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São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2003
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outras idéias - Thereza Soares Pagani ("Therezita")

Nesse horário, todo ser humano gosta de companhia. É um ato social, e não solitário. Porém, longe da televisão, para que o contato seja visceral

Eu comigo. Eu mais eu. Eu só eu

Hora da alegria e do prazer de crianças, desespero e frustração de mães e babás, que não entendem o porquê de os pequenos não aceitarem que lhes continuem dando, como antes, as refeições. Eles, normalmente, já desejam autonomia, querem imitar os adultos e sentem-se muito gente. Ótimo momento para verificarmos suas novas aptidões.
A partir de um ano, dê comida normal: frango, peixe, bife, saladas cruas com molho suave e grãos (feijão de todos os tipos, ervilha, lentilha, soja, grão-de-bico, arroz integral ou branco) enriquecidos com legumes e refogados com cebola, alho e um bom óleo. Pouco sal, mas com muito cheiro, que arome todo o ambiente e desperte o apetite e a curiosidade do "Que cheiro bom! O que você está fazendo? O que vamos comer hoje?". Se possível, leve a criança a ajudar nesse preparo. Ela fica muito satisfeita e, nesse momento, você vai conversando sobre as necessidades do nosso organismo como um todo, da comida na boca aos excrementos, o que ajuda a desenvolver uma boa relação com os alimentos.
Comer com as mãos, brincar e sentir -com o tato, com o olfato e com o paladar- a "melecagem" desse momento deve ser partilhado e permitido pelo adulto para que a fase da pesquisa e da exploração do que vai ser ingerido passe previamente por todo o seu ser. Colher, guardanapo, limpeza de boca e rosto depois de acabada a "pasticcia" -tudo isso com uma pitada de bom senso e segurança para a criança.
Nesse horário, todo ser humano gosta de companhia. É um ato social, e não solitário. Porém, longe da televisão, para que o contato seja visceral. Não vamos torná-los uma pista de aeroporto, com aviões decolando e aterrisando, nem autódromo. Podemos contar histórias de animais que procuram alimentos e comem vegetais que crescem, de frutas da época etc.
Momentos preciosos para observar a mastigação e suas possíveis dificuldades: comida numa bochecha, falta de movimentos alternados da língua, dificuldade de engolir, apreensão dos lábios à colher. Dar alimentos mais duros para promover os exercícios naturais e indispensáveis para um saudável preparo para a digestão. Estimulamos, assim, a criança curiosa e alegre a experimentar de tudo, mesmo tendo as suas preferências.
Não falei dos doces, e sim das frutas e dos sucos, com a sua frutose própria, que dão ao organismo tudo de que ele precisa. Um bom bolo, geléia e mel fazem parte dessa saudável alimentação.
Aproveitando o gancho dos doces, o primeiro aniversário: deve ser para adultos ou crianças da mesma idade? Em salão de festa ou em um lugar adequado para esse primeiro evento? Que a mesa seja da altura do aniversariante, com legumes, frutas e verduras como alface. Tudo muito colorido e, caprichosamente, acompanhado de molho suave (à parte): maçã picadinha, caldo de laranja, caldo de limão, água, azeite e salsinha, cebola e alho picados minuciosamente. Fica irresistível aos olhos e ao paladar. As crianças imitam os adultos, que também não aguentam e começam a beliscar.
Mesa do bolo: pode ter outra altura e, mantido o bom gosto, ser arrumada com brinquedos da criança. Brigadeiros? Que bom! Um para cada um; no máximo, dois. Salgadinhos fritos e "chips" comprados, nem pensar. Para que sobrecarregar o organismo com tamanha "bobajada"? Somos nós, adultos, que temos de ficar atentos ao que introduzimos como bons hábitos, em vez de passarmos a semana dizendo que a criança não está está bem porque comeu "porcarias" na festa.
O que comentar da agressão dos decibéis aos ouvidos produzida pelos animadores -teatro, músicas e palhaços que querem mostrar serviço e não entendem nada do desenvolvimento das idades? Continuo dizendo: não sou contra, mas vamos fazer festa para as crianças, e não para divertir os acompanhantes adultos.
A criança em atividade gosta de suco e de água, o que não falta ainda no nosso planeta, porém os adultos preferem refrigerantes, e lá vamos nós introduzindo o consumismo em nossos seres "esponjas" do modelo adulto. Isso tudo para não nos esquecermos de comentar as chupetas molhadas no copo de cerveja etc. etc. do pai que, insanamente, sai mostrando aos amigos como a "Sua Majestade", o bebê, gostou e gosta da bebida.
Festa é convívio, harmonia, celebração e bom senso.
Muita, muita alegria e paz!


Thereza Soares Pagani ("Therezita") é educadora e diretora da Tearte, escola de educação infantil; e-mail: tepagani@uol.com.br


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