São Paulo, quinta-feira, 26 de janeiro de 2006
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

bebida
Refrescantes e pouco calóricos, chás gelados são opção para dias quentes

Baixas temperaturas

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem quer se refrescar nas altas temperaturas fugindo dos refrigerantes e variando os tradicionais sucos de frutas pode encontrar no chá uma opção saudável, versátil e pouco calórica. Pura ou misturada a folhas de hortelã, pedaços de frutas e bebidas alcoólicas, a bebida é a cara desta época do ano. Além dos chás prontos industrializados, facilmente encontrados, é possível fazê-los em casa sem muita dificuldade. Segundo a nutricionista e fitoterapeuta Vanderli Marchiori, colaboradora técnica da Associação Paulista de Nutrição, apesar de os chás prontos serem melhores para a saúde do que os refrigerantes, os que são preparados com ervas frescas ou secas têm qualidade "extremamente superior".
"Isso porque a parte da planta usada é a correta, e a maneira de preparar e o tempo para consumo garantem maior quantidade de princípios ativos", explica.
Descoberto na China por volta do ano 2700 a.C., o chá só passou a ser tomado gelado milênios depois. Na primeira década do século 20, um comerciante americano apostou na retomada da popularidade da bebida no país -cujo mercado estava em baixa desde a independência da Inglaterra- e fez um grande investimento para levá-la a uma feira em Nova Orleans. Desesperado diante do desinteresse dos clientes devido ao calor de 40 oC que fazia na ocasião, ele decidiu colocar barras de gelo no chá-preto -em pouco tempo, o estoque se esgotou.
Hoje, os EUA são líderes no consumo mundial de chá gelado. Nos países onde a bebida quente é mais popular, como a Inglaterra e a Índia, o costume não é tão difundido. Na China, a maioria das pessoas toma o chá em temperatura quente ou morna. "Onde mais se está tomando frio é no Japão. Lá, o sorvete de chá-verde é vendido há anos", conta a especialista em chás Carla Saueressig, proprietária da rede A Loja do Chá.


Descoberto na China por volta do ano 2700 a.C., o chá só passou a ser tomado gelado milênios depois

Aberto há seis anos, o estabelecimento vende mais de 200 tipos de chá da marca alemã Tee Gschwendner, a maioria a granel. As ervas são orgânicas. Em outubro de 2005, o ponto do shopping Iguatemi, em São Paulo, inaugurou um espaço no qual a bebida é servida pronta. Entre as opções, há diversos drinques gelados.
Para preparações frias, Saueressig recomenda ervas como o capim-limão e combinações de chás tradicionais (o preto, por exemplo) com hortelã e gotas de frutas cítricas. "Erva-cidreira, erva-mate, misturas de frutas, todos esses chazinhos caseiros ficam bem gelados. Já canela, nozes e outros ingredientes mais relacionados ao inverno até podem ser feitos, mas são menos indicados", diz.
Para diminuir o inchaço típico do verão -nesta época, o corpo costuma reter mais líquido, principalmente no caso das mulheres-, Vanderli Marchiori sugere chá de laranja amarga com cavalinha. Erva-cidreira com limão ("excelente para a digestão") e gengibre com abacaxi ("aumenta a imunidade") são outras combinações recomendadas pela nutricionista. "Qualquer tipo de chá pode ser consumido gelado, depende do paladar de quem vai tomar", completa.

CHÁS EGÍPCIOS
Na casa de chás egípcia Khan El Khalili, em São Paulo, o hit do verão são as "sultanas", chás gelados batidos com frutas como maracujá, morango, guaraná e açaí. "Nos meses de janeiro e fevereiro, a procura pelo chá gelado aumenta uma barbaridade", diz o proprietário, Jorge Sabongi.
Ele conta que no Egito, país de onde vem sua família, há um chá muito tradicional que é servido frio: o "karkadeh", feito com flor de hibiscos. "É muito forte para o paladar daqui. Quando começamos no país, há 24 anos, quase ninguém tomava chá. No início, foi uma luta. Hoje, o brasileiro toma chá de todos os tipos", diz Sabongi.
Carla Saueressig observa que, apesar de não chegar perto do mercado de café, o chá vem se popularizando entre os ocidentais. "Quando abri a loja, os supermercados ofereciam apenas algumas opções. Hoje a oferta é muito maior. Isso significa que as pessoas estão pedindo e consumindo mais. Mas ainda há muito para crescer."
Segundo ela, muitos brasileiros só estão acostumados a tomar a bebida como um remédio caseiro. "As pessoas acham que chá é chá de boldo, que tem um gosto horrível. Mas há um monte de combinações deliciosas de ervas e frutas. Temos que aprender a tomar chá por prazer", diz.

CHÁ E INFUSÃO
Na verdade, o boldo, assim como quase tudo o que conhecemos como chá, tecnicamente não pode ser chamado assim. Só podem receber esse nome as bebidas que vêm da planta Camellia sinensis -os básicos são o chá-verde, o chá-preto e o oolong.
O que diferencia os três é o tipo de tratamento a que estão sujeitos: o chá-preto, de gosto mais forte, sofre um processo de oxidação mais intenso. Já o chá-verde não é fermentado. No meio do caminho, o oolong é semifermentado. Os demais "chás" -como mate, cidreira, camomila- são, na verdade, infusões.
O tradicional chá-verde vem ganhando adeptos no Brasil por suas propriedades antioxidantes. Isso ocorre devido à presença em grande quantidade dos polifenóis, que ajudam a prevenir doenças como câncer e problemas cardiovasculares.
Uma pesquisa publicada no mês passado na revista "Archives of Internal Medicine" indicou que tomar pelo menos duas xícaras de chá-verde por dia diminui em 46% a chance de as mulheres desenvolverem câncer de ovário. Realizado pelo Instituto Karolinska, na Suécia, o estudo acompanhou, de 1987 a 2004, mais de 60 mil pessoas. A redução do risco é de 24% para as que tomam uma xícara diária e de 18% para as que tomam menos do que isso.
Os chás também fornecem fitoquímicos, minerais e algumas vitaminas -depende da planta que for usada. O baixo valor calórico é outra vantagem.
"Se ele não for adoçado, tem zero calorias. Se tiver uma colher de sobremesa de açúcar ou de mel, tem 40 calorias em média. As calorias não são da bebida preparada com a planta, e sim do adoçante", diz Vanderli Marchiori.


Texto Anterior: Receita
Próximo Texto: Debaixo da pele
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.