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foco nela
Advogada revela direitos dos doentes
KÁTIA FERRAZ - FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Acredito que o choque de se saber
portador de câncer abala qualquer pessoa. Mas é preciso pensar em coisas práticas e partir logo para a ação." A frase é
da advogada Maria Cecília Mazzariol
Volpe, 61, que, em janeiro de 2001, descobriu ser portadora de câncer no intestino.
Hoje, após o tratamento da doença, milita em favor da divulgação dos direitos assegurados pela Constituição aos doentes
de câncer e também aos portadores de
enfermidades como hanseníase, tuberculose, Aids, cegueira, mal de Parkinson
e contaminação por radiação.
A advogada acaba de lançar a cartilha
"Faça Valer os seus Direitos", disponível
no site www.oncocamp.com.br, em que
se descobre, por exemplo, que portadores de câncer e de outras doenças têm direito a sacar o FGTS (Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço).
"Na minha opinião, é muito importante que as pessoas briguem por aquilo a
que têm direito. Não cura, mas colabora
muito com o êxito do tratamento", diz
ela. Leia entrevista abaixo.
Folha - Como surgiu a idéia da cartilha?
Maria Cecília Mazzariol Volpe - Quando
foi constatado meu câncer no intestino, a
primeira providência que tomei foi pedir
isenção da cobrança de imposto de renda
sobre a minha aposentadoria, mas, para
falar a verdade, não tinha idéia ainda da
quantidade de direitos assegurados pela
Constituição aos portadores dessa enfermidade. Procurada por uma professora
que havia ouvido falar sobre uma isenção
a que tinha direito, mas que não fazia a
menor idéia de como proceder, dei-me
conta de que precisava fazer algo a respeito, imaginando que, se ela, uma pessoa com nível qualificado, não tinha esse
conhecimento, o que diria a maioria da
população que lota os corredores dos
hospitais públicos. Iniciei então uma ampla pesquisa sobre o assunto.
Folha - O que é importante ressaltar nessa pesquisa?
Maria Cecília - Primeiro, que todos tomem consciência do direito de ter seu
tratamento custeado integralmente pelo
Estado. No caso de câncer, o tratamento
pode ser dado em centros específicos e
até em casa, dependendo da gravidade
do quadro. Não se pode esquecer que o
SUS (Sistema Único de Saúde) é mantido
com o pagamento dos nossos impostos.
Outro fato importante é que o tratamento do câncer exige uma série de gastos e,
muitas vezes, o paciente não tem dinheiro nem para o ônibus. Por isso é importante ele ter consciência de que pode requisitar algumas coisas para garantir sua
sobrevivência mínima.
Folha - Quais, por exemplo?
Maria Cecília - Todos os portadores de
câncer e de outras enfermidades graves
como hanseníase, tuberculose e Aids podem sacar seu fundo de garantia e seu
PIS/Pasep e pedir a isenção do imposto
de renda incidente na aposentadoria, entre outras coisas.
Folha - E o processo é demorado?
Maria Cecília - Ao contrário, é rápido,
basta ter a documentação adequada, que
consiste de um laudo médico atestando a
enfermidade e o exame propriamente dito, além de documentos pessoais. É importante citar aqui que os órgãos responsáveis, no caso a Caixa Econômica Federal, têm de aceitar documentos autenticados. Eu recomendo nunca deixar o documento original, pois poderá ser exigido em muitas outras situações. Explico
passo a passo como devem ser o atestado
e o requerimento exigidos pela Caixa.
Além disso, todo paciente tem direito ao
acesso a todos os dados do serviço médico. O segredo profissional existe para o
médico, mas não pode existir entre o médico e o paciente. No caso do FGTS, por
exemplo, não é necessária a presença do
doente para o saque, o responsável pode
entregar o requerimento e receber o pagamento devido.
Folha - Você fala também de uma renda
vitalícia, o que é?
Maria Cecília - Existem pessoas que não
têm nenhum tipo de previdência. Nesses
casos, a lei assegura ao doente uma renda
vitalícia de um salário mínimo mensal.
Não é muito, mas é melhor do que nada.
Folha - Você se tornou uma militante na
área?
Maria Cecília - Já que tenho acesso a esse
tipo de informação, sinto que é meu dever dividir esse conhecimento.
Folha - E quem não tem acesso à internet?
Maria Cecília - Eu autorizo a cópia integral da cartilha aos interessados em distribuir o conteúdo. Espero obter o apoio
de laboratórios, hospitais e até mesmo do
Ministério da Saúde.
Folha - E como está a sua saúde?
Maria Cecília - Sofri intervenção cirúrgica e passei pela quimioterapia. Um paciente que teve câncer tem de monitorar
sempre, mas, depois que voltei da praia,
pude me sentir curada. Quem faz quimioterapia não pode ir à praia por, no
mínimo, três meses. No Carnaval, tive a
oportunidade de passar dez dias no litoral. Quando entrei no mar, senti-me renovada.
Folha - Você tem outros projetos de utilidade pública?
Maria Cecília - É assegurado à criança
internada o direito de ter a seu lado um
parente. Porém a CLT não reconhece esse direito, e o que acontece é que ou o responsável perde o emprego ou a criança
fica no hospital sozinha. Estou empenhada em um projeto de lei que force o Congresso Nacional a garantir ao menos o direito a uma licença sem vencimentos.
O e-mail para contatar a advogada é
mariinha@sorirama.com.br
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