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Materiais benignos, como terra e bambu, e estratégias para poupar água e luz são alguns dos alicerces da ecoarquitetura
Casa do futuro usa técnicas do passado
Divulgação
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Sede do grupo financeiro ING, em Amsterdã (Holanda), principal modelo comercial de ecoarquitetura |
DANIELA FALCÃO
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
As imagens das cidades do futuro difundidas em filmes de ficção, com arranha-céus
feitos de alumínio, ferro e muito vidro Blindex, não têm nada em comum com o
que nos prepara a vanguarda da arquitetura ecologicamente correta. As novas construções já começam a despontar nas paisagens dos EUA, da Austrália e Alemanha e, em vez de aço, concreto e vidro, abusam de terra, bambu e
madeira -materiais que dominaram a arquitetura até o
início do século. Na Austrália, 20% das novas casas são
de taipa de pilão -técnica que prensa argila e areia para
formar blocos monolíticos. As casas de terra também
caíram na graça de endinheirados da Califórnia, que
constroem mansões com técnicas semelhantes às utilizadas nas casas de pau-a-pique do interior do Nordeste.
Mas não são só países ricos que estão abraçando a arquitetura verde. Na Colômbia e Costa Rica, o bambu substitui o concreto em casas e até em prédios.
Bem longe do modelo "Matrix", as casas futurísticas
são versões aperfeiçoadas das habitações seculares. Elas
usam materiais ecologicamente benignos, de preferência da própria região, produzidos a partir do reaproveitamento de resíduos ou de matérias-primas renováveis.
Têm grama no telhado, paredes de barro, em vez de cimento, e calhas para recolher água da chuva. O único
apetrecho que combina com a visão cinematográfica de
futuro são os painéis fotovoltaicos instalados no teto para aquecer água e gerar energia.
O projeto da casa futurística tem como desafio se adequar a clima, vento, vegetação e topografia. É tirando
proveito das condições naturais do lugar que ela reduz
ou até elimina o uso de energia elétrica.
Outra lei da ecoarquitetura é captar água da chuva e
reciclar as águas cinzas (provenientes de chuveiros e
pias) para reutilizá-las no jardim ou na descarga dos vasos sanitários. "A arquitetura ecológica tem o máximo
de sustentabilidade e o mínimo de impacto ambiental. É
a retomada de valores do passado em que a simplicidade
do viver induz às soluções", diz a arquiteta Cristina Engels, da Universidade Federal do Espírito Santo, que está
construindo a primeira casa ecológica de Vitória, em
parceria com o Estado e a Aracruz Celulose.
Não é preciso abdicar do conforto e da estética para
morar em casas ecológicas. As paredes de terra crua, por exemplo, não degradam o ambiente e ainda têm a vantagem de serem isolantes térmicas, deixando a casa fresca no verão e quente no inverno e diminuindo os gastos
com ar-condicionado e aquecedor. Os benefícios para o
bolso não param por aí: além de reaproveitar a água de
pias e chuveiros para molhar o jardim ou dar descarga, a
conta de luz também vira coisa do passado já que as placas fotovoltaicas instaladas no teto são capazes de gerar
toda a energia que a casa precisa.
Economia
O banco ING, da Holanda, é a prova definitiva para quem ainda encara com desconfiança os benefícios econômicos da arquitetura verde. As dez torres
que abrigam os 2.500 funcionários da sede em Amsterdã
consomem 92% menos energia do que um banco das redondezas construído na mesma época, o que implica
uma economia anual de US$ 2,9 milhões. "É inadmissível projetos hoje que não tenham preocupação ambiental", diz Engels. Com tantas vantagens, é difícil entender
por que a ecoarquitetura no Brasil ainda é coisa de exóticos e idealistas. Embora as universidades pesquisem
exaustivamente técnicas de construção que não agridem o ambiente, as descobertas ficam à margem da arquitetura tradicional e são tratadas como pitorescas ou
alternativas.
"O Brasil não aproveita a insolação generosa de que
dispõe. Há uma luminosidade fortíssima no país, mas,
na maioria das casas, a luz fica acesa o dia inteiro, mesmo em cidades onde não se anda sem óculos escuros do
lado de fora", reclama o arquiteto carioca radicado em
Brasília, Sérgio Pamplona, 34, que vive numa casa-modelo de arquitetura verde (veja desenho acima). "É difícil convencer o arquiteto que sempre adotou grandes fachadas de vidro como demonstrativo de estética e poder
de que estamos na terra do sol e que essa estética internacionalista só causa desperdícios", completa Engels.
Além do desconhecimento das técnicas, o alto custo
para implantar equipamentos também afugenta os interessados em morar verde. Uma placa solar para esquentar água sai, em média, por R$ 2.000. Mas quem quiser
colocar painéis fotovoltaicos para substituir a energia
elétrica terá de desembolsar pelo menos US$ 15 mil, porque não há fabricante nacional. "O custo inicial é alto,
mas se compensa após sete anos porque o morador não
gasta com conta de luz. Como o equipamento dura 50
anos, o investimento é vantajoso", defende Engels.
Apesar de a idéia de desenvolver prédios verdes não
ser nova, mesmo nos EUA há poucos projetos que tenham preocupação de reduzir custos de manutenção.
Um dos mais arrojados começou a sair do papel em
abril passado: um conjunto residencial de dois prédios
com 128 apartamentos de classe média em Newark (Nova Jersey). O governo ofereceu US$ 17 milhões em subsídios para que as incorporadoras adotassem práticas verdes, como o uso de energia solar. Os apartamentos serão
construídos com materiais reciclados, duráveis e de baixa toxicidade para melhorar a qualidade do ar. Os prédios são voltados para a face sul para maximizar a exposição ao sol e haverá coletores de água da chuva para irrigar gramados. Quando o complexo ficar pronto, em junho de 2001, a expectativa é que a conta de luz nas unidades com três dormitórios diminua US$ 378 por ano.
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