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s.o.s. família
rosely sayão
Nem "general de pijama" nem amigo
Você conhece a expressão "generais de pijama"? Os pais podem não conhecer, mas,
certamente, os filhos adolescentes sabem usar
adequadamente essa gíria. Segundo um jovem
leitor, são aqueles pais que, antecipadamente,
julgam que o namorado que a filha arruma
sempre tem intenções de praticar sexo no relacionamento que estabelecem com ela. Por
conta disso, exercem um rígido controle sobre
a vida social das filhas, o que acaba por criar
dificuldades enormes ao namoro. Nosso leitor
tem uma questão: como lidar com esses pais?
Tenho um contraponto bem interessante a
essa carta para ajudar na reflexão. A mãe de
duas garotas -uma com 15 anos e a outra
com 13- escreveu contando que, numa conversa com a mais velha, ficou sabendo que ela
fuma desde os 13 e que já transou com o namorado. A mãe surpreendeu-se muito ao ouvir a filha revelar seus segredos -pressionada
por ter sido surpreendida em um deslize-,
porque investe na educação e acredita que a
vida sexual exige maturidade e, por isso mesmo, ainda tutela de perto os passos da garota.
Ao investigar como a filha havia encontrado
ocasião para ter intimidade com o namorado,
a surpresa foi ainda maior. Levada pela própria mãe para passar a tarde no shopping com
amigos e namorado e com hora marcada para
voltar, a garota driblou o controle: em vez de
ficar lá, o casal fugia para a casa do garoto e,
três horas depois, no horário combinado, lá
estava ela na porta do shopping para encontrar-se com a mãe. A questão dessa mãe é com
as famílias dos garotos. Ela pergunta se elas
não poderiam colaborar, impedindo que os filhos levassem as namoradas para casa.
A primeira coisa que podemos concluir dessas duas cartas é que as preocupações de quem
tem filhas são diferentes das de quem tem filhos, especialmente quando o assunto é a sexualidade. Sim, os pais ainda têm expectativas
e anseios diferentes ao educar filhos e filhas. A
questão é que, mesmo tendo sofrido na pele os
efeitos dos preconceitos sociais na época em
que passaram pela adolescência, os adultos de
hoje, na hora de encarnarem o papel de pai e
de mãe, sentem dificuldade em superá-los.
Mas muitos pais não se dão conta de que tais
preconceitos podem atrapalhar a educação de
ambos, garotas e garotos. Nada adianta oferecer um clima mais permissivo aos meninos e
um mais restritivo às meninas. Isso não contribui em nada a ambos, ao crescimento que
leva à maturidade, à autonomia, à responsabilidade, à liberdade.
Outra questão que as cartas de nossos leitores de gerações diferentes apontam é justamente a delicada e complexa relação estabelecida atualmente entre as gerações dos mais velhos e dos mais novos. Quem assistiu ao filme
"Invasões Bárbaras" -a quem não assistiu recomendo- deve lembrar-se do momento em
que três jovens universitários fingem prestar
uma homenagem a um ex-professor que se
encontra doente e hospitalizado. Ao observar
o fato, um amigo do professor reage e diz que,
para uma geração que ele considera de semi-analfabetos em matéria de vida, até que eles tinham se portado com decência. A resposta do
protagonista expressa o modo de relação entre essas gerações: "Eles poderiam ter aprendido, como nós aprendemos. Mas não há quem
os ensine".
Os pais de hoje são da geração que lutou pela
liberdade -liberdade que é sempre de escolha- e pelas relações mais democráticas.
Mas, na hora de concretizar esse anseio, atrapalham-se, confundem-se. Os adultos que
educam hoje ora agem como "generais de pijama", ora como "amigos" que deixam o filho
aprisionado em seu modo de viver impulsivo
e instantâneo, acreditando que isso é dar liberdade. Não é.
Precisamos descobrir um equilíbrio maior
na relação com os jovens: regras demais ou argumentos em demasia ensinam muito pouco.
E, como diz Fernando Savater: "Para ser homem, não basta nascer; é preciso também
aprender". Essa é a função da educação.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre
outros; e-mail: roselys@uol.com.br
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