São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

foco nela

Infertilidade não é motivo de vergonha

KÁTIA FERRAZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"A infertilidade, que atinge mais de uma entre dez pessoas em todo o mundo, não deve ser motivo de vergonha ou embaraço. É uma doença como qualquer outra, que pode e deve ser tratada com a ajuda de um especialista." Essa tem sido, há mais de uma década, a bandeira da norte-americana Pamela Madsen, 41, presidente da AIA (American Infertility Association), que, junto com a Associação de Apoio Internacional aos Pacientes Inférteis (ICSI), elegeu junho como o Mês Internacional da Infertilidade. O slogan da campanha: Um Milhão de Bebês: Hora de Quebrar o Silêncio.
Sob a coordenação de Pamela, estão sendo realizadas palestras em vários países, inclusive no Brasil (leia mais abaixo), para esclarecimento sobre tratamentos de infertilidade. Ex-professora de uma escola pública em NY (EUA) e formada em psicologia, Pamela sempre alimentou o sonho de ter filhos. Ainda muito jovem, enfrentou a infertilidade. Teve duas crianças por meio de fertilização in vitro e hoje dedica a vida a ajudar pessoas com o mesmo problema.
A AIA informa, orienta e também oferece suporte jurídico e psicológico a casais com os mais diferentes problemas de saúde reprodutiva -de prevenção de gravidez a adoção de crianças e os ainda controversos métodos de reprodução assistida. "Infelizmente, algumas sociedades ainda recriminam tal prática, que é adotada como usual pela medicina. Quanto a mim, só tenho a agradecer à ciência por me permitir formar uma família tão feliz e saudável", afirma. Leia a entrevista abaixo.

Folha - Quando você decidiu trabalhar com essa causa?
Pamela Madsen - Faz uns 15 anos. Resolvi dedicar minha vida a essas pessoas a partir das minhas experiências pessoais como paciente. Eu aprendi muito e vi que muitos têm dificuldade para pedir ajuda. Eu decidi ajudar sendo uma espécie de porta-voz, dando informação e apoio.

Folha - Quais as principais dificuldades que a senhora encontrou?
Pamela - Pagar o tratamento. Isso é muito difícil para um casal jovem. Tanto que trabalhei duro para conseguir o apoio do governo. Na minha opinião, ninguém pode ser impedido de constituir uma família simplesmente porque não tem dinheiro.

Folha - Você contou aos seus filhos?
Pamela - Meus filhos sempre souberam, e isso não faz nenhuma diferença para eles, são crianças normais e felizes. Aliás, nunca se deve esconder. A infertilidade é uma doença que tem de ser tratada. Hoje, mais de um milhão de crianças já foram originadas pela fertilização in vitro, mas ainda existem alguns choques de valores culturais. Enquanto a medicina adota essa prática como usual, muitas sociedades e também algumas religiões ainda lutam contra a reprodução in vitro, assim como outras formas de reprodução assistida.

Folha - E por quê?
Pamela - É justamente nesse ponto que eu me concentro. É preciso conscientizar as pessoas de que a infertilidade não é uma maldição, mas uma doença como qualquer outra, e que os pais devem procurar ajuda. As crianças geradas por um método não-convencional são iguais a quaisquer outras. Há 25 anos, não havia esperança nem escolhas, hoje a tecnologia está a nosso favor.

Folha - Com relação à idade da mulher, isso influencia em algo?
Pamela - Esse é um ponto muito importante, por isso ressalto a importância de não ter vergonha em procurar ajuda. A idade ideal, para garantir maior sucesso, é até 35 anos. E mais: a infertilidade não é um problema especificamente feminino; 35% dos casos estão relacionados ao sexo masculino, e os testes para detectar a infertilidade masculina são muito mais rápidos.

Folha - Você tinha quantos anos quando procurou ajuda?
Pamela - Era muito jovem, 24 anos. Meu primeiro filho, eu tive aos 27 anos, ele tem 13, e o caçula está com nove.

Folha - A que você atribui a recusa de muitos casais em procurar ajuda?
Pamela - O fator vergonha, além do alto custo do tratamento. Uma mulher não é menos mulher nem um homem é menos homem por ter problemas com infertilidade.

Folha - E o que as pessoas devem fazer?
Pamela - Não encarar a infertilidade sozinhas, há muito o que fazer. Devem procurar as associações disponíveis e apoio médico e emocional. Os métodos estão mais rápidos e seguros.

Folha - Como estão as pesquisas nessa área?
Pamela - As técnicas estão cada vez mais aprimoradas. Existem, além da fertilização in vitro e da inseminação propriamente dita, a chamada injeção introcitoplasmática de espermatozóides, bastante utilizada nos casos de infertilidade masculina. Mas não podemos dizer que um método é melhor do que o outro, cada caso tem de ser analisado individualmente.


Para informações sobre eventos: tel. 0/xx/11/3918-8997. Em SP, haverá uma palestra no dia 22/6, às 10h, no Hotel Estanplaza (avenida Jandira, 500, Moema). Site da AIA: www.americaninfertility.org


Texto Anterior: O que fazer pelo seu bem-estar mental
Próximo Texto: Quem ela é
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.