São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002
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firme e forte

Professor ajuda obeso a encarar malhação

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Enfrentar uma rotina de atividade física com afinco, seriedade e disciplina não é tarefa das mais fáceis para a maioria dos mortais. Agora, se o cidadão em questão é obeso, o grau de dificuldade pode surgir na primeira flexão.
Mas existem profissionais especializados no condicionamento físico de obesos que podem dar um "empurrãozão" nos alunos. São professores de educação física (alguns trabalham em academia) que sabem as dificuldades e as limitações de quem está muito acima do peso e também conhecem as particularidades que a atividade física deve ter.
"Sem um acompanhamento específico e direcionado, os obesos abandonam rapidamente os exercícios; e o primeiro grande desafio para essas pessoas é manter-se na atividade", diz Clóvis Pereira Júnior, personal trainer com especialização em obesidade feita nos Estados Unidos.
O empresário José Carlos Diniz Fernandes, 40, chegou a pagar um semestre todo de academia e só frequentou três aulas. "Não tinha estímulo, os professores, ao verem que eu não conseguia fazer as coisas, desanimavam", diz Fernandes, que chegou a pesar 125 kg. Com isso, ele também perdeu o interesse e abandonou as atividades. "Só voltei porque encontrei orientação adequada e fazia tudo dentro dos meus limites", conta ele, hoje com 81 kg.
Respeitar o limite do praticante é um dos pontos que o especialista tem muito claro. "Em geral, a massa muscular dos obesos é diminuída por causa do sedentarismo; e, como a função da massa muscular é sustentar a massa óssea, qualquer movimento que ele faça fica mais difícil", explica a professora de educação física Cláudia Cezar, coordenadora do Neobe (Núcleo de Estudos de Obesidade e Exercícios Físicos), da USP.
Aula para obeso segue uma série de especificidades. "Tudo tem de ser adaptado: os abdominais, as flexões e o levantamento de peso, por exemplo", diz Cezar.
A primeira grande adaptação, segundo Pereira Júnior, é que, de início, não adianta nada trabalhar grupos musculares específicos, como bíceps e tríceps. "O obeso precisa de um alto gasto calórico. O correto é trabalhar grandes grupos musculares, de forma genérica, pensando em dois aspectos: emagrecimento e mobilidade", diz o personal trainer.
Outro cuidado: levantar pesos livres (pesos soltos) em pé pode gerar desconforto, pois o obeso tem dificuldade de equilíbrio. O ideal é levantar pesos acoplados aos equipamentos. Fazer exercícios deitado também é um problema, por causa da dificuldade de respiração. Abdominais, por exemplo, são feitos com o corpo inclinado. Outra preocupação: exercitar grupos musculares que possam corrigir problemas de postura, como pé chato, joelho voltado para dentro e abdômen e ombros projetados para a frente, explica Ana Dâmaso, nutricionista especializada em medicina do esporte que trabalha no departamento de educação física da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade).
"Aos poucos, estou me acostumando a fazer exercícios e a modificar meus hábitos alimentares", diz a secretária Rosângela Maria dos Santos, 50, que faz ginástica com um grupo de obesos no Neobe. "A minha vida é um eterno regime, e eu tenho conseguido me controlar", afirma Fernandes, que percebeu que exercício físico e reeducação alimentar têm de caminhar juntos.
A empresária Malvina Oliveira, 48, também aluna do Neobe, diz que, depois que começou a se exercitar, consegue pensar mais em si própria e está mais feliz. Segundo os especialistas, quando o obeso começa a se acostumar às atividades, emagrece com menos ansiedade e, por isso, surgem os benefícios emocionais.
"As pessoas estão acostumadas a dizer "tenho de perder peso", quando, na verdade, elas precisam perder gordura corporal e ganhar massa muscular; perder peso significa perder as duas coisas, o que não é bom", explica Cláudia Cezar.
"No início, é fácil desistir, mas, se há alguém que o incentive e oriente, você vai em frente; hoje tenho autoconfiança", diz o assessor financeiro Marcelo Sucar, 25, que pesava 155 kg e hoje está com 110 kg.
Junto com os quilos extras, o condicionamento físico é capaz de amenizar problemas de saúde que o obeso tenha ou possa vir a ter, como pressão alta e diabetes. (PV)


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