pena, porque é um ingrediente bastante interessante também do ponto de vista
gastronômico. "Em toda a
França, o fígado é apreciado e
preparado segundo as tradições gastronômicas de cada região", diz Marie-France Henry,
chef do restaurante La Casserole, em São Paulo. Ela afirma
que, preparada corretamente, é
uma carne deliciosa.
Para acertar o preparo, Nicola sugere utilizar sempre fígado
fresco e grelhar ou refogar muito rapidamente. Para suavizar o
gosto, ele recomenda deixar de
molho no leite por cerca de 12
horas ou temperar com limão
ou vinagre -nesse caso, imediatamente antes ou logo depois de levar ao fogo.
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