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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003
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Técnica australiana atua sobre os chamados músculos estabilizadores, que se contraem antes de qualquer movimento

Reeducar o músculo pode acabar com dores

Roberto Price/Folha Imagem
Neide Masini de Oliveira faz exercícios terapêuticos em sua galeria de arte, no Rio


CRISTINA CAROLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando você levanta um braço ou dá um passo, mexe mais músculos do que pode ver. Os chamados músculos estabilizadores -ou mais profundos- se contraem antes mesmo de o movimento acontecer. Mas o cansaço, um trauma ou mesmo o sedentarismo podem inibir essa contração involuntária, sobrecarregando outros músculos e causando dor.
É na reeducação desse grupo muscular que se baseia a estabilização segmentar, técnica desenvolvida na Universidade de Queensland, na Austrália, e aplicada por especialistas no Brasil.
"Foi uma salvação para mim. Eu me livrei da cirurgia e das dores, porque nem os analgésicos mais fortes funcionavam", conta a galerista Neide Masini de Oliveira, 51, que sofria de dor devido a um escorregamento de vértebra.
Por meio do professor de shiatsu do marido, ela conheceu a fisioterapeuta Carla Danielle Chagas da Silva, do Rio de Janeiro, especialista em estabilização segmentar. Hoje, depois de quase um ano de tratamento, Oliveira caminha oito quilômetros por dia e não sente dor.
A técnica aplica exercícios terapêuticos específicos para reeducar os músculos estabilizadores. Por causa da dor, eles pararam de funcionar ou passaram a atuar de forma inadequada, afetando os demais músculos. O princípio da técnica é devolver aos estabilizadores a sua função. Afinal, o músculo não volta a funcionar sozinho, explica Sérgio Marinzeck, fisioterapeuta de Campinas (SP) especialista na técnica.
As dores causadas por lesões de overtraining (excesso de treino), Ler/Dort (lesões por esforço repetitivo), hérnia, estenose de canal, tendinite, contusões, traumatismos e edemas podem ser tratadas com a técnica. Ela pode também ser útil a gestantes que têm as regiões lombar e sacroilíaca muito instáveis, decorrente do deslocamento do centro de gravidade.
O fisioterapeuta da Confederação Brasileira de Luta e especialista em estabilização segmentar Fábio Perissé, do Rio de Janeiro, está aplicando a técnica em atletas. "Em duas sessões de atendimento no Pan-Americano de Luta, a atleta Daniela Polzin, que tem hérnia, parou de sentir parestesia na perna", conta o fisioterapeuta, que também já atendeu o lutador Antoine Braga Jaoud devido a dores nos braços.
As maiores vantagens da estabilização segmentar em relação a outras terapias, segundo Chagas da Silva, é que a técnica tem grande e rápida eficácia e respeita a progressão de reabilitação muscular, porque é feita em etapas.
Esse tipo de abordagem, em estágios, diferentemente da fisioterapia convencional, "tem a vantagem de não deixar furos", diz o fisioterapeuta Felix Ricardo Andrusaits, do Laboratório do Movimento do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Um estudo realizado na Austrália, durante 30 meses, apontou que, no grupo submetido à estabilização segmentar, não houve, estatisticamente, reincidência de dores, diferentemente dos pacientes que fizeram fisioterapia convencional.
"Quando você sofre um trauma na coxa, por exemplo, não adianta restabelecer apenas a integridade do músculo, é necessário garantir sua função, a coordenação de uma musculatura com a outra." O HC não oferece a técnica, porque, segundo Andrusaits, ela exige atendimento muito individualizado.
As primeiras pesquisas na Austrália envolveram os problemáticos músculos da região lombar -há mais de 90 causas para a popular dor nas costas, segundo Perissé. Aliás, dores lombares foram, durante muitos anos, o tormento na vida da artesã Maria Beatriz Pereira, 61.
Antes de fazer uma cirurgia na coluna, há sete anos, ela tentou a fisioterapia convencional, que não deu certo. Depois que as dores voltaram, neste ano, seu médico indicou a estabilização segmental vertebral.
Mas a técnica não atua apenas na região lombar. As articulações, entre elas joelho, quadril, pescoço, pé e ombro, também têm músculos específicos para a estabilização.
Há três anos, com uma dor crônica no joelho, a dentista Eliane Pereira Sturion, 47, viu sua rotina mudar drasticamente. Teve de ficar afastada por um ano das atividades físicas, dirigir era doloroso e subir escadas, só com uma das pernas. Depois de dois anos convivendo com as dores, ela submeteu-se à estabilização segmentar. Hoje, ela faz ginástica cinco vezes por semana, sem nenhuma dor.


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