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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003
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firme e forte "Brincar" de circo alonga e fortalece o corpo
RICARDO LISBÔA FREE-LANCE PARA A FOLHA
Hoje tem acrobacia? Tem, sim, senhor. E tem também na academia?
Tem, sim, senhor. Esse poderia ser o
bordão das pessoas que estão largando
a malhação tradicional, como musculação, esteira ou "spinning", para come
çar a dar estrelinhas e cambalhotas
para todos os lados. Trata-se das aulas de técnicas circenses, que já não se
concentram só em picadeiros, mas
fazem parte do cardápio de algumas
das grandes academias de ginástica.
São espetáculos que unem circo, dança, música e teatro. Na escola Central do Circo, o trabalho tem essa proposta, que é uma diferença que existe em relação aos exercícios dados nas academias. Não é mais a estética que é priorizada, mas a performance, a harmonia e os movimentos que ficam à frente. Lá, como na Oz Academia Aérea, a maioria dos alunos quer se inserir no mundo circense e se profissionalizar. Mas o espaço é aberto a todos. "A gente recebe aqui desde o cara que fez ginástica olímpica a vida inteira até o que não consegue dar uma cambalhota", afirma o professor de técnicas circenses Ricardo Rodrigues, 27, da Central do Circo. A exceção é a Companhia Cênica Nau de Ícaros, onde, segundo seu produtor, Sérgio Andrade, a maioria dos alunos não tem nenhuma pretensão de viver do circo. A escola mais antiga, há 19 anos instalada em São Paulo, é a Circo Escola Picadeiro, que, como a maioria das demais, tem professores formados no circo. Os pretendentes a profissionais circenses, com carteirinha e tudo, devem se dirigir à Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro, e passar por teste de aptidão para garantir o nome "artista" na carteira de trabalho. Se deu vontade de colocar uma perna-de-pau ou de sair dando umas estrelinhas por aí, deve também ter surgido a dúvida: procuro a academia ou o circo? As academias têm a vantagem de oferecer uma estrutura maior e atenção quase individual ao aluno. Os professores, em geral, não possuem a vivência de circo, mas trazem o conhecimento universitário das faculdades de educação física. Nos circos, acima de tudo, há a aura do espaço, que remete de imediato ao caráter lúdico e espetacular e que só quem já trabalhou debaixo da lona colorida sabe transmitir. "O circo nos conserva", diz Alice Medeiros, 61, sétima geração de família circense. Artista desde os quatro anos de idade, quando se apresentou pela primeira vez, ela diz ser hoje a única professora de São Paulo a dar aulas de andar sobre o fio de arame. Professora da Oz, conta que aprendeu a usar o aparelho escondida dos pais, aos cinco anos. O trabalho em família ainda é uma tradição no circo, onde os conhecimentos são passados de pai para filho. Pois os novos adeptos também vão para o picadeiro aprender em família. "É pai, mãe e filho que vêm aqui para treinar", diz a diretora da Oz, Bel Toledo de Assumpção, 48. Para poder vestir o "uniforme" -qualquer roupa confortável, que não prenda os movimentos- é só estar de bem com a saúde e preparado para, muito possivelmente, ganhar uma dezena de hematomas e outro tanto de calos nas mãos. As aulas podem até parecer brincadeira, mas não são moleza. Por isso quem tem qualquer problema de saúde deve consultar o médico antes. Do contrário, "contra o sucesso, não há argumento. Se o aluno não sente dor, seja no joelho, na coluna ou no cotovelo, não se pode ficar parando para consultar quem não aparenta ter problemas", diz Eduardo Puertas, chefe do Grupo de Colunas do Departamento de Ortopedia da Universidade Federal de São Paulo. E três vivas para o circo! Texto Anterior: alecrim: Fruta sem época Próximo Texto: O que se ganha no picadeiro Índice |
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