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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003
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foco nele

Mais anti-séptico bucal do que fio dental

GABRIELA SCHEINBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA

É difícil encontrar uma academia de ginástica que não tenha um movimento intenso. As pessoas migram para as aulas de spinning, step e qualquer outra novidade do momento sem hesitar. Afinal, cuidar do corpo é saudável. Tomar conta dos dentes também, mas dificilmente as pessoas dedicam o mesmo tempo para cuidados bucais. "A boca pode ser a porta de entrada para doenças", alerta Louis DePaola, professor de odontologia da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, que esteve no Brasil recentemente para dar cursos e palestras na Universidade de São Paulo e em outras instituições do Rio de Janeiro e de Porto Alegre.
Estudos recentes mostram que uma simples inflamação da gengiva (gengivite) pode estar relacionada a doenças sérias. Pessoas com gengivite avançada têm uma incidência maior de derrames e ataques cardíacos, diz DePaola.
Mulheres com periodontite têm um risco maior de dar à luz prematuramente crianças de baixo peso. Especula-se que a causa seja a migração dos germes que estão provocando a inflamação oral para outras partes do corpo por meio da corrente sanguínea.
DePaola faz ainda outra constatação reveladora: escova e fio dental não bastam para garantir a higiene da boca. Leia abaixo a entrevista do especialista.

Folha - O senhor acha que as pessoas têm hoje boa higiene bucal?
Louis DePaola -
A maioria da população mundial não tem. O problema está no conceito do que é boa higiene bucal. Uma pessoa passa, em média, menos de 30 segundos escovando os dentes por dia. As pessoas põem pasta na escova, passam aquele produto na superfície dos dentes e acham que estão fazendo um bom trabalho. Não estão. Com certeza essa prática está deixando muita placa bacteriana para trás.

Folha - E qual a melhor forma de removê-la?
DePaola -
A placa é muito aderente. Quando deixamos que se prenda ao dente, as bactérias acabam se multiplicando e provocando doenças. Felizmente, ela é facilmente removível, seja escovando os dentes, seja passando fio dental. Acontece que, segundo mostram os estudos, mesmo as pessoas que se esforçam em usar o fio dental fazem um bom trabalho somente nos dentes da frente. Nos dentes molares, a eficiência é menor.

Folha - Qual a solução para os dentes molares?
DePaola -
Usar, de forma complementar, anti-sépticos bucais. Esse produto potencializa a saúde bucal, reduzindo a placa bacteriana e a inflamação das gengivas (gengivite), sendo que esta última pode ser o primeiro passo para o desenvolvimento de doenças mais graves. O anti-séptico consegue chegar aos locais que a escova e o fio dental não alcançam.

Folha - Mas isso não exclui o uso da escova e do fio dental, certo?
DePaola -
É um pacote. Você escova, passa o fio dental e enxágua com o anti-séptico. A maior parte das pessoas escova os dentes apenas duas vezes por dia, o que é adequado. É mais importante escovar os dentes adequadamente do que fazê-lo de forma errada várias vezes ao dia. O fio dental deve ser usado apenas uma vez ao dia. Os estudos que estão sendo feitos mostram que é fácil reduzir a placa bacteriana enxaguando a boca com anti-séptico bucal duas vezes ao dia, durante 30 segundos.

Folha - O senhor disse que a gengivite pode ser o primeiro passo para uma doença mais grave. Como isso ocorre?
DePaola -
O primeiro estágio é a gengivite. A gengiva fica vermelha e pode sangrar. Com o avanço da doença, a gengivite fica mais severa. Há um aumento na inflamação e, consequentemente, no sangramento. A doença evolui para uma inflamação chamada periodontite. Nessa etapa, o osso é afetado, e a pessoa pode até perder o dente. Periodontite é a segunda maior causa de perda de dente, sendo que a primeira é a cárie. Em países em desenvolvimento, é mais comum uma pessoa perder os dentes por causa da periodontite do que por cárie.

Folha - A idéia é prevenir as inflamações da gengiva?
DePaola -
A prevenção é o ideal. A cárie é a doença infecciosa mais comum no mundo, afetando 95% das pessoas do planeta. A segunda mais comum é a periodontite, que afeta 90% das pessoas.

Folha - O que tem sido feito para alertar as pessoas sobre esses riscos?
DePaola -
Nos Estados Unidos, há um esforço muito grande para incentivar as pessoas a manterem boa higiene bucal. Na sociedade atual, em que as pessoas estão mais ligadas em estética e em manter uma vida saudável, os dentes são esquecidos. É uma grande dicotomia: as pessoas se dedicam a cuidar do corpo, mas não dos dentes, que são tão importantes quanto o resto do corpo. Se um paciente tem uma cárie e um dente manchado e US$ 50 para gastar no dentista, ele provavelmente irá escolher tratar a mancha ao dente com cárie. As pessoas sempre preferem arrumar aquilo que as tornará mais bonitas do que mais saudáveis. É preciso lembrar que, sem higiene bucal, no futuro não haverá dentes manchados para tratar. Os dentes simplesmente não estarão mais lá.


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