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Técnica australiana atua sobre os chamados músculos estabilizadores, que se contraem antes de qualquer movimento
Reeducar o músculo pode acabar com dores
Roberto Price/Folha Imagem
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Neide Masini de Oliveira faz exercícios terapêuticos em sua galeria
de arte, no Rio |
CRISTINA CAROLA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando você levanta um braço ou dá um passo, mexe mais
músculos do que pode ver. Os chamados músculos estabilizadores -ou mais profundos- se contraem antes mesmo de o
movimento acontecer. Mas o cansaço, um trauma ou mesmo o
sedentarismo podem inibir essa contração involuntária, sobrecarregando outros músculos e causando dor.
É na reeducação desse grupo muscular que se baseia a estabilização segmentar, técnica desenvolvida na Universidade de Queensland, na Austrália, e aplicada por especialistas no Brasil.
"Foi uma salvação para mim. Eu me livrei da cirurgia e das dores, porque nem os analgésicos mais fortes funcionavam", conta a galerista Neide Masini de Oliveira, 51, que sofria de dor devido a um escorregamento de vértebra.
Por meio do professor de shiatsu do marido, ela conheceu a fisioterapeuta Carla Danielle Chagas da Silva, do Rio de Janeiro, especialista em estabilização segmentar. Hoje, depois de quase
um ano de tratamento, Oliveira
caminha oito quilômetros por dia
e não sente dor.
A técnica aplica exercícios terapêuticos específicos para reeducar os músculos estabilizadores.
Por causa da dor, eles pararam de
funcionar ou passaram a atuar de
forma inadequada, afetando os
demais músculos. O princípio da
técnica é devolver aos estabilizadores a sua função. Afinal, o músculo não volta a funcionar sozinho, explica Sérgio Marinzeck, fisioterapeuta de Campinas (SP)
especialista na técnica.
As dores causadas por lesões de
overtraining (excesso de treino),
Ler/Dort (lesões por esforço repetitivo), hérnia, estenose de canal,
tendinite, contusões, traumatismos e edemas podem ser tratadas
com a técnica. Ela pode também
ser útil a gestantes que têm as regiões lombar e sacroilíaca muito
instáveis, decorrente do deslocamento do centro de gravidade.
O fisioterapeuta da Confederação Brasileira de Luta e especialista em estabilização segmentar Fábio Perissé, do Rio de Janeiro, está
aplicando a técnica em atletas.
"Em duas sessões de atendimento
no Pan-Americano de Luta, a
atleta Daniela Polzin, que tem
hérnia, parou de sentir parestesia
na perna", conta o fisioterapeuta,
que também já atendeu o lutador
Antoine Braga Jaoud devido a dores nos braços.
As maiores vantagens da estabilização segmentar em relação a
outras terapias, segundo Chagas
da Silva, é que a técnica tem grande e rápida eficácia e respeita a
progressão de reabilitação muscular, porque é feita em etapas.
Esse tipo de abordagem, em estágios, diferentemente da fisioterapia convencional, "tem a vantagem de não deixar furos", diz o fisioterapeuta Felix Ricardo Andrusaits, do Laboratório do Movimento do Hospital das Clínicas
de São Paulo.
Um estudo realizado na Austrália, durante 30 meses, apontou
que, no grupo submetido à estabilização segmentar, não houve,
estatisticamente, reincidência de
dores, diferentemente dos pacientes que fizeram fisioterapia
convencional.
"Quando você sofre um trauma
na coxa, por exemplo, não adianta restabelecer apenas a integridade do músculo, é necessário garantir sua função, a coordenação
de uma musculatura com a outra." O HC não oferece a técnica,
porque, segundo Andrusaits, ela
exige atendimento muito individualizado.
As primeiras pesquisas na Austrália envolveram os problemáticos músculos da região lombar
-há mais de 90 causas para a popular dor nas costas, segundo Perissé. Aliás, dores lombares foram, durante muitos anos, o tormento na vida da artesã Maria
Beatriz Pereira, 61.
Antes de fazer uma cirurgia na
coluna, há sete anos, ela tentou a
fisioterapia convencional, que
não deu certo. Depois que as dores voltaram, neste ano, seu médico indicou a estabilização segmental vertebral.
Mas a técnica não atua apenas
na região lombar. As articulações,
entre elas joelho, quadril, pescoço, pé e ombro, também têm
músculos específicos para a estabilização.
Há três anos, com uma dor crônica no joelho, a dentista Eliane
Pereira Sturion, 47, viu sua rotina
mudar drasticamente. Teve de ficar afastada por um ano das atividades físicas, dirigir era doloroso
e subir escadas, só com uma das
pernas. Depois de dois anos convivendo com as dores, ela submeteu-se à estabilização segmentar.
Hoje, ela faz ginástica cinco vezes
por semana, sem nenhuma dor.
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