São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2001
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Escurinho é bom para se exercitar, fazer sexo e dormir

Mais da metade (54%) da população adulta brasileira apresenta algum tipo de distúrbio de sono, segundo pesquisa feita pelo Datafolha e pelo laboratório Wyeth em novembro último. Pois a redução da iluminação das ruas, que eventualmente entra pela janela do quarto, pode melhorar a qualidade do sono do cidadão. Só na ausência de luz a melatonina -hormônio que induz ao sono- é produzida. Qualquer luminosidade tem interferência na sua produção, explica Ademir Batista, chefe do Setor de Distúrbios de Sono, da Unifesp. E, para os brasileiros sedentários -atributo de 70% da população, segundo pesquisa do Celafiscs (Centro de Estudo do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul)-, o que o racionamento de energia poderá trazer de útil? A possibilidade de subir e descer as escadas na falta da energia ou para poupar o que resta dela. É consenso entre os especialistas da área de saúde e do esporte que subir e descer escada é um ótimo exercício físico. É uma forma de prevenir problemas cardiovasculares e de trabalhar a força e a resistência dos membros inferiores, diz o fisiologista Claudio Pavanelli, da Unidade Diagnóstica Einstein. Mas o fisiologista faz um alerta aos que não têm bom condicionamento físico. Deve-se iniciar na atividade gradativamente. "Comece com lances pequenos de escada, só depois vá aumentando. Fazer uma avaliação médica antes é o ideal, e o imprescindível é não exagerar, não ultrapassando o próprio limite", aconselha.

Mais sexo
Aproveite o lado romântico do escurinho, dizem médicos, psicólogos e outros especialistas. "O que acontece hoje é que as relações são inconscientemente substituídas por outros afazeres. Depois do jantar, é comum os casais disputarem o controle remoto e passarem a noite "zapeando" pela TV", afirma o ginecologista Alfredo Romero, diretor do Ibrasexo (Instituto Brasileiro para a Saúde Sexual). Atualmente, o brasileiro tem de três a cinco relações sexuais por semana. Com um apagão, por exemplo, os especialistas acreditam que o número vá aumentar. "Será uma forma de colocar em pauta as relações pessoais. Por um lado, a escuridão e as velas sempre aproximam as pessoas", diz Ailton Amélio da Silva, professor do Instituto de Psicologia da USP. Por outro, diz o terapeuta Nelson Vitiello, algumas pessoas podem encarar a situação da falta de eletricidade como um grande transtorno, deixando o sexo de lado. Esse tipo de atitude é comum em momentos de estresse, mas os especialistas são otimistas: acreditam que isso pode ocorrer apenas no início, depois os ânimos se acalmarão.

A volta dos diálogos
A ausência de energia elétrica ou a redução do seu consumo também pode servir para que as pessoas explorem novos ambientes de lazer, principalmente ao ar livre, e para aproximá-las. Para Mario Sergio Cortella, filósofo e colunista da Folha, as pessoas vão poder "redescobrir os diálogos". "Até quem está sempre plugado poderá rever os interesses", diz a psicóloga Rosa Maria Farah. Acostumadas a se divertir por meio da tecnologia, as crianças deverão sair ganhando. Nos Estados Unidos, segundo pesquisa feita no ano passado pela Universidade de Stanford, as crianças passam quase todo o dia na frente do aparelho de TV: em média três horas diárias assistindo à programação, cinco horas vendo fitas de vídeo e três horas no videogame. Elas vão ter que descobrir novas formas de diversão.
"Será uma experiência de privação nunca antes vivida por essa nova geração. Dificilmente, eles conseguem pensar em uma situação estável sem a televisão", diz a educadora Tânia Zagury. (KK)


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