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s.o.s família - rosely sayão
Guloseimas, felicidade e obesidade
Boa parte dos adultos investe em uma boa
aparência e, nos dias atuais, isso compreende principalmente ser magro. Dietas, cirurgias, programas de reeducação alimentar,
exercícios físicos e tudo o mais formam um
pacote que tem o objetivo de levar as
pessoas a ter e manter um peso considerado
aceitável. Aceitável do ponto de vista social, e
não da saúde, é bom lembrar. Ao mesmo tempo, ocorre um fenômeno bem contraditório
em relação a esse fato.
Tenho recebido muitas mensagens de mães
preocupadas com o sobrepeso de filhas e filhos adolescentes. Mas esse é um problema
também de crianças. Pesquisadores afirmam
que, nas últimas décadas, tem aumentado
consideravelmente a obesidade na infância e
na adolescência. Os motivos seriam, entre outros, vida sedentária e excesso de alimentos
gordurosos. Mas, se os filhos aprendem principalmente observando o comportamento
dos pais e adultos em geral, por que isso está
acontecendo? Não seria de esperar o oposto?
Bem, para começo de conversa, fazer dieta
não é nada fácil, e os adultos sabem disso. E há
muita mãe e muito pai reclamando de não poder comer isso ou aquilo ou comendo, mas lamentando por antecipação os efeitos que isso
vai acarretar em seu peso e em sua aparência.
Fazer dieta, por mais que se diga o contrário,
significa privar-se de alguns alimentos ou de
uma certa quantidade deles. E é no sofrimento
que isso acarreta que crianças e adolescentes
ficam de olho. "Crescer é isso? Não poder comer o que quer, quando e quanto quer e frustrar-se por causa disso?" Não deve ser difícil os
filhos chegarem a esse tipo de conclusão, o que
pode estimular o apetite deles para o que consideram gostoso de comer.
E mais: já comentamos diversas vezes a tendência de pais de evitar o sofrimento e a frustração dos filhos e de buscar o prazer e a felicidade deles. E, para a criança, felicidade pode
significar comer um lanche em vez de almoçar
ou jantar ou ter um monte de guloseimas à
disposição para comer enquanto assiste à televisão ou faz a lição de casa. Ou ainda ir com a
família toda a uma lanchonete de marca para,
juntos, comerem o que ela gosta. E os pais vão,
movidos principalmente por esse impulso de
participar do mundo do filho. Que engano,
não é verdade? Agindo assim, com regularidade, os pais conseguem, sim, satisfazer um prazer imediato do filho, mas deixam de educar e
não levam em conta as consequências futuras
na vida dos filhos.
Claro que deixar de comer lanches de aparência chamativa provoca frustração na criança. Mas nada que seja traumático, que não
possa ter um efeito positivo mais tarde.
Hoje, muitas crianças e muitos adolescentes
recusam-se a sentar-se com os pais para almoçar ou jantar juntos. Está certo que a correria
da vida moderna muitas vezes impossibilita
esse ritual no dia-a-dia. Mas, se os pais insistem quando podem (sempre existe o fim de
semana, não é verdade?), esse pode tornar-se
um hábito saudável em todos os sentidos
-no alimentar, no da convivência familiar
com seus rituais e, principalmente, na construção de um vínculo de pertencimento dos filhos em relação à família.
Ah! Não podemos deixar de lembrar o
quanto a escola contribui para essa história:
em quase todas elas há cantinas que oferecem
todas as porcarias disponíveis para a criançada. E qual a criança normal que vai preferir
comprar uma maçã a um salgadinho ou coisa
que o valha?
De nada adianta a escola dar aulas teóricas
sobre a alimentação saudável e, na hora do intervalo, deixar disponível o que não o é. Nesse
sentido, a escola está bem junto com os pais:
ela também quer dar prazer e felicidade aos
alunos. Do jeito equivocado, infelizmente.
Por último, é preciso lembrar que o petisco e
o doce servem de mercadoria de barganha aos
pais, o que acaba conferindo a eles um valor
afetivo, que, na realidade, eles não têm. Mas isso já merece uma conversa especial, concorda?
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail:
roselys@uol.com.br
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