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Reduzir colesterol, sintomas da menopausa e da osteoporose é um dos benefícios da leguminosa, que é vendida em 1.001 versões
Proteína e isoflavonas fazem a fama da soja
CIÇA GUEDES - FREE-LANCE PARA A FOLHA
Mais de 20 anos se passaram desde que o general João Batista
Figueiredo experimentou o leite-de-soja, cujo consumo o
governo pretendia incentivar, e cuspiu longe, sem a menor cerimônia, na frente de fotógrafos e cinegrafistas. Essa reação intempestiva do então presidente entrou para o folclore político do
Brasil, e o chamado "leite da vaca mecânica" carregou por muito
tempo o estigma de ser bom para a saúde, mas péssimo para as papilas gustativas.
Porém, nos últimos cinco anos, tem havido uma explosão na oferta de produtos
à base de soja. Com décadas de atraso em
relação a europeus e americanos, os brasileiros descobriram que o grão de origem chinesa é sinônimo de saúde, graças
à alta concentração de proteína e aminoácidos essenciais. No mercado, encontram-se de salgadinho e suco a maionese
e balas à base de soja. Até a indústria de
cosméticos se rendeu à leguminosa.
"Há três décadas se sabe que a soja tem
a melhor proteína do reino vegetal e vantagens sobre a carne por possuir fibras",
diz Jocelem Mastrodi Salgado, professora
de nutrição humana da Esalq/USP.
Mas, além do seu valor nutricional, a
grande vedete da soja são as chamadas
isoflavonas, componentes capazes de
agir na prevenção de doenças cardiovasculares, na redução do colesterol, no
combate aos sintomas da menopausa
(como fogachos, secura vaginal e queda
da libido) e da osteoporose e na prevenção dos tipos de câncer de mama e de
útero que crescem com a influência dos
hormônios. As isoflavonas têm a estrutura muito parecida com a do estrogênio,
hormônio cuja produção cai na menopausa. Por isso elas suprem a carência de
estrogênio e ainda promovem uma proteção contra o aparecimento de tumores
sensíveis à ação de hormônios. Porém,
quanto à eficácia do uso para reposição
hormonal, não há estudos conclusivos.
No caso do homem, há indicações da
ação do fitoestrogênio sobre algumas das
substâncias envolvidas no processo que
leva ao câncer de próstata.
Porém nem todo produto que se apresenta como sendo "de soja" representa
garantia de ação benéfica para a saúde. A
concentração de proteínas e isoflavonas
varia de acordo com a semente usada e as
condições de plantio. O aconselhável é
consumir produtos de empresas com reputação no mercado.
"O processamento também faz diferença. Por isso eu recomendo que a soja seja
incluída no cardápio, principalmente na
forma natural, ou seja, enquanto grão.
Quanto menos interferência de processo
industrial melhor", diz Rebeca Carlota de
Angelis. Professora-doutora em nutrição, ela adverte para os chamados fatores
antinutricionais da soja, que interferem
no processo de absorção dos nutrientes
pelo organismo. Para impedir essa ação,
"o grão deve ser preparado como feijão; é
preciso deixá-lo de molho à noite, jogar a
água fora pela manhã, substituir por outra, deixar mais uns 40 minutos, jogar fora de novo, e aí usar outra para cozinhar",
ensina a pesquisadora, que consome diariamente o produto. "Isso ainda facilita a
digestão e se aplica a toda leguminosa,
como ervilha e grão-de-bico."
"Esse fitoestrogênio é de mil a 100 mil
vezes mais fraco que o hormônio natural
e que os hormônios sintéticos. Por isso a
soja não causa efeitos colaterais se consumida como alimento. No caso das isoflavonas isoladas (em forma de cápsulas ou
manipuladas, por exemplo), não existem
estudos conclusivos sobre os possíveis
efeitos colaterais", diz Salgado.
As pesquisas sobre a soja começaram
no final dos anos 80, quando os médicos
procuravam a razão para a incidência de
câncer de mama e de útero, dos sintomas
da menopausa, da osteoporose e do colesterol elevado ser de cinco a oito vezes
menor entre as mulheres orientais, principalmente as chinesas e as japonesas.
Conclusão: embora a dieta delas fosse
boa como um todo, com muitos grãos e
peixe, a soja é que fazia a diferença.
Em 99, a FDA (agência que regula alimentos e medicamentos nos EUA), após
analisar vários estudos, definiu o consumo diário de 25 g de proteína de soja como suficiente para a redução do colesterol total e para contribuir com o aumento
do bom colesterol (HDL) e com a redução do mau (LDL). No Brasil, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que licencia medicamentos, cosméticos e alimentos, reconhece a eficácia das
isoflavonas contra os fogachos da menopausa e o colesterol.
"Está comprovada a sinergia existente
entre a proteína da soja e as isoflavonas",
diz o ginecologista Hans Halbe. Há mais
de um ano, ele trabalha com um grupo
que reúne de 800 a mil mulheres no Hospital das Clínicas de São Paulo para avaliar a eficácia das isoflavonas. "Na melhoria e proteção do sistema cardiovascular,
observamos uma redução do colesterol
de 10% a 14%. Estamos colhendo bons
resultados também no combate aos sintomas da menopausa", diz ele.
No rastro do estímulo à saúde, empresários descobrem novos e promissores
nichos de mercado. A paulistana Edna
Thomaz, 40, mudou-se no ano passado
para Londrina (PR), onde a filha foi estudar. Fez o curso de culinária na Embrapa
Soja e, em cinco meses, abriu a Di-Soja,
primeira padaria do país que oferece exclusivamente produtos à base de soja.
"Faço pão de mel, brownie de chocolate,
bisnaga, pão de fôrma", conta ela.
Isoflavonas na pele também prometem. Para a dermatologista Denise Steiner, é cedo para um veredicto definitivo
sobre a sua eficácia, mas o futuro é promissor. "Utilizo em formulações, mas
ainda não tenho um protocolo comparando resultados. Mas há lógica no uso,
porque é como se estivesse utilizando o
hormônio feminino na pele, o que reconhecidamente tem efeito na melhora da
hidratação e nas fibras de colágeno que
dão sustentação."
A maior preocupação de quem trabalha com soja é obter um produto de qualidade e que não seja originário de semente transgênica. O grande problema,
diz o médico Alex Botsaris, presidente do
Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais, é que "não se sabe ainda com segurança se as isoflavonas da soja transgênica têm a mesma eficácia".
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