São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004
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foco nele

A "chave" da homeopatia pode estar na água

KARINA KLINGER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Uma grande brincadeira, uma piada." É isso que o reumatologista e homeopata inglês Peter Fisher, 53, pensa a respeito do desafio lançado pela rede britânica BBC, divulgado também no Brasil, que oferece um prêmio de US$ 1 milhão a quem explicar cientificamente como a homeopatia age no organismo. Médico da rainha Elizabeth 2ª há mais de dez anos e diretor clínico e de pesquisa do hospital Royal London Homeopathic, ele esteve em São Paulo, na semana passada, para participar do 8º Encontro Internacional de Pesquisas Institucionais em Homeopatia.
Como pesquisador, Fisher acredita que a resposta sobre o funcionamento da homeopatia esteja na água, substância na qual todos os ativos homeopáticos são diluídos. "Há pouco conhecimento sobre as inúmeras propriedades da água, ela pode ser a chave da questão, afirma Fisher. Leia mais na entrevista abaixo.
 

Folha - Como a comunidade médica vê o desafio lançado pela rede BBC?
Peter Fisher -
Essa história mais parece uma grande brincadeira, uma piada. Ainda mais porque quem propôs a idéia é um ilusionista, e a homeopatia é algo bastante sério, está longe de ser uma mágica. Para mim, tudo isso não é sério e não deve ser levado em conta.

Folha - Por que a homeopatia ainda gera controvérsia na comunidade científica?
Fisher -
Até hoje não se pode mostrar como a homeopatia realmente funciona. Os medicamentos homeopáticos, altamente diluídos, não agem de acordo com a farmacologia clássica, que se baseia em uma interação entre uma molécula de determinada droga e um determinado receptor do próprio organismo. O mistério permanece, mas já fizemos progresso. Alguns testes mostraram efeitos físico-químicos complexos que são um caminho possível para explicar a ação dos remédios da homeopatia. Acredito que possa haver alterações físicas nas moléculas da água que expliquem por que os medicamentos homeopáticos surtem efeito. O que acontece é que a estrutura da água ainda é muito pouco estudada. Ela pode ter várias propriedades ainda desconhecidas. E a água é diferenciada. Em outras substâncias, a forma sólida é sempre mais densa que a líquida, algo que não acontece com a água, em que o gelo fica por cima da forma líquida, por exemplo.

Folha - A homeopatia é somente uma forma de medicina complementar?
Fisher -
A terminologia que define a homeopatia é uma dificuldade. Uns chamam de alternativa, outros chamam de complementar. Acredito que o melhor maneira de classificá-la é como integrativa, pois ela é muito usada juntamente com o tratamento alopático convencional.

Folha - É possível usar a homeopatia em qualquer área da medicina?
Fisher -
Ela pode ser usada em todas as áreas da medicina, sim. Em pacientes com câncer, por exemplo, ela costuma trazer resultados positivos quando está associada ao tratamento convencional, como fazemos em nosso hospital. Não podemos curar o câncer, mas podemos amenizar alguns sintomas e, principalmente, os efeitos colaterais do tratamento alopático, como a náusea provocada pela quimioterapia.

Folha - Em que tipo de doença a homeopatia se mostra mais eficaz?
Fisher -
Quando o assunto é asma, a homeopatia pode ser a única opção, o que é comum após o uso insatisfatório do tratamento convencional. Além de ser excelente para tratar asma, a homeopatia costuma apresentar uma resposta positiva no tratamento de alergias em geral. Além disso, conseguimos bons resultados ao tratar tensão pré-menstrual, problemas ginecológicos, transtornos mentais, como a depressão, fibromialgia e dores crônicas em geral.

Folha - Quais as vantagens da homeopatia em relação à alopatia?
Fisher -
Em primeiro lugar, a homeopatia é bastante segura. Por ser natural, ela está livre de possíveis efeitos colaterais nocivos à saúde do paciente. Pesquisas já mostraram que os europeus costumam optar pela homeopatia exatamente por causa da segurança que ela dá. Além disso, nós, homeopatas, não tratamos a doença apenas, mas a pessoa como um todo, o que traz bem-estar geral ao paciente. Essa relação é muito importante, mas há muito mais que isso. Acho que o fato de os medicamentos não tratarem aspectos específicos, mas todos os sintomas que estão atrapalhando e aparecem nas queixas dos pacientes, também é um diferencial e tanto. Tratamos a pessoa, não a doença.

Folha - É vantajoso oferecer a homeopatia no sistema público de um país, como já ocorre no Reino Unido e na França?
Fisher -
O custo mais reduzido da homeopatia quando comparado com os medicamentos alopáticos é evidente. Aliás, apesar de os dados não serem precisos, o interesse pelo método está crescendo no mundo inteiro. Na França, por exemplo, 40% da população já incluiu o método em seu cotidiano.

Folha - Como é ser médico da rainha da Inglaterra?
Fisher -
Por uma questão ética, não posso revelar detalhes. Sou apenas um dos seus médicos e me sinto honrado por isso. Tanto ela como o príncipe Charles são bastante fiéis à homeopatia e interessados nesse tipo de medicina, que é usado pela família real há mais de cem anos.


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