|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
foco nela
Infertilidade não é motivo de vergonha
KÁTIA FERRAZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"A infertilidade, que atinge mais de uma entre dez pessoas em todo o mundo,
não deve ser motivo de vergonha ou embaraço. É uma doença como qualquer
outra, que pode e deve ser tratada com a
ajuda de um especialista." Essa tem sido,
há mais de uma década, a bandeira da
norte-americana Pamela Madsen, 41,
presidente da AIA (American Infertility
Association), que, junto com a Associação de Apoio Internacional aos Pacientes
Inférteis (ICSI), elegeu junho como o
Mês Internacional da Infertilidade. O slogan da campanha: Um Milhão de Bebês:
Hora de Quebrar o Silêncio.
Sob a coordenação de Pamela, estão
sendo realizadas palestras em vários países, inclusive no Brasil (leia mais abaixo),
para esclarecimento sobre tratamentos
de infertilidade. Ex-professora de uma
escola pública em NY (EUA) e formada
em psicologia, Pamela sempre alimentou
o sonho de ter filhos. Ainda muito jovem,
enfrentou a infertilidade. Teve duas
crianças por meio de fertilização in vitro
e hoje dedica a vida a ajudar pessoas com
o mesmo problema.
A AIA informa, orienta e também oferece suporte jurídico e psicológico a casais com os mais diferentes problemas de
saúde reprodutiva -de prevenção de
gravidez a adoção de crianças e os ainda
controversos métodos de reprodução assistida. "Infelizmente, algumas sociedades ainda recriminam tal prática, que é
adotada como usual pela medicina.
Quanto a mim, só tenho a agradecer à
ciência por me permitir formar uma família tão feliz e saudável", afirma. Leia a
entrevista abaixo.
Folha - Quando você decidiu trabalhar
com essa causa?
Pamela Madsen - Faz uns 15 anos. Resolvi dedicar minha vida a essas pessoas a
partir das minhas experiências pessoais
como paciente. Eu aprendi muito e vi que
muitos têm dificuldade para pedir ajuda.
Eu decidi ajudar sendo uma espécie de
porta-voz, dando informação e apoio.
Folha - Quais as principais dificuldades
que a senhora encontrou?
Pamela - Pagar o tratamento. Isso é
muito difícil para um casal jovem. Tanto
que trabalhei duro para conseguir o
apoio do governo. Na minha opinião,
ninguém pode ser impedido de constituir uma família simplesmente porque
não tem dinheiro.
Folha - Você contou aos seus filhos?
Pamela - Meus filhos sempre souberam,
e isso não faz nenhuma diferença para
eles, são crianças normais e felizes. Aliás,
nunca se deve esconder. A infertilidade é
uma doença que tem de ser tratada. Hoje,
mais de um milhão de crianças já foram
originadas pela fertilização in vitro, mas
ainda existem alguns choques de valores
culturais. Enquanto a medicina adota essa prática como usual, muitas sociedades
e também algumas religiões ainda lutam
contra a reprodução in vitro, assim como
outras formas de reprodução assistida.
Folha - E por quê?
Pamela - É justamente nesse ponto que
eu me concentro. É preciso conscientizar
as pessoas de que a infertilidade não é
uma maldição, mas uma doença como
qualquer outra, e que os pais devem procurar ajuda. As crianças geradas por um
método não-convencional são iguais a
quaisquer outras. Há 25 anos, não havia
esperança nem escolhas, hoje a tecnologia está a nosso favor.
Folha - Com relação à idade da mulher,
isso influencia em algo?
Pamela - Esse é um ponto muito importante, por isso ressalto a importância de
não ter vergonha em procurar ajuda. A
idade ideal, para garantir maior sucesso,
é até 35 anos. E mais: a infertilidade não é
um problema especificamente feminino;
35% dos casos estão relacionados ao sexo
masculino, e os testes para detectar a infertilidade masculina são muito mais rápidos.
Folha - Você tinha quantos anos quando
procurou ajuda?
Pamela - Era muito jovem, 24 anos.
Meu primeiro filho, eu tive aos 27 anos,
ele tem 13, e o caçula está com nove.
Folha - A que você atribui a recusa de
muitos casais em procurar ajuda?
Pamela - O fator vergonha, além do alto
custo do tratamento. Uma mulher não é
menos mulher nem um homem é menos
homem por ter problemas com infertilidade.
Folha - E o que as pessoas devem fazer?
Pamela - Não encarar a infertilidade sozinhas, há muito o que fazer. Devem procurar as associações disponíveis e apoio
médico e emocional. Os métodos estão
mais rápidos e seguros.
Folha - Como estão as pesquisas nessa
área?
Pamela - As técnicas estão cada vez
mais aprimoradas. Existem, além da fertilização in vitro e da inseminação propriamente dita, a chamada injeção introcitoplasmática de espermatozóides, bastante utilizada nos casos de infertilidade
masculina. Mas não podemos dizer que
um método é melhor do que o outro, cada caso tem de ser analisado individualmente.
Para informações sobre eventos: tel. 0/xx/11/3918-8997. Em SP, haverá uma palestra no dia 22/6, às 10h, no Hotel Estanplaza (avenida Jandira, 500, Moema). Site da AIA: www.americaninfertility.org
Texto Anterior: O que fazer pelo seu bem-estar mental Próximo Texto: Quem ela é Índice
|