ANA FRANCISCA PONZIO - FREE-LANCE PARA A FOLHA

A norte-americana Romana Kryzanowska parece representar os ideais de vitalidade e saúde que a humanidade persegue. Aos 79 anos, ela cultiva com energia e bom humor um ritmo intenso de trabalho, que inclui viagens constantes por vários países.
Herdeira dos direitos de uso do método de condicionamento físico criado por Joseph Pilates (1880-1967), Kryzanowska visita o Brasil anualmente para treinar e habilitar professores de pilates.
"No Brasil, há estudantes maravilhosos de pilates", disse Romana Kryzanowska ao Folha Equilíbrio durante sua recente estada em São Paulo.
Filha de pai russo e mãe americana, Kryzanowska teve formação privilegiada. No início dos anos 40, ela estudava com George Balanchine, o gênio do balé russo que se radicou nos Estados Unidos para fundar o New York City Ballet, quando conheceu o alemão Pilates, que também havia migrado para a América.
A afinidade de Kryzanowska com Pilates gerou uma relação de confiança e colaboração, que a transformou na sucessora do mestre alemão, cujo método de condicionamento vem ganhando cada vez mais adeptos no Brasil.
"Em 1944, mudei-me com meu marido para o Peru, onde vivi durante quatro anos. Mesmo nesse período, nunca perdi o contato com Pilates. Nós nos comunicávamos permanentemente por telefone ou carta, sempre trocando conselhos e informações." De volta para Nova York, ela estreitou os laços com Pilates, que, antes de morrer, transmitiu a ela a missão de preservar a autenticidade da técnica que garante saúde e boa forma a seus praticantes. Leia a entrevista abaixo.

Folha - Como a senhora conheceu Joseph Pilates?
Romana Kryzanowska - Em 1941, sofri uma lesão no tornozelo, e o médico me disse que eu deveria operá-lo. Meu professor de balé, George Balanchine, achou que a cirurgia seria um risco e recomendou que eu fizesse aulas com Joseph Pilates, que já vivia em Nova York. Naquela época, não havia coisas como fisioterapia, e eu resolvi tentar. Quando fui apresentada a Pilates, ele disse que me devolveria o dinheiro se eu não me curasse após as cinco aulas que eu deveria fazer durante duas semanas. No começo, achei que aquele homem era maluco, pois me fazia realizar exercícios que não trabalhavam exatamente o tornozelo. Porém na quarta aula eu já me sentia muito bem, e na quinta meu tornozelo estava maravilhoso.

Folha - Por que o método de Pilates é tão eficiente?
Kryzanowska - Pilates estudou profundamente o corpo humano. Durante a Primeira Guerra Mundial, ele trabalhou como enfermeiro e criou exercícios físicos adaptados às condições de cada doente. Naquela época, inspirou-se, por exemplo, nas camas de hospitais para criar os aparelhos que passou a usar em suas aulas. Depois da guerra, ele conviveu na Alemanha com Rudolf von Laban, outro pesquisador do corpo e do movimento. Para expandir seu método, Pilates ainda estudou os treinamentos dos atletas olímpicos, todos os tipos de artes marciais, ioga e zen-budismo. Valendo-se de todo esse conhecimento, Pilates criou uma técnica muito bem resolvida e sensível, que, em vez de estressar os músculos, promove no corpo uma energização integral. Para não causar cansaço, em seus exercícios há sempre uma troca de direções e de intensidades de força. Tanto que, em Nova York, os atores que, num mesmo dia, realizam sessões duplas de um espetáculo costumam fazer aulas de pilates nos intervalos, para repor e ganhar mais energia. Essencialmente, o método pilates atua sobre a circulação e a respiração, que são nossas forças motrizes.

Folha - A prática de pilates chega a prevenir ou atenuar a osteoporose?
Kryzanowska - Sem dúvida, porque pilates é uma técnica baseada no equilíbrio das forças que atuam em todos os ossos do corpo, fortalecendo-os.

Folha - Durante sua convivência com Pilates, a senhora acompanhou a criação de certos exercícios?
Kryzanowska - Muitos exercícios que hoje fazem parte da técnica foram originalmente criados para os meus filhos. Sempre que eles apresentavam um problema físico ou de saúde, eu recorria a Pilates, que desenvolvia tratamentos específicos para eles e que depois foram adaptados ao método.

Folha - Hoje pilates também é muito praticado por bailarinos. Há semelhanças entre a técnica pilates e o balé clássico?
Kryzanowska - Pilates sempre conviveu com bailarinos e influenciou o trabalho de muitos mestres e coreógrafos, como Martha Graham. Com o balé clássico, o método por ele criado tem realmente afinidades porque Pilates apreciava os princípios de harmonia e beleza do classicismo. A cultura da Grécia antiga foi também uma fonte de inspiração para ele, que nunca separou o bem-estar físico da saúde mental e da elevação espiritual.

Folha - O método pilates pode ser praticado por qualquer pessoa?
Kryzanowska - Pilates é um método para todos, sem distinções de idade ou condição física. No entanto é preciso procurar professores devidamente credenciados. Hoje há muitos oportunistas que enganam alunos e desvirtuam a técnica.


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