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s.o.s. família - rosely sayão
Como pais e alunos podem melhorar o ensino superior
Os pais até já estão acostumados: ter filhos
na escola supõe alguns compromissos.
Alguns desses compromissos são as reuniões
que a escola promove, principalmente no
princípio e no final de cada ano letivo. O conteúdo e a maneira de essas reuniões serem conduzidas pelos profissionais da escola são o
que confere -ou não- um valor importante
à parceria família e escola na educação. Mas,
quando os filhos estão cursando faculdade ou
quase lá, ser chamado para reunião na escola
é, no mínimo, vergonhoso e comprometedor.
Para os filhos e para a educação.
Foi meio por acaso que soube que uma escola de terceiro grau estava adotando a prática
de chamar os pais de seus alunos dos anos iniciais para reuniões. Confesso que fiquei muito
surpresa e perplexa com o fato, mas não fiz
mais indagações nem reflexões porque achei
que fosse um caso isolado. Acontece que, pouco tempo depois, soube que vários cursinhos
pré-vestibulares faziam o mesmo. Aí já passei
a achar que não se tratava de um caso ou outro. Saí averiguando e -pasme!- constatei
que se trata de prática quase comum. Isso merece uma boa conversa.
Qual é mesmo o objetivo da educação, tanto
familiar quanto escolar? Introduzir as crianças
e os adolescentes no mundo para que, assim,
possam construir seu próprio modo de viver.
Desse modo, quem educa precisa sempre supor a chegada da maturidade, da possibilidade de o jovem viver por conta própria.
A educação como preparação, ou seja, como
tutela para a inserção no mundo para quem
ainda não tem recursos e autonomia para viver por si precisa ter um fim. Não é possível
determinar quando esse fim chega, mas, seguramente, retardá-lo significa apostar na dependência, no controle e, portanto, na falta de
liberdade.
Quando pais e professores universitários
acreditam que precisam reunir-se para conversar sobre qualquer coisa que seja da vida
escolar dos jovens -e esse talvez seja apenas
um dos sinais de que o ensino superior está
confuso-, é porque consideram seus alunos
e filhos incapazes de assumir suas responsabilidades, de fazer suas escolhas e de se comprometerem com elas, de arcar com os ônus e os
bônus de sua juventude, de se relacionarem
sem intermediários com a vida, que é deles.
Pais e professores universitários se agarram ao
palco da vida, quando deveriam estar é nas coxias. Esses jovens não sabem, mas eles estão
sendo desalojados de seu lugar na vida.
Tenho recebido várias cartas e e-mails de
alunos universitários que reclamam do ensino
na faculdade e do relacionamento que os professores têm com eles. Uma delas, em especial,
me chamou a atenção. Trata-se de um jovem
que se diz filho dessas "escolas-clube", referência à coluna publicada em 4/9.
Ele questiona o papel da faculdade. Não concorda com a visão de um conhecimento voltado apenas ao mercado de trabalho nem com a
falta de compromisso dos professores com a
formação de seus alunos. Ele gostaria que a faculdade fosse um centro de renovação do conhecimento, com professores que, além de especialistas em sua área, soubessem comunicar
o que sabem. Outros acrescentam que não
gostam de ser tratados nem como adolescentes nem como iguais ao professor. Bem, se o
papel da escola de ensino fundamental e médio não se ajusta à sua prática, o da faculdade
também não.
As famílias podem ajudar a melhorar a escola que ministra o ensino universitário, sim,
mas de outras maneiras. Em primeiro lugar,
conversando com o filho sobre o que acontece
por lá, estimulando-o a ser crítico e participativo em relação à formação que recebe e encorajando-o a arcar com seus estudos -ou com
a falta dele. Em segundo, ignorando os convites para comparecer a reuniões, ou melhor, repassando o convite ao filho. Não seria maravilhoso a faculdade encontrar seus próprios alunos no dia da reunião de pais? Seria lindo, já
que é com os alunos que a faculdade deve
exercer o seu ofício.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha);
e-mail: roselys@uol.com.br
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