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Desligados, na verdade, ouvem mal
SIMONE PAULINO - FREE-LANCE PARA A FOLHA
Elas vivem pedindo para que os outros repitam o que falaram
e podem até passar a impressão de que seu sistema auditivo
não funciona bem. Frequentemente chamadas de desligadas,
pessoas com esse tipo de comportamento podem sofrer de um
problema que, nos meios científicos, é chamado de déficit de
processamento auditivo e de atenção.
"As pessoas simplesmente não
sabem mais ouvir com atenção, e
isso dificulta o processamento e o
armazenamento das informações", afirma a fonoaudióloga
Ana Maria Alvarez, do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo. Ela concluiu recentemente
uma pesquisa em que comparou
o desempenho de audição, memória e atenção de um grupo de
30 pessoas entre 20 anos e 40 anos
com outro de 20 pessoas acima
dos 60 anos.
Os testes mostraram que a capacidade de memorização auditiva pode começar a falhar cedo,
mesmo em indivíduos que ouvem bem. Em uma das avaliações,
cerca de 20% dos participantes
mais jovens foram incapazes de
gravar duas informações ditas ao
mesmo tempo em cada um dos
ouvidos. "A maioria só conseguiu
guardar trechos de cada informação recebida, o que já é um indício de baixo nível de memória auditiva", explica Alvarez.
De acordo com a pesquisadora,
o problema atinge pessoas cada
vez mais jovens, principalmente
por causa do estilo de vida atual.
"Basta observar os programas de
TV voltados para o público jovem. A maioria tenta mostrar tudo ao mesmo tempo, deixando o
espectador aturdido com o excesso de informações, sem conseguir
fixar a atenção em nada."
Existem várias técnicas simples
que ajudam os desligados a recuperar a capacidade de memorização. "Uma regra básica é organizar a entrada de dados na memória como se ela fosse uma biblioteca", ensina a fonoaudióloga. Para memorizar um número de telefone, por exemplo, a pessoa deve tentar visualizá-lo como se estivesse sendo escrito e guardado
em algum canto do cérebro.
A prevenção ao déficit de processamento auditivo e de atenção
deve começar na infância. Conversar com as crianças olhando-as nos olhos é uma forma de ensiná-las a focalizar a atenção. "É
preciso que as pessoas aprendam
que, para ouvir bem, é necessário
apurar também todos os outros
sentidos", afirma Alvarez.
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