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Olhos exigem cuidados em todas as idades
Acompanhamento oftalmológico evita que doenças se agravem e resultem em cegueira, problema que afeta 50 milhões no mundo
CIÇA GUEDES - FREE-LANCE PARA A FOLHA
A pesar de avanços na ciência terem possibilitado
ao homem chegar aos 120 anos, a visão não está
preparada para durar mais do que 40 anos. Por isso o
envelhecimento da população e o consequente aumento das doenças que surgem na maturidade e provocam cegueira preocupam os oftalmologistas. A degeneração senil de mácula, principal causa de perda
de visão na população acima de 50 anos, é a doença
que mais assusta. No Brasil, 2,9 milhões de pessoas
acima de 65 anos sofrem desse mal, segundo estimativas do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia). E,
a cada ano, surgem 100 mil novos casos.
Os principais fatores de risco
são: idade, sexo (as mulheres são
mais afetadas), hereditariedade
(de 10% a 20% dos doentes têm
antecedentes familiares), pigmentação (indivíduos brancos,
de olhos claros), tabagismo e hipertensão arterial. A doença também atinge jovens, mas isso é raro. No Brasil, estima-se que 18 mil
menores de 14 anos sofram de degeneração macular juvenil.
O principal sintoma é a dificuldade para enxergar na execução
de tarefas rotineiras, como ler, dirigir e até reconhecer pessoas.
"Quem tem manchas senis no
dorso das mãos deve redobrar a
atenção porque a degeneração se
caracteriza pelo aparecimento
dessas manchas na retina", adverte o oftalmologista Marcos Ávilla,
presidente do CBO.
Com a progressão da doença, as
imagens ficam distorcidas.
"Quando o problema é diagnosticado, o paciente é orientado a
checar diariamente se a visão está
distorcida. Ele deve tapar um olho
de cada vez e observar uma linha
reta que seja familiar, como a
moldura de um quadro. Se ela
apresentar curvas, é sinal de que a
degeneração atingiu a segunda fase", ensina Ávilla.
É essa outra etapa da doença
que leva à cegueira. Em vez de
cumprir a missão de irrigar as
áreas danificadas e auxiliar na cicatrização, os vasos sanguíneos
que aparecem nos olhos crescem,
sangram e formam placas fibróticas na retina. "A terapia mais eficaz para a remoção das manchas
é a fotodinâmica, que já está em
fase final de testes nos EUA", diz
Ávilla. Ela usa laser de baixa potência para eliminar as manchas,
depois de o médico injetar um
pigmento que tinge apenas a
membrana atingida. "Antes, mesmo as áreas da retina que não tinham manchas acabavam sendo
queimadas", explica. O desafio,
agora, é baratear o tratamento,
pois a droga usada para a pigmentação seletiva é muito cara.
A prevenção da degeneração
macular inclui o uso de óculos escuros, por causa da grande incidência de raios ultravioleta em
países tropicais. Também é importante ter alimentação balanceada e evitar coçar os olhos, hábito que provoca microrrupturas
que podem causar sangramentos
e agravar doenças oculares.
Depois da degeneração macular, as três maiores causas de cegueira em adultos são diabetes,
glaucoma e catarata. Metade dos
13 milhões de brasileiros que sofrem de diabetes tem risco de desenvolver retinopatia diabética,
alteração dos vasos da retina que
provoca hemorragias, descolamento da retina e cegueira irreversível. "Os pacientes que têm
diabetes há mais tempo são os
mais propensos às complicações
oculares. Praticamente todos os
diabéticos há mais de 20 anos têm
retinopatia", afirma o oftalmologista Carlos Moreira Júnior, da
Universidade Federal do Paraná e
consultor do projeto norte-americano Diabetes 2000. Já o glaucoma, terceira maior causa de cegueira no Brasil, atinge 7% da população acima de 70 anos. Hereditariedade é o principal fator de
risco: parentes em primeiro grau
de portadores têm dez vezes mais
chances de desenvolver a doença.
Embora existam 50 milhões de
cegos no mundo, 60% dos casos
poderiam ser evitados, segundo o
CBO. Quanto mais cedo for diagnosticado o problema, maiores as
chances de cura. Tanto é que, enquanto 0,3% dos habitantes de países ricos e com bons serviços de
saúde ficam cegos, nas regiões pobres, a prevalência de cegueira chega a 1,2% da população.
"No Brasil, a maior parte das pessoas só procura o oftalmologista
por volta dos 40 anos, quando surgem sinais de vista cansada, e pode
ser tarde demais para solucionar
problemas graves", afirma Ávilla.
Apesar de nunca ter visto o mundo com nitidez, o vendedor Désio
da Silva, 43, só foi ao oftalmologista
aos 15 anos. Desde criança, Silva,
que mora em São Fidélis (norte do
Rio), só conseguia ler com lentes de
aumento e muita iluminação. Aos
15, descobriu ser portador de catarata congênita, mas não entendeu a
gravidade da doença. "O médico
disse que eu tinha opacificação do
cristalino. Eu não compreendi que
era catarata e que iria se agravar
tanto. Hoje, se saio do sol para a
sombra, não enxergo nada. Tudo
me cansa, até ler jornal e ver TV."
A desinformação é um dos maiores entraves à boa visão do brasileiro. "Mesmo quem tem um padrão
de vida elevado tem pouca informação a respeito do que deve fazer
para manter a visão boa até o fim
da vida", diz Moreira Júnior.
Campanha
De 30 a 31 de maio,
oftalmologistas de todo o Brasil estarão em Brasília para participar do
1º Fórum Nacional de Saúde Ocular. O CBO propôs a realização do
evento à Comissão de Assuntos Sociais do Senado para incentivar as
autoridades a desenvolver políticas
de saúde pública na área da oftalmologia. Atualmente, existem três
campanhas nacionais de saúde
ocular realizadas pelo CBO em parceira com o governo federal. Duas
delas, as campanhas nacionais da
catarata e da retinopatia diabética
são voltadas para a terceira idade e
feitas em parceria com o Ministério
da Saúde. Já a campanha Olho no
Olho, realizada com o MEC, procura identificar problemas de visão
em crianças matriculas na 1ª série
do ensino fundamental e distribuir
óculos para as que precisam.
O CBO dá informações sobre
as três campanhas pelos tels.
0800-114488 e 0800-114499.
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