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Pesquisadores estão testando se a crenoterapia é eficaz em casos de artrite e hipertensão; lama negra de Peruíbe deve ser analisada por cubanos
Terapia com água mineral auxilia tratamento médico
Divulgação
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Sequência de duchas quentes da Pousada do Rio Quente, em Goiás |
ANTONIO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
A estudante de hotelaria Ana Paula de Paiva Lopes, 27, não tinha passado pela pia batismal quando sua mãe a banhou nas
águas minerais de Águas de Lindóia, estância hidromineral paulista localizada a 170 km da capital. Ela passou os três primeiros
meses de vida recebendo os benefícios da crenoterapia.
Essa terapia faz parte do chamado termalismo, que estuda todas as maneiras
de utilizar a água como recurso terapêutico. A crenoterapia consiste no uso de
águas minerais com propriedades consideradas medicamentosas e que podem
ser utilizadas para complementar o tratamento de vários problemas de saúde.
Lopes mora há cinco anos no exterior
mas, sempre que pode, volta ao Brasil para buscar o "equilíbrio" nas águas que
brotam nas diversas estâncias hidrominerais do país. "Nos lugares onde morei
não há nada parecido. Venho aqui e revigoro minha saúde", diz ela, que acaba de
passar uma semana em Águas de São Pedro (190 km a noroeste de São Paulo).
Como ela, milhares de pessoas procuram inalar o vapor, beber a água ou mergulhar em uma das centenas de fontes do
país. E se engana quem pensa que só é
possível imergir nesse universo terapêutico em alguns poucos locais especiais.
Existem fontes de água mineral nas cinco
regiões brasileiras, principalmente no
Sudeste e no Sul.
Mas, apesar de reumatologistas, fisioterapeutas e geriatras, entre outro profissionais da área médica, estarem envolvidos com a crenoterapia e apesar de as pessoas relatarem melhoras significativas (principalmente com relação a problemas reumáticos, dermatológicos, respiratórios e ortopédicos), faltam estudos que comprovem os benefícios da crenoterapia. Por isso ela ainda é vista com ceticismo pela comunidade científica.
Haja calor
Em Presidente Epitáfio, no
interior de São Paulo (655 km a oeste da
capital), a temperatura da água chega a
76C, segundo a engenheira química
Sonja Dumas, do Departamento Nacional de Produção Mineral, vinculado ao
Ministério de Minas e Energia. Esse tipo
de fonte é chamado de hipertermal (sua
temperatura excede os 36,5C). Há ainda
as fontes mesotermais (de 33C a 36C) e
as hipotermais (até cerca de 27C).
De acordo com Emília Sato, reumatologista da Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo), águas quentes são ótimas
para quem tem lombalgia, contraturas
musculares e inflamações articulares.
"Mas não há estudos que comprovem
que os elementos minerais dessas águas
atuem no organismo das pessoas."
"Com o avanço dos remédios, a crenoterapia caiu em descrédito. Contudo, observamos o quanto os pacientes são beneficiados com seu uso", diz a fisioterapeuta Terêsa Cristina Alvisi. Ela é professora de termalismo no curso de fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica
(PUC) de Poços de Caldas, em Minas Gerais, e coordena projetos que visam comprovar cientificamente a eficácia da crenoterapia.
No ano passado, as cerca de 3.500 pessoas que foram atendidas na clínica de fisioterapia da PUC de Poços fizeram tratamentos baseados exclusivamente em
banhos com águas minerais dos balneários da região. Segundo Alvisi, todos esses pacientes afirmaram que os banhos
surtiram o efeito desejado.
Em outro trabalho, 12 pessoas (mulheres e homens hipertensos com mais de 50
anos) foram divididas em dois grupos. O
primeiro fez banhos de imersão em água
sulfurosa por dez dias; o segundo foi tratado apenas com os medicamentos tradicionais. Os que tomaram os banhos
mantiveram a pressão arterial estável; os
que não tomaram tiveram picos de hipertensão, segundo Alvisi.
A fisioterapeuta selecionou outros 80
hipertensos para participar de uma pesquisa que será iniciada no próximo mês.
Alvisi também acompanhou a evolução
de 18 pacientes com artrite reumatóide
que, graças à crenoterapia, "passaram a
apresentar crises menos frequentes".
Mas não só médicos que estudam a crenoterapia indicam-na a seus pacientes.
Segundo a fisioterapeuta Hérica Rodrigues, chefe do balneário do Grande Hotel
São Pedro, 10% dos visitantes vão para lá
com prescrição médica.
Nivaldo Antonio Parizotto, fisioterapeuta e professor de hidrologia (disciplina que engloba a crenoterapia) da Universidade Federal de São Carlos (UfsCar), diz que, na Itália, há empresas que
custeiam a ida dos funcionários a estâncias hidrominerais uma vez por ano. Em
Cuba, de acordo com o reumatologista
Marcos Untura Filho, do Instituto de Medicina Termal, em Poços de Caldas,
sprays de água radioativa são distribuídos gratuitamente a pessoas asmáticas.
"Com o potencial hidromineral que o
Brasil possui, poderíamos estar muito
mais avançados nos estudos da crenoterapia", diz Parizotto. Nesse sentido, Peruíbe, no litoral Sul de São Paulo, parece
estar dando passos significativos, ao pesquisar as propriedades crenológicas da
lama negra.
Melhora evidente
Controvérsias e carência de estudos à parte, quem se vale
da crenoterapia só faz elogios às águas
minerais. A gerente de marketing Cristina Passos, 44, desde 93 frequenta com a
família um balneário em Santa Catarina.
"Tenho as unhas quebradiças; quando
vou para lá, elas ficam muito fortes. E
meu intestino funciona que é uma beleza!", diz. Seu marido, o empresário Marcos Passos, 46, conta que uma vez torceu
o tornozelo e recuperou-se em dois dias
com a ajuda dos banhos.
A gerente financeira Sandra Vetroni,
46, vai a uma estância em Goiás desde 92.
"Já fechei pacotes para os próximos três
anos", conta ela, para quem as duchas
"fazem um bem enorme ao nervo ciático". Sua filha, Juliana Ribeiro Vetroni, 21,
tinha 11 anos quando a família começou a
ir para lá. Quando seus amigos brincam,
dizendo que o lugar "só tem velhos", ela
responde prontamente: "Vocês estão enganados, há muitos jovens também". Ela
diz que seu cabelo fica mais bonito e sua
pele, mais macia. "Aproveito também
para pegar um bronzeado", conta ela,
que, no final da tarde, gosta de sentar na
piscina mais quente da estância e beber
uma taça de vinho.
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