São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004
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Para ficar gripado sem dúvidas

A transmissão

Após ter contraído o vírus, a pessoa pode ser infectada de novo pela mesma gripe?
Não. Uma vez contraído determinado tipo de influenza, a pessoa fica imune a ela, pois desenvolveu anticorpos contra esse invasor.

Se cada gripe é causada por uma variação da influenza, os sintomas também não variam?
Os sintomas da infecção são iguais, independentemente do tipo do vírus em ação. Mal-estar, nariz obstruído, coriza, tosse seca, irritação na garganta, dor de cabeça, febre alta, calafrios, dores musculares e articulares e fadiga por uma semana são os sintomas que sinalizam a gripe. A intensidade é que varia segundo o sistema imunológico de cada um.

Há pessoas que sofrem de enxaqueca e, gripadas, têm muita dor de cabeça; outras, que têm rinite, sentem esse problema se agravar com a gripe. Por quê?
Quem já sofre de um problema crônico, como enxaqueca, tem o quadro acentuado pela infecção respiratória causada pelo vírus.

O tempo de incubação varia conforme o subtipo do vírus?
Não. O vírus demora de um a três dias para se desenvolver no organismo. Depois de infectadas, as pessoas têm de três a cinco dias para infectar os demais.

Cães e gatos podem transmitir gripe ao homem?
Não. A influenza pode ser transmitida por aves, animal em que a incidência do vírus é mais freqüente.

Friagem -ficar com o cabelo molhado no inverno, andar descalço em chão frio, nadar num dia não muito quente e dormir desagasalhado, por exemplo- pode causar gripe ou resfriado?
Pesquisas científicas não conseguiram provar que friagem ou demais hábitos possam causar gripe ou resfriado. O que ocorre, em geral, é a mudança de temperatura agravar uma rinite em pessoas que já sofrem do problema e o sintoma ser confundido com gripe.

Crianças são mais suscetíveis à infecção pelo vírus do que adultos?
Apesar de atrair mais todo tipo de infecção, principalmente nos primeiros seis anos de vida, elas têm resistência suficiente para combater o problema. Muitas vezes, a vacina é recomendada aos pequenos, pois eles têm contato maior com os idosos, que são seus cuidadores e mais suscetíveis a doenças.

A partir de que idade a suscetibilidade aumenta?
O sistema imunológico dos idosos tem menos resistência. Eles não lidam tão bem com as complicações trazidas pela gripe, como a pneumonia. Por isso, a partir dos 60 anos, deve-se tomar a vacina.

Quem mais está no grupo de risco?
Os portadores de alguma doença crônica, como diabetes ou problemas de coração. Quem passa por um tratamento violento, como a quimioterapia, também está mais suscetível devido a baixas no sistema imunológico, e os portadores de HIV.

Como é uma recaída da gripe?
Não existe uma recaída da gripe, o que ocorre é que as pessoas acabam se deparando com complicações da gripe, caso a desprezem, como sinusite, otite e pneumonia. Se os conselhos de repouso e ingestão de líquidos não forem seguidos, a febre alta, a tosse e o mal-estar levarão mais tempo para sumir.

Qual a diferença entre gripe e res- friado?
A gripe é causada apenas pelo vírus da influenza; o resfriado pode ser provocado por mais de 200 vírus diferentes, como o rinovírus, que responde por 35% dos casos. No resfriado, é raro as pessoas terem febre alta, dor de cabeça ou dores no corpo. Em geral, os sintomas são menos intensos e desaparecem rapidamente. Pessoas resfriadas costumam ter mais congestão nasal, coriza, irritações na garganta e tosse moderada.

O tratamento

Quando procurar o médico?
As pessoas com mal-estar, nariz obstruído, tosse seca, irritação da garganta, dor de cabeça, febre alta, calafrios, dores musculares e/ ou articulares e fadiga devem procurar rapidamente um médico ou um serviço de pronto-atendimento. Para pessoas debilitadas, como idosos e pessoas que sofrem do coração ou que tenham alguma complicação pulmonar, são indicados os medicamentos antivirais. Eles têm eficácia só até 48 horas após o início dos sintomas, portanto o diagnóstico da gripe deve ser feito o quanto antes. Isso acontece pois a ação da droga é impedir a multiplicação do vírus.

O que o paciente pode tomar sem orientação médica?
A medicação antiviral é o que encurta os sintomas da gripe. Como esse tipo de droga é caro, costuma-se tratar a gripe com medicação paliativa, como os antiinflamatórios não-hormonais e analgésicos para evitar as dores no corpo, os antitérmicos para baixar a febre, os anti-secretores, que retêm as secreções, e os descongestionantes. Além disso, é de suma importância fazer repouso absoluto, beber bastante água para ajudar a liqüidificar as secreções e ter uma alimentação saudável e equilibrada para manter o sistema imunológico em dia. Se a febre se prolongar por mais de uma semana, a dor de garganta aumentar e o mal-estar prevalecer, pode ser sinal de que o corpo debilitado pela gripe foi atacado por bactérias oportunistas. O médico deve ser informado diante da possibilidade de uma pneumonia, complicação mais comum provocada pela gripe.

A prevenção


Vale a pena tomar vacina se a pessoa já pegou uma gripe naquela temporada?
Sim. Como há mais de um tipo de vírus circulando pelo ar, a pessoa pode ter sido contaminada por um subtipo diferente daquele cuja vacina garante proteção.

Por que alguns tomam a vacina e ficam gripados?
Ela leva pelo menos duas semanas para fazer efeito. Se a pessoa se contaminou antes, o vírus vai se desenvolver de qualquer maneira. Além disso, as vacinas são feitas para proteger contra alguns subtipos; como o vírus muda constantemente, é possível que um novo subtipo tenha surgido nesse tempo. Por isso a eficácia da vacina é de 50% a 80%.

A vacina tem efeito "cumulativo"? Ou seja: se uma pessoa foi vacinada no ano passado e, neste ano, tomar a nova vacina, seu organismo estará imunizado contra os tipos do vírus da vacina anterior e os da atual?
Não, mas estudos mostraram que quem toma a vacina anualmente está mais preparado do ponto de vista imunológico, ou seja, existe uma certa memória dos anticorpos.


Fonte: Beatriz de Souza Dias, infectologista do hospital Sírio Libanês (SP), e João Toniolo Neto, geriatra da Universidade Federal de São Paulo


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