São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009
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ESPECIAL

Coração aberto

Brasileiros não temem doenças do coração nem sabem que são as que mais matam no país; embora conheçam os fatores de risco, prevenção é deficiente

Caio Guatelli/Folha Imagem
Equipe do cardiologista Luiz Alberto Oliveira Dallan em cirurgia no InCor

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mais de 90% dos brasileiros sabem que tabagismo, hipertensão, colesterol e estresse são fatores de risco para as doenças do coração, mas 42% não fazem nada para evitar essas condições. Os dados são da pesquisa Datafolha realizada entre os dias 9 e 11 de setembro, em todas as regiões do país e envolvendo 2.073 pessoas. O levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
O indício de que o conhecimento não resulta em prevenção é reforçado pelo número de mortes por doenças cardiovasculares no país. Segundo os últimos dados do SUS, elas causaram 308.466 mortes em 2007 -quase o dobro das mortes por câncer (161.491). "A projeção da OMS (Organização Mundial da Saúde) é que, em 2040, o Brasil será o campeão de mortalidade por causa cardiovascular", diz Rui Ramos, da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).
Para Carlos Alberto Machado, também da SBC, a situação reflete a política para a saúde no país: "Não existe cultura de fazer prevenção de doença crônica, porque não dá resultado imediato e exige um esforço enorme de convencimento da população." O cardiologista e ex-ministro da Saúde Adib Jatene acredita que o maior desafio é mudar hábitos. "O hábito é como uma droga: a pessoa fica viciada em determinados comportamentos. Mesmo sabendo que são maléficos, não consegue largá-los."
Além disso, os brasileiros não sabem que as doenças do coração são a principal causa de morte no país. Segundo o Datafolha, 40% consideram o câncer como a primeira causa.
Os problemas cardíacos entram em quarto lugar, com 10% das respostas. O medo da doença do coração afeta 3% dos brasileiros, contra 45% que temem o câncer.
"O medo é menor porque a população sabe que existem formas de tratar. Em relação ao câncer, a ideia é que não há como tratar", diz Jatene. Luiz Alberto Dallan, do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo) acredita que os indiscutíveis avanços da cardiologia colaboram para essa percepção. "Há um conceito de que a cardiologia pode solucionar tudo, o que infelizmente não é verdade."


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