|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
É nas cabeças jovens que a careca se instala
Milton Peruzzo/Divulgação
|
|
ANTES O comerciante Roberto Silvestrim Sampaio, 29, tomou medicamento por um ano e meio: "Senti melhora, mas não o suficiente"
DEPOIS Há menos de um ano, fez um microtransplante e pretende fazer outro: "Estou bem contente, mas não totalmente satisfeito. Quem me vê de longe tem a impressão de que tenho bastante cabelo mas de perto percebe que é ralo"
A pessoa nasce com o gene para a calvície, e ele pode dar os primeiros sinais quando a "vítima" está com 17 anos de idade
ANTONIO ARRUDA - FREE-LANCE PARA A FOLHA
É puro preconceito ou, no mínimo, ignorância achar que a careca é
um estado típico de homens com mais de 50. A barriga pode até ser,
mas as principais vítimas da calvície são os homens no auge da juventude. Entre aqueles com tendência genética, 80% desenvolvem a calvície
entre 24 e 26 anos de idade; 15% apresentam os sintomas aos 17 anos, e
uma minoria, 5%, tem de lidar com o problema depois dos 30.
Esses dados indicam que a associação
idade avançada/calvície pode adiar um
tratamento que, feito antes, pode evitar
parte dos transtornos vividos por muitos
dos que se deparam com a perda gradativa dos cabelos, a chamada alopecia androgenética (ou androgênica). Estima-se
que ela atinja hoje, no Brasil, cerca de 40
milhões de homens.
De causa genética e hormonal -a pessoa já nasce calva-, ela é progressiva,
podendo atingir diversos níveis (leia quadro na página 9) e causar sentimentos
que vão de uma simples insegurança ao
desespero.
Dormir por duas semanas com a cabeça num nível abaixo do resto do corpo na
tentativa de aumentar a circulação sanguínea; esmagar anticoncepcionais e
acrescentá-los ao xampu ou comprar loções das mais diversas procedências na
esperança de que, como num milagre, a
calvície desapareça. Nada disso resolve,
mas calvo angustiado tenta de tudo.
O publicitário Marcus Vinícius Brito da
Costa, 34, tinha 20 anos quando percebeu
que os cabelos do alto da cabeça estavam
ficando fracos. Seis anos depois, já não
conseguia mais esconder a calvície. "Foi
terrível. Pensei que estava ficando velho
antes da hora, e isso me incomodou muito", diz ele. A primeira dificuldade, diz
ele, é aceitar que se está ficando careca:
"Eu dizia para todos que não estava nem
um pouco preocupado com isso, mas, na
verdade, eu estava muito preocupado,
desesperado mesmo".
"A insegurança por conta da calvície
chegou a atrapalhar bastante meu dia-a-dia; se a pessoa me olhava muito na rua,
eu já ficava "invocado", achando que ela
olhava minha careca", conta o engenheiro agrônomo Luiz Cláudio de Almeida,
31. Isso começou aos 19 anos de idade,
quando Almeida fez o primeiro dos três
transplantes.
De acordo com o cirurgião plástico Benedito Figueiredo Filho, a maior parte
dos que procuram atendimento médico
(cerca de 70%) têm entre 17 e 26 anos,
idade em que há grande afirmação da sexualidade. "É a fase das conquistas, e eles
pensam que a calvície é um empecilho
inaceitável", diz o médico.
Há homens que até se acham impotentes por conta da careca, outros reclamam
de queda no desempenho profissional,
conta o tricologista (especialista em pêlos) e diretor da Sociedade Brasileira para
Estudos do Cabelo, Valcinir Bedin.
Até que se supere essa mudança indesejável na aparência (o que nem todos
conseguem), o sujeito pode colocar em
jogo muitas das atividades importantes
de sua vida em função do distúrbio.
"Quando fiz o segundo transplante, minha cabeça ficou cheia de cascas, ficou
gordurosa, e o pessoal da faculdade zombava tanto que acho que "bombei" um
pouco também por isso", conta Almeida,
que pretende fazer ainda mais três intervenções.
Na contramão da turma de calvos que
pedem socorro nos consultórios médicos, estão os carecas que decidem assumir o visual, como Brito da Costa: "Peguei a máquina e raspei. As pessoas disseram: você está melhor assim. Então mantive".
A alopecia androgenética é resultado
de um processo intracelular, que ocorre
no folículo piloso e acomete tanto homens (a maioria) como mulheres.
E o cabelo não cai de uma só vez. Ele sofre um processo chamado de miniaturização: cada vez que há uma troca, nasce
um fio mais fino e fraco, até que se chega
no chamado fio inviável, explica Bedin.
Todas as pessoas possuem enzimas 5-alpha-redutase tipo 2 no organismo, responsáveis pela transformação de testosterona em dihidrotestostetora (DHT).
Essa última é a substância responsável pela miniaturização dos fios de cabelo.
Quando nasce com predisposição genética para a calvície, o indivíduo possui mais
enzimas 5-alpha-redutase tipo 2 e mais
receptores de DHT do que os que não
têm a influência genética.
A consequência é a perda gradativa dos
fios, em níveis que podem variar da queda nas entradas (região frontal) até a eliminação de todos os fios da parte superior da cabeça.
Não é possível determinar o espaço de
tempo entre a fase de miniaturização dos
fios e a calvície total. "Isso depende diretamente do tipo e da quantidade de genes
para calvície que o indivíduo possui.
Uma pessoa pode atingir seu nível máximo em dois anos, outra em cinco, outra
em dez", diz Bedin.
Sobre o diagnóstico da alopecia androgenética, existem duas maneiras de fazê-lo. Primeiro, por meio do padrão clínico,
ou seja, da observação das entradas e da
parte superior da cabeça (que inclui a
chamada coroa do padre). Posteriormente, por meio de biopsia de um fragmento do couro cabeludo, em que o patologista vai avaliar e identificar a presença das enzimas.
Texto Anterior: Anabolizante combate osteoporose em idosas Próximo Texto: Números Índice
|