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DRIBLE A NEURA
Medo atrapalha tratamento no dentista
Marcelo Barabani/Folha Imagem
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A dentista Eliana Amarante acalma paciente com sedação consciente |
VINICIUS CARRASCO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Tremedeira, coração disparado, respiração ofegante, choro e até desmaios. Reações desagradáveis como essas são partilhadas pelas pessoas que sentem medo de dentistas. E não são poucas: estudos
científicos indicam que a odontofobia atinge de 15% a
20% da população. O problema é tão sério que merecerá atenção especial no 21º Congresso Internacional de Odontologia de São
Paulo, que será realizado na próxima semana. Durante o evento, serão feitos
workshops sobre a sedação consciente inalatória e a hipnose, técnicas que têm
auxiliado pacientes que suam frio quando vão ao dentista (leia mais na pág. 5).
"O dentista trabalha com medo, fobia, estresse e dor", afirma José Ranali, professor da Faculdade de Odontologia da Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas), campus de Piracicaba. "Temos que lidar com isso, ajudando a controlar a ansiedade do paciente", diz ele, que ensina a sedação consciente.
A recepcionista Louise de Camargo Pereira, 22, enquadra-se nas estatísticas
científicas. "Quando entro no consultório, começo a suar frio. Só de pensar no
barulho do "motorzinho", eu me arrepio!"
O ruído dos equipamentos incomoda pessoas de todas as faixas etárias. A
odontopediatra Cláudia Marassi está confirmando essa tese na prática. Desde
outubro do ano passado, ela tem usado um dispositivo especial, chamado diamante CVD (Chemical Vapor Deposition). Ele funciona da mesma forma que as brocas convencionais, mas é mais fácil de manusear (o que acelera o tratamento), não aquece tanto o dente e é mais silencioso. "Os pacientes se sentem mais
seguros por não ouvir tanto barulho." De acordo com o psicólogo Antonio
Carlos Amador Pereira, professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica)
de São Paulo, é comum que as pessoas associem o som produzido pelo aparelho
ou a cadeira do profissional à dor. A estudante Karina Pólido, 23, reconhece que é isso que acontece com ela. "Temo tudo
que associo à dor", afirma. "Já cheguei a
desmarcar consulta por causa disso."
Segundo Pereira, o medo de situações
como uma consulta no dentista, um exame mais demorado ou uma cirurgia,
mesmo simples, pode ser decorrente do
fato de que, na sociedade contemporânea
ocidental, as pessoas são treinadas para
buscar o prazer e evitar a dor. "Até a Idade Média, por exemplo, as pessoas arrancavam dente a seco e eram obrigadas a
conviver com isso, pois não havia opção", afirma o psicólogo.
Experiências negativas
O medo também pode ter raízes no passado.
"Muitas vezes, o paciente torna-se odontofóbico porque vivenciou dor ou teve alguma experiência negativa com dentistas
na infância", afirma a odontopediatra
Eliana Amarante. Foi o que aconteceu
com a professora Sônia Maria de Carvalho Pinto, 32.
"Acho que meu medo começou quando era pequena e fui a alguns dentistas
ruins que fizeram o tratamento de qualquer jeito; até desmaiei por causa do medo de sentir dor", lembra. Já adulta, ela
passou por outra experiência ruim: mesmo depois de seis doses, o anestésico não
surtiu efeito, e ela foi obrigada a tratar um
canal sem estar anestesiada. O medo até
provoca insônia. Neste mês, ela teve de
extrair dois pré-molares para usar aparelho ortodôntico. "Fiquei sem dormir três
noites, tomando chá para tentar me acalmar", diz a professora.
Da mesma forma que as experiências
negativas atrapalham, as bem-sucedidas
ajudam a eliminar ou, pelo menos, reduzir o temor. É o caso de Pedro Basile Lindenberg, 10. Segundo sua mãe, a personal
trainer Cássia Maria Amajones, 39, ele
chorava muito e tinha de ser segurado
quando precisava tomar anestesia. Recentemente, o garoto precisou extrair
quatro dentes e, durante o procedimento, foi submetido à sedação consciente
inalatória. "Com essa técnica, ele não
sentiu dor e, como tudo foi explicado de
forma detalhada pela dentista, ele ficou
mais confiante", diz a mãe. Pedro parece
ter superado o problema. "Ele precisou
fazer uma obturação depois das extrações e nem tomou anestesia."
A sensação do desconhecido -que, no
caso de Pedro, foi solucionada pelas explicações da dentista- também pode gerar medo, explica o psicólogo Antonio
Pereira. Além de não entender exatamente como será feito o tratamento, o
paciente pode ainda se sentir impotente.
"Quando está na cadeira do dentista, a
pessoa não está controlando a situação",
afirma o psicólogo.
O psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Amban (Ambulatório de Ansiedade), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC), aconselha a pessoa a tentar se habituar gradativamente à
situação, levando um amigo ao dentista e
acompanhando sua consulta, por exemplo (leia mais dicas na pág. 5). "Assim, o
que antes causava terror passa a causar
tédio, e as reações de ansiedade vão se
consumindo."
O temor também pode ser "transmitido" de pai para filho. "Metade das crianças sentem medo de dentista quando os
pais também o sentem", afirma Cláudia
Marassi. Isso pode acontecer quando o
pai conta uma experiência dolorosa para
a criança. A cirurgiã-dentista cita outra
atitude dos pais que pode gerar temor: fazer ameaças, convertendo o próprio dentista, a anestesia ou a injeção em castigo
quando a criança faz alguma travessura.
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