São Paulo, quinta-feira, 20 de setembro de 2001
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Desligados, na verdade, ouvem mal

SIMONE PAULINO - FREE-LANCE PARA A FOLHA

Elas vivem pedindo para que os outros repitam o que falaram e podem até passar a impressão de que seu sistema auditivo não funciona bem. Frequentemente chamadas de desligadas, pessoas com esse tipo de comportamento podem sofrer de um problema que, nos meios científicos, é chamado de déficit de processamento auditivo e de atenção.
"As pessoas simplesmente não sabem mais ouvir com atenção, e isso dificulta o processamento e o armazenamento das informações", afirma a fonoaudióloga Ana Maria Alvarez, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ela concluiu recentemente uma pesquisa em que comparou o desempenho de audição, memória e atenção de um grupo de 30 pessoas entre 20 anos e 40 anos com outro de 20 pessoas acima dos 60 anos.
Os testes mostraram que a capacidade de memorização auditiva pode começar a falhar cedo, mesmo em indivíduos que ouvem bem. Em uma das avaliações, cerca de 20% dos participantes mais jovens foram incapazes de gravar duas informações ditas ao mesmo tempo em cada um dos ouvidos. "A maioria só conseguiu guardar trechos de cada informação recebida, o que já é um indício de baixo nível de memória auditiva", explica Alvarez.
De acordo com a pesquisadora, o problema atinge pessoas cada vez mais jovens, principalmente por causa do estilo de vida atual. "Basta observar os programas de TV voltados para o público jovem. A maioria tenta mostrar tudo ao mesmo tempo, deixando o espectador aturdido com o excesso de informações, sem conseguir fixar a atenção em nada."
Existem várias técnicas simples que ajudam os desligados a recuperar a capacidade de memorização. "Uma regra básica é organizar a entrada de dados na memória como se ela fosse uma biblioteca", ensina a fonoaudióloga. Para memorizar um número de telefone, por exemplo, a pessoa deve tentar visualizá-lo como se estivesse sendo escrito e guardado em algum canto do cérebro.
A prevenção ao déficit de processamento auditivo e de atenção deve começar na infância. Conversar com as crianças olhando-as nos olhos é uma forma de ensiná-las a focalizar a atenção. "É preciso que as pessoas aprendam que, para ouvir bem, é necessário apurar também todos os outros sentidos", afirma Alvarez.


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