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Outras idéias - Wilson Jacob Filho
Comemorar
Participei, há semanas,
de um evento que merece comentário. Embora anual, o último
foi organizado para celebrar os
25 anos da construção de um
ideal acadêmico -foi programada uma homenagem aos
precursores dessa evolução.
Nem todos atentam para o
significado do verbo comemorar. Encontra-se, nos dicionários, a explicação "recordar
com festa". Em verdade, comemorar significa memorar em
conjunto, de forma cerimoniosa, com aqueles que podem
desfrutar das lembranças por
terem sido personagens.
Muito havia por relembrar
naquela data, e a maioria dos
que poderiam fazê-lo lá estava,
visto que sua participação direta ou indireta continua imprescindível para a continuidade do
seu desenvolvimento.
Comemorar tem, portanto, o
poder de tornar a história viva,
de unir o passado ao presente,
de mostrar que o futuro imaginado ontem conseguiu se materializar na situação atual, que
deverá servir de base para o
planejamento do amanhã.
Os homenageados mostraram que o vigor físico e mental
pode ser adequado à idade, permitindo o livre exercício da cidadania. Foram generosos. Deram o testemunho de que o
tempo consegue nos dotar de
capacidades para compreender
o que realmente fez diferença
entre o planejar e o realizar.
Dentre eles, um destaque especial. Não por ser o mais idoso
nem o mais titulado, mais eloqüente ou mais jovial. Salientei,
no meu memorial, não conhecer um só médico da minha geração que não tenha sido contaminado pelo seu peculiar modo
de ser e de agir.
Enquanto jovem, foi um parceiro com quem todos queriam
dividir os plantões, visto que
era incansável e motivado;
quando maduro, tornou-se o
médico sempre procurado por
colegas para opinar sobre um
caso difícil ou para cuidar deles
mesmos ou dos seus parentes.
Por saber cuidar muito bem
de todos, não soube cuidar de
si. Permitiu que a sua saúde não
recebesse a mesma atenção que
receberam seus alunos e pacientes. Chegou bem perto da
irreversibilidade. Soube ceder,
porém, à constante solicitação
de amigos e familiares e acabou
por permitir que lhe pudéssemos devolver um pouco dos
cuidados que dedicou a todos.
Foi um paciente exemplar.
Aceitou as ações dos jovens
profissionais com a paciência
que sempre teve ao ministrar
suas aulas. A todos agradeceu
com o olhar de quem sabia estar colhendo um fruto da árvore que ajudou a plantar.
Ao homenageá-lo, portanto,
quisemos ir além do nosso reconhecimento ao mestre, ao
médico e ao amigo. Aproveitamos para demonstrar nosso
respeito ao paciente que soube
aceitar os cuidados e participar
ativamente de sua recuperação.
Sua presença na cerimônia foi o
testemunho de que não há idade para a escolha de novos caminhos nem limites para a
perspectiva de reabilitação.
Ao procurar o significado de
seu nome, tão peculiar, encontrei a explicação que me faltava.
Urbano, de termo relacionado
às cidades, também é sinônimo
de civilizado, cortês e afável.
Poderia ser mais adequado?
WILSON JACOB FILHO, professor da Faculdade
de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de
"Atividade Física e Envelhecimento Saudável"
(ed. Atheneu)
wiljac@usp.br
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