São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004
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"Yacon" ainda não merece a boa fama que possui

Raiz é vendida para melhorar diabetes, colesterol e pressão alta

MARIANA DEL GRANDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ela é comercializada como se fosse um tipo de batata, sua aparência lembra a do inhame e possui a textura e o gosto adocicado de uma pêra d'água. Em São Paulo, onde ganha espaço em supermercados e sacolões, geralmente é acompanhada por cartazes que afirmam ser boa para diabetes, colesterol e pressão alta. É a "yacon", uma raiz de origem andina.
Isso mesmo, raiz. O desconhecimento técnico é provavelmente a causa do erro na nomenclatura, diz Francisco Camara, da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), que pesquisa a raiz desde 1990. "A batata é uma expansão do caule. A "yacon" é a própria raiz da planta."
Da mesma família do girassol, as raízes da Smallantus sonchifolius não são ricas em amido como os tubérculos, entre os quais a batata e a mandioca. Composta por cerca de 80% de água, a "yacon" é pouco calórica: 100 g equivalem a 54 kcal, um pouco mais que a cenoura (47 kcal).
O que tem levado pesquisadores de vários países a estudar a "yacon" é o fato de conter frutooligossacarídeo (FOS), um tipo de açúcar que o organismo é praticamente incapaz de absorver. Estudos com outras plantas provaram que o FOS ajuda a reduzir os níveis de colesterol.
Além disso, suspeita-se que o FOS possa também diminuir as taxas de açúcar no sangue. "Muitas substâncias que baixam o colesterol também têm efeito antiglicêmico, ou seja, diminuem o nível de glicose. Mas nenhum estudo comprovou se essa relação é verdadeira", afirma a pesquisadora Rita de Cássia Ribeiro, do Instituto de Botânica (SP).
O biólogo Iván Manrique, do CIP (Centro Internacional da Batata, na sigla em espanhol), no Peru, constatou que o consumo do chá das folhas de "yacon" reduziu o nível de glicose de ratos com diabetes. "Mas não conhecemos o princípio ativo que provocou essa redução", diz.
Já que seu açúcar não é absorvido pelo corpo e, portanto, não interfere nos níveis de glicose, a "yacon" está liberada para os diabéticos. Mas, como não existe comprovação científica de seus benefícios, os especialistas alertam: a raiz não deve substituir o tratamento tradicional. "Não há problema em consumir a "yacon" desde que a pessoa não use o alimento para substituir os medicamentos nem abandone as instruções do médico", diz o endocrinologista Antônio Roberto Chacra, presidente de Associação Latino-americana de Diabetes.
Preparar a "yacon" não requer vastos conhecimentos culinários: a raiz geralmente é consumida crua logo após ter sido descascada, pois escurece rápido. Por ser suave e refrescante, a "yacon" combina bem com sucos de fruta e saladas.


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