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Como é a terapia
Os pais não entendiam, mas
Paula insistia em chateá-los.
Provocava-os o tempo todo:
corria quando eles pediam
para ela parar, falava quando
era para ficar quieta. Resolveram procurar ajuda psicológica. "Ela estava, na verdade, tentando provocar a
união entre os pais, que brigavam com frequência", diz
a terapeuta familiar Maria
Rita Seixas, coordenadora
do curso de terapia familiar
da Unifesp. "Enquanto brigavam com ela, eles estavam
unidos, compartilhando da
mesma opinião."
A conclusão veio à tona depois que a terapeuta usou a
técnica conhecida como sociodramatização familiar,
em que os participantes são
convidados a encenar situações. "Ela serve para que todos os integrantes percebam,
fisicamente, como estão as
relações familiares", diz a
psicóloga. "No caso, pedimos para ela imaginar os
pais como móveis e que os
distribuísse pela sala. Ela os
colocou lado a lado e pôs a
cabeça no meio. Na hora, a
mãe entendeu o recado."
A sociodramatização é um
dos instrumentos usados pelos terapeutas para levar os
participantes a identificarem
os problemas em suas relações. "O terapeuta não aponta os problemas. É a família
que descobre o que há de errado e as formas de melhorar
a relação", diz a terapeuta
Eliete Belfort Mattos. "Isso
só se consegue abrindo os canais de comunicação entre
os integrantes. Os terapeutas
são facilitadores do diálogo."
O processo sempre começa
com uma avaliação do caso.
A família diz ao terapeuta o
que considera o problema.
"É ele quem decide se o caso
é para terapia familiar, individual ou se nem é o caso de
terapia", diz Maldonado.
Durante o processo, o terapeuta tenta identificar
quais os comportamentos-padrão de cada membro da família, os conflitos
entre os membros, o papel de cada um naquele grupo
e como os desejos de cada um se manifestam, diz a
psicóloga Maria Angelina França.
Até a disposição física
das pessoas no consultório facilita essa análise:
quem senta perto de
quem, quem assume o lugar de liderança (a cadeira
mais alta, a poltrona mais
confortável).
Existem alguns problemas identificados nos casos de famílias em conflito
que são clássicos. Alguns
deles são o pai autoritário,
a mãe omissa e o filho problema, diz a psicóloga Angelina França. O filho problema, a "ovelha negra", é
chamado pelos terapeutas
de elemento emergente.
"É aquele que parece ser a
raiz de todos os problemas da família, o que detona os conflitos", diz
França.
E uma das tarefas da terapia familiar é mostrar
que o elemento emergente
não é "culpado" por tudo.
Aliás, que ninguém é culpado por nada. O que
existe são responsabilidades. "Não existe culpa
porque, na origem daquele comportamento, não
existe intenção de agredir
ou magoar", afirma França. A pessoa começa a agir
de determinada forma para se defender e, ao longo
do tempo, esse comportamento transforma-se em
um padrão.
A partir do momento
em que o terapeuta entende a dinâmica da família,
ele começa a interferir para "quebrar" os padrões
de comportamento, para
tirar o foco do elemento
emergente e, assim, mostrar que cada pessoa promove sentimentos nos
outros que não são conscientes e que cada um tem
seus defeitos e suas qualidades e não pode ser "crucificado" por isso, diz
França.
Assim, o terapeuta está
trabalhando em prol do
principal objetivo da terapia familiar de base psicanalítica, que é apontar os
conflitos existentes (ajudando a conviver melhor
com eles) e sensibilizar
aquelas pessoas a procurar ajuda individualmente, para resolver seus próprios conflitos.
De acordo com a necessidade, procura-se ouvir o
maior número possível de
integrantes que tenham
relação relevante com os
pacientes. Os pais do casal, por exemplo, costumam ser bastante chamados. "Eles, em geral, passam muito tempo presentes na criação e no desenvolvimento da família",
diz Maria Rita Seixas.
Está se tornando comum também as terapias
ultrapassarem os limites
do parentesco. "Na terapia em rede, cercamos
também todos os elementos externos que interferem no funcionamento do
núcleo. Professor, babá,
funcionária doméstica.
Dependendo do caso,
chamamos, com a autorização da família, todos para darem sua contribuição", afirma a terapeuta.
Mas não é função da terapia familiar "fuçar" os
aspectos mais íntimos de
cada um; isso só pode ser
feito em terapia individual, diz França. Portanto
a intimidade de cada
membro só será exposta à
medida que aquela pessoa
permitir e se afetar toda a
família.
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