São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2001
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Olhos exigem cuidados em todas as idades

Acompanhamento oftalmológico evita que doenças se agravem e resultem em cegueira, problema que afeta 50 milhões no mundo

CIÇA GUEDES - FREE-LANCE PARA A FOLHA

A pesar de avanços na ciência terem possibilitado ao homem chegar aos 120 anos, a visão não está preparada para durar mais do que 40 anos. Por isso o envelhecimento da população e o consequente aumento das doenças que surgem na maturidade e provocam cegueira preocupam os oftalmologistas. A degeneração senil de mácula, principal causa de perda de visão na população acima de 50 anos, é a doença que mais assusta. No Brasil, 2,9 milhões de pessoas acima de 65 anos sofrem desse mal, segundo estimativas do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia). E, a cada ano, surgem 100 mil novos casos.
Os principais fatores de risco são: idade, sexo (as mulheres são mais afetadas), hereditariedade (de 10% a 20% dos doentes têm antecedentes familiares), pigmentação (indivíduos brancos, de olhos claros), tabagismo e hipertensão arterial. A doença também atinge jovens, mas isso é raro. No Brasil, estima-se que 18 mil menores de 14 anos sofram de degeneração macular juvenil.
O principal sintoma é a dificuldade para enxergar na execução de tarefas rotineiras, como ler, dirigir e até reconhecer pessoas. "Quem tem manchas senis no dorso das mãos deve redobrar a atenção porque a degeneração se caracteriza pelo aparecimento dessas manchas na retina", adverte o oftalmologista Marcos Ávilla, presidente do CBO.
Com a progressão da doença, as imagens ficam distorcidas. "Quando o problema é diagnosticado, o paciente é orientado a checar diariamente se a visão está distorcida. Ele deve tapar um olho de cada vez e observar uma linha reta que seja familiar, como a moldura de um quadro. Se ela apresentar curvas, é sinal de que a degeneração atingiu a segunda fase", ensina Ávilla.
É essa outra etapa da doença que leva à cegueira. Em vez de cumprir a missão de irrigar as áreas danificadas e auxiliar na cicatrização, os vasos sanguíneos que aparecem nos olhos crescem, sangram e formam placas fibróticas na retina. "A terapia mais eficaz para a remoção das manchas é a fotodinâmica, que já está em fase final de testes nos EUA", diz Ávilla. Ela usa laser de baixa potência para eliminar as manchas, depois de o médico injetar um pigmento que tinge apenas a membrana atingida. "Antes, mesmo as áreas da retina que não tinham manchas acabavam sendo queimadas", explica. O desafio, agora, é baratear o tratamento, pois a droga usada para a pigmentação seletiva é muito cara.
A prevenção da degeneração macular inclui o uso de óculos escuros, por causa da grande incidência de raios ultravioleta em países tropicais. Também é importante ter alimentação balanceada e evitar coçar os olhos, hábito que provoca microrrupturas que podem causar sangramentos e agravar doenças oculares.
Depois da degeneração macular, as três maiores causas de cegueira em adultos são diabetes, glaucoma e catarata. Metade dos 13 milhões de brasileiros que sofrem de diabetes tem risco de desenvolver retinopatia diabética, alteração dos vasos da retina que provoca hemorragias, descolamento da retina e cegueira irreversível. "Os pacientes que têm diabetes há mais tempo são os mais propensos às complicações oculares. Praticamente todos os diabéticos há mais de 20 anos têm retinopatia", afirma o oftalmologista Carlos Moreira Júnior, da Universidade Federal do Paraná e consultor do projeto norte-americano Diabetes 2000. Já o glaucoma, terceira maior causa de cegueira no Brasil, atinge 7% da população acima de 70 anos. Hereditariedade é o principal fator de risco: parentes em primeiro grau de portadores têm dez vezes mais chances de desenvolver a doença.
Embora existam 50 milhões de cegos no mundo, 60% dos casos poderiam ser evitados, segundo o CBO. Quanto mais cedo for diagnosticado o problema, maiores as chances de cura. Tanto é que, enquanto 0,3% dos habitantes de países ricos e com bons serviços de saúde ficam cegos, nas regiões pobres, a prevalência de cegueira chega a 1,2% da população. "No Brasil, a maior parte das pessoas só procura o oftalmologista por volta dos 40 anos, quando surgem sinais de vista cansada, e pode ser tarde demais para solucionar problemas graves", afirma Ávilla. Apesar de nunca ter visto o mundo com nitidez, o vendedor Désio da Silva, 43, só foi ao oftalmologista aos 15 anos. Desde criança, Silva, que mora em São Fidélis (norte do Rio), só conseguia ler com lentes de aumento e muita iluminação. Aos 15, descobriu ser portador de catarata congênita, mas não entendeu a gravidade da doença. "O médico disse que eu tinha opacificação do cristalino. Eu não compreendi que era catarata e que iria se agravar tanto. Hoje, se saio do sol para a sombra, não enxergo nada. Tudo me cansa, até ler jornal e ver TV." A desinformação é um dos maiores entraves à boa visão do brasileiro. "Mesmo quem tem um padrão de vida elevado tem pouca informação a respeito do que deve fazer para manter a visão boa até o fim da vida", diz Moreira Júnior.

Campanha
De 30 a 31 de maio, oftalmologistas de todo o Brasil estarão em Brasília para participar do 1º Fórum Nacional de Saúde Ocular. O CBO propôs a realização do evento à Comissão de Assuntos Sociais do Senado para incentivar as autoridades a desenvolver políticas de saúde pública na área da oftalmologia. Atualmente, existem três campanhas nacionais de saúde ocular realizadas pelo CBO em parceira com o governo federal. Duas delas, as campanhas nacionais da catarata e da retinopatia diabética são voltadas para a terceira idade e feitas em parceria com o Ministério da Saúde. Já a campanha Olho no Olho, realizada com o MEC, procura identificar problemas de visão em crianças matriculas na 1ª série do ensino fundamental e distribuir óculos para as que precisam.


O CBO dá informações sobre as três campanhas pelos tels. 0800-114488 e 0800-114499.


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