São Paulo, quinta-feira, 22 de dezembro de 2005
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saúde Crescem os casos de apinhamento dentário, deslocamento que deixa os dentes tortos e que pode surgir também com o envelhecimento Dentes em movimento
CAROLINA COSTA DA REPORTAGEM LOCAL
Quando acontece um tsunami ou um terremoto, lembramos que não vivemos em solo firme -sob nossos pés estão placas tectônicas, em constante movimento. Com os dentes é a
mesma coisa: quando eles começam a ficar tortos é que as pessoas se dão conta de que
sim, eles também se movem. Conhecido como apinhamento dentário, esse é um dos motivos mais comuns de queixas em consultórios odontológicos. Estima-se que três em cada dez pessoas tenham apinhamento, que é causado por vários fatores, como mistura de etnias, respiração oral,
fala errada, arcada dentária pequena para o tamanho dos dentes, traumas na face, uso freqüente de
cachimbo ou de instrumentos de sopro. E atenção, ansiosos: hábitos como o de roer unhas ou morder
ponta de caneta e lápis também podem agravar o problema.
"Mastigar é importante para o rosto crescer", concorda Faltin. "Nos bebês com um ano e meio, a sopinha é um verdadeiro entrave para o desenvolvimento. A criança cresce com preguiça de mastigar", completa. De acordo com Barbosa, o apinhamento tem acontecido com mais freqüência também porque as pessoas estão mais tensas: "Alterações comportamentais, como bruxismo [ranger os dentes] ou estresse, geram mais casos". Foi o que aconteceu com a paisagista Tânia Kehyayan, 59, que sempre teve um sorriso alinhado. Com três filhos e cinco netos, em 2004 ela perdeu a mãe, mudou de casa e teve o marido e uma tia hospitalizados. "Por fora, aparentava serenidade, mas, na verdade, descontava toda a tensão nos dentes", conta ela. Especialista em reabilitação oral, o marido de Tânia, Jean, deu início ao tratamento. Para proteger os dentes do bruxismo, ela passou a usar uma placa de silicone para dormir. Depois, o tratamento foi continuado por outro profissional e incluiu o uso de aparelho fixo e um alinhador transparente, que ela usa até hoje para fazer a contenção e evitar que os dentes saiam da posição correta. TRATAMENTO Há três saídas para quem tem apinhamento dentário. A primeira delas é o desgaste dos dentes, solução indicada nos casos de problema pouco acentuado. A outra, mais radical, é a extração de um ou mais dentes. Nesse caso, vale lembrar que nem sempre o terceiro molar, o dente de siso, é o culpado. "O siso é um coadjuvante", argumenta Faltin. Segundo ele, se os dentes estão bem posicionados, dificilmente o terceiro molar consegue provocar apinhamentos. Para ilustrar, ele cita estudos feitos na Europa: durante o processo de formação da raiz, se o terceiro molar estiver mal posicionado, com uma inclinação maior do que 20 graus, sua força pode atingir 60 gramas, pressão suficiente para provocar apinhamentos. Depois que a raiz do siso está formada, no entanto, o dente não dá mais problema. "Se o siso não estiver em má posição, não tem nada que tirar", conclui Faltin. Resolvida a questão do espaço, é preciso alinhar os dentes com um alinhador ou um aparelho, que pode ser fixo ou móvel. Em alguns casos, como aconteceu com Tânia, é necessário usar uma contenção, para evitar que os dentes voltem a se mover. Dois a quatro milímetros de apinhamento é o limite que os especialistas propõem entre desgastar o dente com uma lixa ou removê-lo. Apinhamentos maiores do que oito milímetros não são comuns. A terceira saída? Não fazer nada. Antes de correr a um consultório em busca do sorriso perfeito, vale se questionar até que ponto isso não é só mais uma marca do envelhecimento. Afinal, como diz Paschoarelli, "ninguém morre porque o dente está torto". Texto Anterior: Molho de groselha para peru assado Próximo Texto: Desatando nós Índice |
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