|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
foco nele
DPOC é 5ª causa de morte e pouco conhecida
"Depois de 30 anos de tabagismo, a pessoa começa a sentir
falta de ar ao subir uma escada ou ao andar mais
rapidamente. Mas acha que isso é coisa da idade ou
simplesmente falta de condicionamento físico. Na verdade,
pode estar sofrendo de DPOC"
JULIANA DORETTO - FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ela atinge cerca de 7 milhões de brasileiros, matando 30 mil por ano no país.
Em 90% dos casos, as vítimas são fumantes, e os seus sintomas são frequentemente diagnosticados como sendo de uma
bronquite ou de um enfisema. É a quinta
causa de morte no Brasil, mas, apesar disso, é pouco conhecida. Trata-se da DPOC
(doença pulmonar obstrutiva crônica),
que tem, como um dos seus maiores divulgadores, o pneumologista José Roberto Jardim.
Professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Jardim coordena o
Consenso Gold Brasil, projeto da Organização Mundial de Saúde (OMS) cujo objetivo é difundir a doença tanto entre a
população em geral como entre os médicos. O projeto da OMS definiu as melhores formas de tratamento da doença e incentivou a formação de conselhos médicos em 70 países. Essas grupos têm a missão de alertar o meio médico -já que
muitos profissionais não dão a devida
importância à doença- e a população
sobre os riscos da DPOC.
Leia abaixo a entrevista do médico, que
dá detalhes sobre a doença, seus sintomas e tratamentos.
Folha - Como essa doença se manifesta?
José Roberto Jardim - A DPOC é uma limitação progressiva e irreversível para respirar. Essa falta de ar restringe a capacidade do paciente para realizar as atividades da vida cotidiana. Nos casos mais
graves, a pessoa pode sentir falta de ar até
mesmo ao tomar banho ou dirigir. Na
verdade, a DPOC engloba duas doenças:
a bronquite crônica e o enfisema pulmonar. A bronquite é a inflamação dos
brônquios, caracterizada pela presença
de tosse e catarro por pelo menos dois
anos, daí o termo crônica, já que dura
muito tempo. O enfisema é uma doença
que destrói as paredes dos alvéolos e dos
brônquios. Na DPOC, as duas sempre estão juntas, mas pode haver predominância de uma ou de outra. Cerca de 90% dos
casos têm como causa o tabagismo. Os
outros 10% são decorrentes da exposição
a ambientes poluídos por gases, partículas tóxicas ou produtos químicos, como
ocorre com trabalhadores de indústrias
químicas e de vidro, por exemplo. Estudos comprovam que 9% da população
adulta acima dos 40 anos, de qualquer
país, sofre de DPOC. Cerca de 15% dos
fumantes desenvolvem a doença, na
maioria dos casos, após os 50 anos, porque é necessário fumar durante décadas
para que ela apareça.
Folha - Se a doença atinge tantas pessoas,
por que não é conhecida?
Jardim - Ela tem a mesma importância
de doenças como o infarto e o diabetes,
mas nunca foi tão divulgada quanto elas.
Isso porque a DPOC é a "prima pobre" de
uma outra doença, a asma. Essa patologia sempre foi alvo de mais pesquisas e,
além disso, atrai mais a atenção dos laboratórios fabricantes de medicamentos.
Nem todos os médicos orientam bem
seus pacientes ao dizerem que eles sofrem simplesmente de bronquite, e não
de DPOC. O projeto Gold é uma iniciativa da OMS para tornar a doença mais conhecida mundialmente.
Folha - A pessoa que fumou durante muito
tempo, mas abandonou o vício, pode vir a desenvolver DPOC?
Jardim - A bronquite crônica, ou seja,
tosse e catarro, aparece depois que a pessoa passa dez anos fumando. Mas geralmente o paciente não dá muita importância a isso, porque pensa que todo fumante tem tosse. Depois de 30 anos de tabagismo, a pessoa começa a sentir falta
de ar ao subir uma escada ou ao andar
mais rapidamente, por exemplo. Mas
acha que isso é coisa da idade ou simplesmente falta de condicionamento físico.
Na verdade, pode estar sofrendo de
DPOC. A falta de ar ocorre porque seus
brônquios estão sendo destruídos. Se, ao
parar de fumar, o paciente já apresentava
sintomas de bronquite, restarão algumas
sequelas, mas a inflamação dos pulmões
vai regredir e o quadro não evoluirá para
a doença.
Folha - Como ela pode ser detectada?
Jardim - Há duas etapas. O médico levanta a história clínica do paciente, avaliando se ele fuma, se apresenta tosse e
catarro e se teve contato com substâncias
tóxicas. Além disso, é necessário realizar
a espirometria, exame que identifica a
falta de ar, avaliando a capacidade pulmonar.
Folha - A doença tem cura? Como é o tratamento?
Jardim - Em primeiro lugar, o paciente
deve passar por um centro de reabilitação pulmonar. Em todo o Brasil, há 32
centros desse tipo. Neles, a pessoa faz
exercícios para recuperar o condicionamento, já que a falta de ar faz com que ela
abandone a atividade física. É preciso
também tomar remédios que atuam como broncodilatadores, ou seja, que inibem a contração dos brônquios, causa da
falta de ar. Mas, atualmente, os pacientes
não são tratados com remédios específicos para a doença: tomam medicamentos que apresentaram benefícios para o
tratamento da asma, e não especificamente para DPOC. No ano que vem, será
lançada uma nova droga, o brometo de
tiotrópio, um broncodilatador de ação
prolongada, mais específico para a doença. Mas nenhum medicamento regenera
o pulmão, por isso a DPOC é apenas parcialmente reversível. Não tem cura. Por
mais que o paciente tome remédios, ele
sempre terá falta de ar.
Texto Anterior: poucas e boas: Nova versão de droga para osteoporose Próximo Texto: quem é ele Índice
|