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Clínicas cobram US$ 120 mil e garantem 200 anos de congelalamento, mas possibilidade de ressurreição ainda é incerta
Cresce interesse por congelamento pós-morte
Divulgação
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Os tanques que acondicionam os corpos congelados; os tanques menores são para as cabeças |
SIMONE IWASSO - FREE-LANCE PARA A FOLHA
Manter o corpo congelado após a
morte na esperança de um dia voltar
a viver é uma prática que tem ganhado novos adeptos pelo mundo. Atualmente, há
mais de cem corpos congelados e cerca de
600 clientes filiados em duas das principais clínicas especializadas dos
Estados Unidos, as quais têm, nos
últimos meses, registrado aumento da procura.
O interesse pela criogenia, o estudo dos sistemas em baixas temperaturas, foi despertado após a
morte de Ted Williams, um dos
dos mais importantes jogadores
de beisebol da história, em julho
deste ano, que teve seu corpo enviado pelo filho a uma clínica de
congelamento.
Na Inglaterra, a revista britânica
de divulgação de ciência e tecnologia "New Scientist" lançou um
concurso em seu site, em setembro passado, que dava como prêmio um "vale-criogenia".
No Brasil, o médico dermatologista Valcenir Bedin, 47, é um dos
grandes entusiastas da idéia. É
cliente da Alcor, a maior empresa
de congelamento de corpos dos
EUA, e pretende também montar
um laboratório de pesquisa sobre
criogenia em parceria com a Universidade Bandeirantes de São
Paulo. "Temos um projeto de fazer um convênio com a Alcor e
trazer para o país a tecnologia
usada lá", diz Bedin.
Apesar de os conhecimentos da
ciência não garantirem a possibilidade de um corpo congelado
voltar à vida, Bedin acredita que o
desenvolvimento da tecnologia
permitirá, no futuro, reanimar os
corpos. "Daqui a 200 ou 300 anos,
a ciência provavelmente poderá
recuperar tecidos congelados",
afirma.
Quanto aos dilemas religiosos e
filosóficos que a prática pode suscitar, o médico diz: "Como não
tenho nenhuma crença religiosa,
se eu não for congelado quando
morrer, não terei continuidade".
Membro do Instituto de Criogenia de Michigan e coordenadora
do grupo de discussão do instituto na Europa, a inglesa Chrissie de
Rivaz, 62, deposita suas esperanças no futuro da ciência. "Não
gosto da idéia de ser cremada ou enterrada. Para mim, o congelamento
é uma tentativa de prolongar a vida,
mesmo que em outra época", afirmou
ela por e-mail à Folha.
Preço do "freezer"
Para quem
acha que os custos de um enterro são
altos, veja o preço da aposta no congelamento. A empresa Alcor, por exemplo, cobra US$ 120 mil para congelar
um corpo e mantê-lo assim durante,
pelo menos, 200 anos. E oferece também a opção de congelar apenas a cabeça. Nesse caso, o serviço é mais em
conta: US$ 50 mil.
Agora, se o cliente é estrangeiro, há
o custo adicional de transporte do
corpo até a clínica, localizada em
Scottsdale, no Estado do Arizona, nos
EUA, o que sai outros US$ 20 mil.
No quesito forma de pagamento, a
pessoa pode escolher entre o cheque à
vista, a prazo ou então fazer um seguro de vida colocando a clínica de congelamento como beneficiária. De
acordo com a Alcor, essa é a forma de
seguro escolhida pela maioria. Além
de ser mais viável financeiramente,
evita disputas familiares no caso de o
cliente morrer antes da quitação de
todas as parcelas.
Mais um detalhe: assim que se cadastram no serviço, os membros ganham um bracelete e um colar com o
número de identificação e instruções
para encaminhamento do corpo.
Como se dá o congelamento
O processo de criogenia se inicia com a
decretação da morte legal da pessoa.
Logo em seguida, o corpo passa por
uma preparação para garantir que
possa ser congelado em boas condições -mesmo nos casos em que a
pessoa morre em locais distantes da
clínica de congelamento.
Já na clínica, o sangue é extraído do
corpo e substituído por líquidos conservantes e anticongelantes. Em seguida, o cadáver é mergulhado, de cabeça para baixo, em um tanque com
200 litros de gás nitrogênio, a -196C.
Desse modo, os defensores da prática acreditam manter o corpo sem danos aos tecidos até o dia em que a
ciência descobrir como reanimá-los.
A idéia da criogenia tem origem nas
décadas de 30 e 40, época em que foram feitos os primeiros experimentos
com congelamento de tecidos, mas
ganhou impulso em 1964, com a publicação do livro "A Perspectiva da
Imortalidade", escrito pelo físico Robert C. Ettinger, criador do Instituto
de Criogenia de Michigan, nos Estados Unidos.
Leia, ao lado, a opinião de físicos e
médicos quanto à possibilidade de a
ciência desenvolver técnicas de ressuscitamento.
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