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De vítima a herói
Ele já esteve entre mães católicas que tiveram seus filhos assassinados por protestantes e
vice-versa. Tentava dizer a essas mulheres da Irlanda do
Norte que perdoar seria o melhor remédio para seu sofrimento. Algumas dessas experiências vividas pelo psicólogo
americano Frederic Luskin, 48,
estão relatadas no seu livro "O
Poder do Perdão" (256 págs.,
R$ 38,50, W11 Editores, tel. 0/
xx/11/ 3812-3812), a ser lançado
em dezembro no Brasil.
Luskin é diretor do Projeto
Perdão, da Universidade de
Stanford (EUA), e um dos principais divulgadores da importância do perdão para o bem-estar mental e físico das pessoas. Leia abaixo entrevista dada por e-mail ao Equilíbrio.
Folha - Qual o principal dano
para quem resiste em perdoar,
preferindo conviver com a raiva?
Frederic Luskin - O principal
mal de não perdoar é ficar distante das coisas boas da vida.
Quando focalizamos nossa
atenção em quem nos feriu, ficamos sem condições de perceber quem nos ama. Isso traz
implicações para a nossa saúde
física e mental, já que prolongamos o período de sofrimento
e ignoramos o bom tratamento
que recebemos dos outros. É
importante a pessoa perceber
que não deve personificar demais o sofrimento, procurando
entender que experiências dolorosas acontecem com todo
mundo e que exagerar o sofrimento só vai prejudicá-la.
Folha - O sr. diz no seu livro
que perdoar pode melhorar a
saúde física e mental. Como?
Luskin - Perdoar nos dá sustentação. Não perdoar, ao contrário, faz com que nos sintamos desamparados, desprotegidos, o que desencadeia um
estresse químico prejudicial ao
organismo. Além disso, muitas
vezes a pessoa se esquece de
cuidar de si própria. Tudo porque fica com a mente ocupada
por sentimentos ruins. Tudo o
que está na nossa mente causa
alguma reação na saúde física.
Folha - A raiva pode se tornar
uma obsessão para a pessoa?
Luskin - A raiva é uma boa estratégia de curto prazo para lidar com eventos dolorosos. O
problema é quando ela se torna
uma estratégia que mantemos
por um tempo longo com o objetivo de causar algum dano à
pessoa que nos feriu. Além disso, não há como mudar absolutamente nada do passado se a
raiva não for eliminada. Eu diria que muita gente faz do sentimento de raiva um hábito.
Não diria uma obsessão, mas
um hábito.
Folha - Que sinais podem indicar que a raiva ou a mágoa estão
deixando de ser reações "normais" e se tornando perigosas
para a saúde?
Luskin - A primeira coisa é
perceber se muito tempo se
passou desde que você foi magoado e se, apesar do longo
tempo, você ainda continua
pensando e falando no assunto.
E mais: se quando você toca no
assunto, sente-se estressado.
Mas um dos principais indícios
é fantasiar vinganças.
Folha - Perdoar não significa
esquecer, conforme o senhor escreveu. Mas, se a lembrança da
agressão permanece, como a
pessoa pode perdoar?
Luskin - Na realidade, coisas
dolorosas nunca saem da nossa
memória. Seria no mínimo tolo acreditar ser possível esquecer que um filho foi assassinado ou que você foi sequestrado.
Entretanto a pessoa pode lembrar-se do apoio que obteve no
momento de dor e fazer com
que esse apoio volte à mente,
minimizando a lembrança dolorosa. A grande mudança é
transformar-se de vítima em
herói ao narrar o incidente.
Uma vítima é cheia de culpa;
um herói tenta fazer o melhor
para sair das situações ruins.
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