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Dor nas costas inferniza a maioria da população
Grande parte das lombalgias pode ser prevenida com mudança de hábito, e os tratamentos estão mais eficazes e menos agressivos
KARINA KLINGER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Foi-se o tempo em que ter dor nas costas
significava estar fadado ao sofrimento.
Atualmente, o tratamento da lombalgia está
bastante eficaz. Além de poder recorrer aos
tradicionais analgésicos e antiinflamatórios,
quem sofre de dor lombar conta com opções
que incluem várias formas de fisioterapia e cirurgias pouco invasivas.
O esforço da medicina em aperfeiçoar as soluções para a lombalgia e preveni-la justifica-se pela grande incidência do problema que, felizmente, não é fatal, mas compromete bastante o cotidiano de quem convive com ele.
Estima-se que 80% da população mundial sofra de dor nas costas. No Brasil, a lombalgia é
considerada a segunda causa de afastamento
temporário do trabalho.
A dor na coluna é classificada de duas formas. A aguda dura menos de três meses, a crônica ultrapassa esse período. Vale lembrar que
não são os ossos que doem, mas as estruturas
que fazem parte da coluna (disco intervertebral, vértebras, tendões, ligamentos, músculos
e raízes nervosas).
Cura espontânea
Em metade dos casos,
as dores são causadas por problemas mecânicos decorrentes de postura inadequada, exercícios físicos muito puxados ou movimentos
desajeitados. "Nada que um analgésico, um
antiinflamatório ou uma mudança de hábito
não resolvam. Aliás, esse tipo de dor costuma
ser benigna e desaparecer espontaneamente
após seis semanas", afirma o reumatologista
Jamil Natour, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Embora a lombalgia possa ser sintoma de
um problema mais sério, como fratura, infecção e até câncer, isso é raro. "Exceto aqueles
pacientes que apresentam dor na coluna associada a febre, queda feia, osteoporose ou tumor de mama, a maioria reclama de dor porque abusa", afirma o reumatologista José Goldenberg, autor do recém-lançado "Coluna -
Ponto e Vírgula" (editora Atheneu).
As recomendações para manter um coração
saudável valem também para a coluna. O
exercício físico regular, por exemplo, fortalece
os músculos que a sustentam. "Com os músculos flácidos, a coluna fica instável e a dor é
mais provável", afirma o ortopedista Rubens
Rodrigues, do Hospital Oswaldo Cruz (SP).
As atividades físicas também contribuem
para retardar a degeneração óssea decorrente
do envelhecimento, que é um fator de risco
para lombalgias. O desgaste dos ossos começa
cedo, por volta dos 30 anos. "A coluna é composta de 33 vértebras, intercaladas por estruturas gelatinosas, os discos intervertebrais,
que amortecem o atrito entre elas. Com o tempo, esses discos perdem água e tornam-se
mais finos, deixando que as vértebras se aproximem umas das outras, e a dor é inevitável",
explica Rodrigues.
Segundo o neurocirurgião especializado em
cirurgia de coluna Luiz Henrique Mattos Pimenta, vice-presidente da World Spine Society, é justamente por isso que os exercícios
para fortalecer a musculatura do abdômen,
dos ombros e das costas são importantes. "A
postura melhora e a pessoa tem um desgaste
menor na coluna", afirma o especialista.
Inimigos da coluna
Para Anamaria Jones
Martinez, fisioterapeuta da Unifesp, é preciso
se conscientizar de que a coluna é uma grande
articulação e que qualquer movimento pode
comprometê-la. "As pessoas usam a coluna
como alavanca e esquecem que isso afeta as
estruturas moles, ou seja, os discos, os músculos e os ligamentos", explica o reumatologista
José Knoplech, autor do livro "Viva Bem com
a Coluna que Você Tem" (editora Ibrasa).
Além do sedentarismo, da postura e da movimentação incorreta, há outros fatores que
prejudicam a coluna. A obesidade é um desses
vilões. Segundo Goldenberg, dez quilos a mais
aumentam em 25% o risco de dor nas costas.
O tabagismo é outro inimigo. Os fumantes sofrem mais freqüentemente de lombalgia porque inalam substâncias tóxicas que afetam a
circulação sangüínea nos discos intervertebrais. Além disso, a nicotina enfraquece os ossos, elevando o risco de osteoporose.
Por trás da dor
Houve avanços importantes no tratamento da lombalgia, mas o diagnóstico desse problema tão comum permanece complexo. "Além de um bom exame clínico, o médico deve ouvir as queixas do paciente. Não é possível basear-se apenas nos exames de radiografia ou ressonância magnética.
Eles podem mostrar algum problema anatômico que nem sempre é o principal responsável pela dor", diz Goldenberg.
De acordo com o ortopedista Helton Delfino, presidente da Sociedade Brasileira de Coluna, ainda há causas desconhecidas para a
lombalgia. Algumas pessoas, por exemplo,
apresentam uma maior fragilidade dos discos
intervertebrais sem que se saiba o motivo.
"Pode até ser que exista um componente genético", afirma Pimenta.
O desconhecimento da origem da dor pode
atrapalhar o tratamento. Foi o que aconteceu
com a instrumentadora e estudante de fisioterapia Carla Roberta de Carvalho, 25, que mora
em Petrópolis (RJ). Ela começou a sentir dores
na coluna após uma queda, aos 16 anos. Os
exames indicaram hérnia de disco. "Cheguei a
fazer duas cirurgias para corrigir a hérnia, mas
a dor continuava insuportável."
Após algum tempo, os médicos descobriram que o problema de Carla é uma degeneração precoce do disco intervertebral. "Hoje,
uso próteses em quatro discos e não sinto
mais dor", conta a estudante.
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