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alecrim
Paulistanos reaprendem a comer devagar
Marlene Bergamo/Folha Imagem
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Em São Paulo, a farinha de milho foi transformada em polenta pelos imigrantes italianos |
TATIANA ACHCAR
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O Slow Food chega oficialmente à cidade onde quase tudo é "fast" -menos o trânsito. O primeiro encontro do convívio (nome dado às filiais do movimento) de São Paulo será realizado hoje, no restaurante Le Tan Tan, com uma programação que inclui palestras, bate-papo e, é claro, boa comida.
A capital paulista é a quarta cidade brasileira a abrigar o movimento. As outras
são Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Para os membros do Slow
Food, a batalha contra a vida em ritmo
acelerado começa à mesa, com a redescoberta da riqueza de aromas e sabores das
cozinhas regionais. Por isso são criados
os convívios. "A gastronomia está fundada no encontro, na reunião. Comer é um
ótimo pretexto para se encontrar. Nós
comemoramos comendo, é cultural",
afirma Heloisa Mader, fundadora do
convívio de São Paulo.
O jantar que inaugura a filial paulistana
do movimento será bem temperado por
três convidadas que falarão sobre o tema
Comer e Aprender: a consultora gastronômica Margarida Nogueira, a historiadora Heloisa Liberalli Beloto e a psicanalista Daisy Justus.
"Queremos mostrar que a boa cozinha
está na tradição culinária e cultural de cada povo e que sofisticação é justamente a
autenticidade do prato", afirma Nogueira, fundadora do convívio carioca, o primeiro do Brasil.
A culinária brasileira tem forte influência portuguesa, mas essa não é a única.
"Os portugueses trouxeram sal, açúcar,
ovo, azeite e hortaliças. A influência indígena varia conforme a região, e a africana
está restrita à Bahia. Mas é somente a partir do século 20, com as imigrações já definidas, que o país consolida suas características regionais", explica Beloto.
Em São Paulo, por exemplo, a imigração italiana foi decisiva para a mudança
do perfil alimentar. Já a introdução do
fast food, de acordo com a historiadora,
foi "forçada". "McDonald's é atitude (de
jovem) ou pura falta de opção. A cidade
carece de pequenos restaurantes de comida caseira, mais saudável e de menor
preço", diz ela.
Para Justus, que pesquisa o comportamento alimentar do brasileiro, o Slow
Food ajuda a resgatar as tradições culinárias que mostram a verdadeira identidade do país. "Junto com o açúcar, o português trouxe a melancolia da saudade de
sua terra. O africano trouxe o cozido, os
temperos fortes e sua sedução, a alegria e
a gargalhada na cozinha. O indígena,
mais taciturno e arredio, nos deixou o assado de caças", diz.
Ela cita a teoria da cozinha relacional,
do antropólogo brasileiro Roberto DaMatta. "A preferência nacional pelo cozido é fruto da nossa mistura de raças, cores e sabores. É o arroz com o feijão, e a
farinha que une tudo isso. É o comer embolado."
Transformado em sede paulistana do
Slow Food, o restaurante Le Tan Tan passa a manter nove pratos inspirados nessas tradições em seu cardápio permanente (leia uma das receitas na pág. ao lado).
Selecionados por Margarida Nogueira,
eles são identificados com o caracol, símbolo internacional do movimento. Além
disso, o restaurante pretende promover mais debates como o de hoje.
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