São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vômitos e sacrifícios na busca pelo perdão

Desde os tempos remotos, o perdão está associado à redenção do homem. A forma utilizada é que diverge da atual. Os judeus sacrificavam cordeiros para receber em troca a piedade divina. Também abandonavam bodes no deserto, acreditando que os animais levariam com eles os pecados (daí o termo bode expiatório), isentando os homens de culpa. Os cananitas (antigos habitantes da atual Palestina) usavam o sacrifício humano para obter a piedade dos deuses. Na Etiópia, membros de tribos realizavam cerimônias em que vomitavam para que suas maldades fossem expelidas e eles pudessem obter o perdão dos deuses.
Jesus Cristo na cruz é o símbolo máximo do perdão no Ocidente, a "prova" de que Deus perdoou os homens pelos atos que cometeram. "A partir daí, caberia a todo homem perdoar o próximo para que -só assim- pudesse obter o perdão divino", explica o teólogo e psicoterapeuta Zenon Lotufo.
Porém, segundo os princípios judeo-cristãos, esse perdão não é incondicional. "Para ser perdoada, a pessoa precisa desejar sê-lo; como diz o Velho Testamento, não pode ter o coração empedernido; precisa ter disposição de alma", explica Roberto Romano, professor de filosofia da Unicamp. Para ele, essa história de que Deus perdoa tudo "é discurso de um cristianismo 'pollyanna'".
Além disso, somente a partir do temor e do arrependimento é possível obter o perdão e se conciliar com Deus, diz João Décio Passos, do departamento de teologia e ciência da religião da PUC-SP. "Perdoar seria o último sacrifício realizado por uma pessoa para não haver mais sofrimento entre os homens", completa o teólogo.


Texto Anterior: De vítima a herói
Próximo Texto: Doenças que o rancor pode causar ou acentuar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.