São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2000
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DEPOIMENTO

"Recusei-me a ver o processo, hoje me arrependo"

"Foi mais difícil enxergar o envelhecimento da minha mãe. Acho que tem algo a ver com o próprio relacionamento que temos com a figura materna. O pai geralmente fica mais alheio. Optei por não ver as mudanças, não aproveitei o que podia da situação. Recusei-me a ver o processo. Hoje me arrependo.
A gente se sente muito impotente diante de alguém que, de repente, passa a necessitar de seus cuidados. Meu pai teve câncer, e eu e minha irmã cuidamos dele. A gente sentia que ele estava incomodado, principalmente quando tínhamos de trocar fraldas ou ajudar nos banhos. A dor de ver alguém sofrer sem poder fazer nada é terrível.
Ainda sinto muito a falta dos dois. Às vezes acordo com a sensação de que somos mesmo órfãs. Acho que meu pai gostava da atenção, ele mesmo dizia que era tratado como filho.
Enfrentar a velhice é uma barra. A gente sempre tem uma resposta mais amarga. Ou somos agressivos sem necessidade. Só que a questão prática é mais complicada.
Mesmo assim é muito difícil ser, em determinados momentos, mãe ou pai de quem já teve uma vida."


Cleonice Brickmann, 58, aposentada



Texto Anterior: Os opostos se atraem
Próximo Texto: Firme e forte: Coração de atleta "fala" pelo frequencímetro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.