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Outras idéias - Wilson Jacob Filho
Ao persistirem os sintomas ...
Com freqüência, ouvimos ou lemos essa recomendação, que nos
oferece uma segunda
opção de tratamento. Em tom
solene, nos convida a pensar
mais seriamente no problema
caso o uso do medicamento não
tenha sido suficiente. Poucos
questionaram, até o momento,
se essa medida é adequada.
Concordo que soluções simples sejam preferíveis às complexas. Desde que sejam resolutivas, obviamente. Devemos
questionar, porém, qual o problema que tentamos resolver.
Se tivermos claro que a solução proposta se destina a minimizar os sintomas de uma
doença, seu uso pode ser benéfico. A maioria, porém, entende
que esse medicamento pode
curar a doença causadora dos
sintomas. Se não fizer, o caso
deve ser levado a sério.
Esse mal-entendimento revela uma raiz mais profunda: a
freqüente confusão entre a
causa e a conseqüência de uma
doença. Infelizmente, poucas
vezes essa relação obedece a regras matemáticas. Nem toda
doença, por exemplo, tem sintomas. Ademais, muitas doenças, de diferentes gravidades,
têm os mesmos sintomas. Além
disso, há muitos sintomas que
não dependem de doenças.
Por essas peculiaridades
-entre tantas outras-, torna-se temerosa a interpretação
pessoal para definir qual medicamento é o mais adequado a
cada situação. Antibióticos
contra a gripe, antiinflamatórios contra a dor e vitaminas
contra a fraqueza são bons
exemplos de tentativas de solução do problema baseado no
"eu achei que..." corroboradas
pelo disseminado "ao persistirem os sintomas...".
Freqüentemente pergunto
aos pacientes que abusam dessa prática se colocariam no tanque de combustível dos seus
veículos um produto desconhecido visando melhorar, por
exemplo, a potência do motor.
Quase todos respondem negativamente e, com isso, percebem como cuidam mais do seu
carro do que do seu organismo.
Todos podem e devem, a despeito do grau de escolaridade,
entender melhor os determinantes da saúde e das doenças.
Quanto mais esclarecidos, mais
fácil será a tomada de decisão e
maior a chance de acerto.
Para que isso possa ser alcançado, a educação em saúde é
fundamental. Tanto a fonte das
informações, constituída pelos
profissionais dessa área, quanto os veículos de comunicação
devem se esforçar para que o
conhecimento possa ser oferecido à população em uma linguagem palatável e de forma
isenta de interesses.
Só assim estaremos aptos a
tomar as decisões e a escolher,
com segurança, quando e como
cada componente da saúde deverá ser utilizado.
WILSON JACOB FILHO, professor da Faculdade
de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de
"Atividade Física e Envelhecimento Saudável"
(ed. Atheneu)
wiljac@usp.br
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