São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2000
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Restos de madeira, plástico e até embalagens de leite saem do lixo e viram utensílios que incrementam a decoração da casa
Casa ecológica pode ser bonita e prática

MARGARETE MAGALHÃES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um fogão solar que dispensa gás e eletricidade, uma mesa feita de restos de caixinhas de leite e uma pia cuja base é um tronco de madeira abandonado no sul da Bahia. Essas são apenas algumas das "esquisitices" da casa montada na exposição Viver Ecológico, que ocupa parte do shopping Market Place, em São Paulo, até 6 de agosto. O fogão que funciona só com luminosidade (nem mesmo sol é necessário) soma-se a outros utensílios ecologicamente corretos -feitos à base de matérias-primas naturais, reaproveitadas ou recicladas- que podem ser vistos na mostra. Restos de madeira, de plástico e até de embalagem de leite longa vida são transformados em objetos que dão charme e praticidade à decoração da casa, derrubando o mito de que produtos ecologicamente corretos são feios e pouco práticos. Basta usar a criatividade para aproveitar o que seria jogado no lixo e, assim, trazer economia e praticidade para o dia-a-dia das pessoas.
"Nem tudo que é refugo é feio. Pode se ter uma vida ecológica sem abrir mão da tecnologia, da beleza e da praticidade", diz Cristiana Kravol, curadora da mostra.
Quem teve a idéia de montar a exposição foi o Idhea (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica), ONG que se dedica a divulgar o modo de vida sustentável, capaz de conciliar qualidade de vida à preocupação com o uso dos recursos naturais.
Além de aparelhos feitos de materiais geralmente encontrados no lixo doméstico, a cozinha ecologicamente correta também tem sensores em todas as torneiras para evitar que a água fique jorrando sem necessidade (a torneira só é ativada quando um prato ou um copo estiver embaixo do sensor). Nada mais sensato em uma cidade como São Paulo, que sofre com o rodízio causado pela escassez de água tratada.
"Numa casa ecológica, as condições bioclimáticas são respeitadas: o consumo de matérias-primas não-renováveis, como energia e água, é reduzido, e promove-se um número maior de interações com o ambiente", explica Márcio Araújo, 37, coordenador do Idhea.
Adquirir alguns desses móveis e utensílios ecológicos ainda é caro, mas a curadora da exposição argumenta que, no momento em que houver demanda pelos produtos, as indústrias começarão a fabricar em escala e o preço cairá, tornando-os mais acessíveis.
O fogão solar não precisa de gás nem de fósforo. Custa R$ 140 e é fabricado na Paraíba, pela Fábrica Alternativa Comunitária de Fogão Solar, coordenada por um padre. Uma placa de alumínio e ferro concentra os raios solares e retém o calor mesmo quando o dia está nublado.
Já a cobertura da mesa é uma chapa feita com embalagens de leite recicladas. Qualquer pessoa interessada em trabalhar com esse tipo de material pode encomendar as chapas, em qualquer espessura, em uma fábrica localizada em Limeira (SP).
A decoração da casa ecológica se completa com objetos e peças de madeira, como uma cadeira feita com cabos de vassoura, uma pia de tronco e biombos feitos com canoas abandonadas pelos índios pataxós, que moram no sul da Bahia.


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