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firme e forte
Tai-chi faz "milagres" para a turma dos 60
ALVARO LEME
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Eles aposentaram o mal-estar. Preocupados em cuidar da
saúde, fugir da solidão ou apenas por curiosidade, muitos
idosos aderiram ao tai-chi-chuan e descobriram nessa arte marcial um "remédio" para enfrentar problemas típicos da terceira
idade, como pressão alta, solidão e perda de agilidade.
Outros benefícios: relaxamento muscular, bem-estar e mais disposição. Por
essas e outras, como a ausência de limite
de idade para a prática, o tai-chi virou coqueluche entre a turma que já passou dos
60 e quer se manter ativa e em forma.
"Sinto-me como se tivesse 40 anos de
novo", comemora Tokiko Uehara, 72,
que aderiu às aulas em 98 para controlar
a pressão arterial e amenizar a asma que
complicava sua vida.
Já Leonor Policastri, 71, descobriu o tai-chi em plena depressão após a morte do
marido, mas ela se recusava a tomar remédios. "Sou contra calmantes."
Hoje, oito anos depois, ela toca violão,
faz natação e continua sem remédios.
"Quando a gente põe corpo e mente para
funcionar, a doença fica longe", explica.
Longevidade
"A arte da longa vida" é
o que significa tai-chi-chuan em chinês.
Um misto de meditação chinesa e kung
fu que trabalha com concentração e canalização de energia, explica o professor
Jair Diniz, 39.
Até de melhorar casamento ele é capaz,
afirma Benedita de Ávila, 57, que inclui
esse item na lista de benfeitorias. Entusiasmada, a praticante encara uma caminhada de sua casa, no Alto da Lapa, até as
aulas, no Sesc Pompéia. "Não viveria
mais sem o tai-chi. Sou outra pessoa."
Toda essa vitalidade, diz a geriatra Angélica Yamaguchi, do Hospital das Clínicas, ocorre devido ao trabalho de reeducação corporal: "Os movimentos cervicais e oculares (ato de direcionar o olhar
com movimentos da cabeça) funcionam
como estímulos para o sistema vestibular, responsável pelo equilíbrio do corpo".
Outra razão é o condicionamento cardiovascular resultante da prática regular.
"Alguns estudos comprovam que há
uma melhora na circulação. Eu mesma já
saí de uma aula de uma hora suada e com
taquicardia leve", diz a médica, que tem
30 anos de idade.
Unissex
Sebastião Assis, 62, é um
dos poucos homens que venceram o preconceito contra a leveza da arte chinesa.
Em 1991, pouco depois de descobrir sua
hipertensão, teve uma úlcera no duodeno, que virou hemorragia interna e quase
o levou à morte. Por recomendação médica, procurou um esporte e descobriu o
tai-chi, que o auxilia até hoje no controle
da pressão, ainda mais delicada desde
1995, quando teve uma ponte de safena
implantada. Dentre os benefícios trazidos pela prática, ele destaca o controle
emocional e a agilidade. "Hoje não preciso tomar tantos remédios para a pressão", afirma.
Mas a maioria dos grupos de tai-chi é
formada por mulheres. "Muitos homens
têm vergonha de fazer "aquelas" posturas,
pois são suaves e, por vezes, assemelham-se a um balé", explica o professor Roney
Freitas. "Eles acham que vai interferir em
sua masculinidade."
Os movimentos podem ser suaves, mas
os efeitos são ligeiros, sentidos já com a
primeira aula. "Algumas pessoas com
problemas de insônia conseguem dormir
bem já na primeira noite", diz Jair Diniz.
Mas é a repetição dos movimentos ao
longo do tempo que garante resultados
mais eficazes. Isso significa que os efeitos
dependem do esforço e da dedicação do
praticante, diz a geriatra. Como as séries
são longas (cada uma tem entre 36 e 100
posturas diferentes), são necessários seis
meses, pelo menos, para resultados mais
efetivos, diz ela.
Constantina Melsi, 60, levou mais tempo ainda, porém as mudanças foram radicais. Trocou a vida sedentária por duas
sessões semanais de tai-chi e, em dois
anos, adquiriu estímulo para voltar a estudar. "Ganhei uma nova perspectiva de
vida", diz. Hoje ela divide seu tempo entre cursos especiais para idosos na USP,
lições de pintura no MAC e aulas de italiano. "Procurei o tai-chi achando que era
um exercício físico. Descobri muito mais
do que isso. Não vivo mais sem ele."
As aulas ocupam praças, academias e
clubes. Já há até quem o pratique em casa
com personal trainer. Após três meses de
academia, Elisabeth Constanzo, 54, contratou um professor em domicílio para
ela e seus dois filhos. "A gente recebe um
tratamento especial", diz. Há cinco anos,
Elisabeth buscou o tai-chi para recuperar
a auto-estima, que vinha perdendo com a
chegada da menopausa. "Olhava para
minhas roupas e não podia vestir porque
não cabia nelas. Hoje emagreci 10 kg e me
sinto mais bonita do que há dez anos",
diz.
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