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foco nele
Mais anti-séptico bucal do que fio dental
GABRIELA SCHEINBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA
É difícil encontrar uma academia de ginástica que não tenha um movimento intenso. As pessoas migram para as aulas
de spinning, step e qualquer outra novidade do momento sem hesitar. Afinal,
cuidar do corpo é saudável. Tomar conta
dos dentes também, mas dificilmente as
pessoas dedicam o mesmo tempo para
cuidados bucais. "A boca pode ser a porta
de entrada para doenças", alerta Louis
DePaola, professor de odontologia da
Universidade de Maryland, nos Estados
Unidos, que esteve no Brasil recentemente para dar cursos e palestras na Universidade de São Paulo e em outras instituições do Rio de Janeiro e de Porto Alegre.
Estudos recentes mostram que uma
simples inflamação da gengiva (gengivite) pode estar relacionada a doenças sérias. Pessoas com gengivite avançada têm
uma incidência maior de derrames e ataques cardíacos, diz DePaola.
Mulheres com periodontite têm um
risco maior de dar à luz prematuramente
crianças de baixo peso. Especula-se que a
causa seja a migração dos germes que estão provocando a inflamação oral para
outras partes do corpo por meio da corrente sanguínea.
DePaola faz ainda outra constatação reveladora: escova e fio dental não bastam
para garantir a higiene da boca. Leia abaixo a entrevista do especialista.
Folha - O senhor acha que as pessoas têm
hoje boa higiene bucal?
Louis DePaola - A maioria da população
mundial não tem. O problema está no
conceito do que é boa higiene bucal. Uma
pessoa passa, em média, menos de 30 segundos escovando os dentes por dia. As
pessoas põem pasta na escova, passam
aquele produto na superfície dos dentes e
acham que estão fazendo um bom trabalho. Não estão. Com certeza essa prática
está deixando muita placa bacteriana para trás.
Folha - E qual a melhor forma de removê-la?
DePaola - A placa é muito aderente.
Quando deixamos que se prenda ao dente, as bactérias acabam se multiplicando e
provocando doenças. Felizmente, ela é
facilmente removível, seja escovando os
dentes, seja passando fio dental. Acontece que, segundo mostram os estudos,
mesmo as pessoas que se esforçam em
usar o fio dental fazem um bom trabalho
somente nos dentes da frente. Nos dentes
molares, a eficiência é menor.
Folha - Qual a solução para os dentes molares?
DePaola - Usar, de forma complementar, anti-sépticos bucais. Esse produto
potencializa a saúde bucal, reduzindo a
placa bacteriana e a inflamação das gengivas (gengivite), sendo que esta última
pode ser o primeiro passo para o desenvolvimento de doenças mais graves. O
anti-séptico consegue chegar aos locais
que a escova e o fio dental não alcançam.
Folha - Mas isso não exclui o uso da escova e do fio dental, certo?
DePaola - É um pacote. Você escova,
passa o fio dental e enxágua com o anti-séptico. A maior parte das pessoas escova
os dentes apenas duas vezes por dia, o
que é adequado. É mais importante escovar os dentes adequadamente do que fazê-lo de forma errada várias vezes ao dia.
O fio dental deve ser usado apenas uma
vez ao dia. Os estudos que estão sendo
feitos mostram que é fácil reduzir a placa
bacteriana enxaguando a boca com anti-séptico bucal duas vezes ao dia, durante
30 segundos.
Folha - O senhor disse que a gengivite pode ser o primeiro passo para uma doença
mais grave. Como isso ocorre?
DePaola - O primeiro estágio é a gengivite. A gengiva fica vermelha e pode sangrar. Com o avanço da doença, a gengivite fica mais severa. Há um aumento na
inflamação e, consequentemente, no
sangramento. A doença evolui para uma
inflamação chamada periodontite. Nessa
etapa, o osso é afetado, e a pessoa pode
até perder o dente. Periodontite é a segunda maior causa de perda de dente,
sendo que a primeira é a cárie. Em países
em desenvolvimento, é mais comum
uma pessoa perder os dentes por causa
da periodontite do que por cárie.
Folha - A idéia é prevenir as inflamações
da gengiva?
DePaola - A prevenção é o ideal. A cárie
é a doença infecciosa mais comum no
mundo, afetando 95% das pessoas do
planeta. A segunda mais comum é a periodontite, que afeta 90% das pessoas.
Folha - O que tem sido feito para alertar
as pessoas sobre esses riscos?
DePaola - Nos Estados Unidos, há um
esforço muito grande para incentivar as
pessoas a manterem boa higiene bucal.
Na sociedade atual, em que as pessoas estão mais ligadas em estética e em manter
uma vida saudável, os dentes são esquecidos. É uma grande dicotomia: as pessoas se dedicam a cuidar do corpo, mas não dos dentes, que são tão importantes
quanto o resto do corpo. Se um paciente tem uma cárie e um dente manchado e US$ 50 para gastar no dentista, ele provavelmente irá escolher tratar a mancha ao dente com cárie. As pessoas sempre preferem arrumar aquilo que as tornará mais bonitas do que mais saudáveis. É
preciso lembrar que, sem higiene bucal, no futuro não haverá dentes manchados
para tratar. Os dentes simplesmente não estarão mais lá.
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