São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 2000
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firme e forte

Tai-chi faz "milagres" para a turma dos 60

ALVARO LEME
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Eles aposentaram o mal-estar. Preocupados em cuidar da saúde, fugir da solidão ou apenas por curiosidade, muitos idosos aderiram ao tai-chi-chuan e descobriram nessa arte marcial um "remédio" para enfrentar problemas típicos da terceira idade, como pressão alta, solidão e perda de agilidade.
Outros benefícios: relaxamento muscular, bem-estar e mais disposição. Por essas e outras, como a ausência de limite de idade para a prática, o tai-chi virou coqueluche entre a turma que já passou dos 60 e quer se manter ativa e em forma.
"Sinto-me como se tivesse 40 anos de novo", comemora Tokiko Uehara, 72, que aderiu às aulas em 98 para controlar a pressão arterial e amenizar a asma que complicava sua vida.
Já Leonor Policastri, 71, descobriu o tai-chi em plena depressão após a morte do marido, mas ela se recusava a tomar remédios. "Sou contra calmantes." Hoje, oito anos depois, ela toca violão, faz natação e continua sem remédios. "Quando a gente põe corpo e mente para funcionar, a doença fica longe", explica.

Longevidade
"A arte da longa vida" é o que significa tai-chi-chuan em chinês. Um misto de meditação chinesa e kung fu que trabalha com concentração e canalização de energia, explica o professor Jair Diniz, 39.
Até de melhorar casamento ele é capaz, afirma Benedita de Ávila, 57, que inclui esse item na lista de benfeitorias. Entusiasmada, a praticante encara uma caminhada de sua casa, no Alto da Lapa, até as aulas, no Sesc Pompéia. "Não viveria mais sem o tai-chi. Sou outra pessoa."
Toda essa vitalidade, diz a geriatra Angélica Yamaguchi, do Hospital das Clínicas, ocorre devido ao trabalho de reeducação corporal: "Os movimentos cervicais e oculares (ato de direcionar o olhar com movimentos da cabeça) funcionam como estímulos para o sistema vestibular, responsável pelo equilíbrio do corpo".
Outra razão é o condicionamento cardiovascular resultante da prática regular. "Alguns estudos comprovam que há uma melhora na circulação. Eu mesma já saí de uma aula de uma hora suada e com taquicardia leve", diz a médica, que tem 30 anos de idade.

Unissex
Sebastião Assis, 62, é um dos poucos homens que venceram o preconceito contra a leveza da arte chinesa. Em 1991, pouco depois de descobrir sua hipertensão, teve uma úlcera no duodeno, que virou hemorragia interna e quase o levou à morte. Por recomendação médica, procurou um esporte e descobriu o tai-chi, que o auxilia até hoje no controle da pressão, ainda mais delicada desde 1995, quando teve uma ponte de safena implantada. Dentre os benefícios trazidos pela prática, ele destaca o controle emocional e a agilidade. "Hoje não preciso tomar tantos remédios para a pressão", afirma.
Mas a maioria dos grupos de tai-chi é formada por mulheres. "Muitos homens têm vergonha de fazer "aquelas" posturas, pois são suaves e, por vezes, assemelham-se a um balé", explica o professor Roney Freitas. "Eles acham que vai interferir em sua masculinidade."
Os movimentos podem ser suaves, mas os efeitos são ligeiros, sentidos já com a primeira aula. "Algumas pessoas com problemas de insônia conseguem dormir bem já na primeira noite", diz Jair Diniz. Mas é a repetição dos movimentos ao longo do tempo que garante resultados mais eficazes. Isso significa que os efeitos dependem do esforço e da dedicação do praticante, diz a geriatra. Como as séries são longas (cada uma tem entre 36 e 100 posturas diferentes), são necessários seis meses, pelo menos, para resultados mais efetivos, diz ela.
Constantina Melsi, 60, levou mais tempo ainda, porém as mudanças foram radicais. Trocou a vida sedentária por duas sessões semanais de tai-chi e, em dois anos, adquiriu estímulo para voltar a estudar. "Ganhei uma nova perspectiva de vida", diz. Hoje ela divide seu tempo entre cursos especiais para idosos na USP, lições de pintura no MAC e aulas de italiano. "Procurei o tai-chi achando que era um exercício físico. Descobri muito mais do que isso. Não vivo mais sem ele."
As aulas ocupam praças, academias e clubes. Já há até quem o pratique em casa com personal trainer. Após três meses de academia, Elisabeth Constanzo, 54, contratou um professor em domicílio para ela e seus dois filhos. "A gente recebe um tratamento especial", diz. Há cinco anos, Elisabeth buscou o tai-chi para recuperar a auto-estima, que vinha perdendo com a chegada da menopausa. "Olhava para minhas roupas e não podia vestir porque não cabia nelas. Hoje emagreci 10 kg e me sinto mais bonita do que há dez anos", diz.


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