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Outras idéias
Wilson Jacob Filho
Medo de alemão
"Estou com medo do
alemão!" A frase
veio de um paciente imediatamente após as apresentações
iniciais. Surpreso, imaginei tratar-se do início de um diálogo
futebolístico. O que se seguiu,
porém, foi uma longa descrição
sobre o seu descontentamento
com a própria memória.
Rapidamente entendi que o
alemão era Alois Alzheimer, e
que seus temores se referiam a
ser portador da doença por ele
descrita em 1906.
Duvido que o jovem médico,
nascido em 1864 na cidade de
Markbreit, pensou em ter tal
notoriedade na linguagem popular quando, em 1901, começou a cuidar de uma senhora
que desenvolveu precocemente sintomas e sinais comportamentais de demência.
Na sua comunicação do caso,
descreveu não apenas o quadro
clínico mas também os achados
neuropatológicos que caracterizam a doença até hoje. Apenas em 1910, porém, essa enfermidade passou a ser denominada doença de Alzheimer.
Ao nos referirmos a ela, é importante distinguir suas manifestações iniciais daquelas que
freqüentemente causam a
maioria das preocupações.
Os reais distúrbios de memória que prenunciam uma disfunção cerebral grave são mais
bem percebidos por familiares
do que pelo próprio paciente. A
maioria dos que reclamam da
própria memória acaba demonstrando normalidade nos
testes específicos, mas revela
sobrecarga das suas atividades
intelectuais e/ou níveis de estresse exagerados.
Isso enfatiza que qualquer
função orgânica, quando usada
corretamente, tende a se manter adequada durante a vida toda. Por outro lado, o uso excessivo ou o desuso de um determinado sistema leva a freqüentes disfunções que são interpretadas como indícios de enfermidade.
Evidentemente, as situações
limítrofes devem ser interpretadas tecnicamente, mas a avaliação inicial sobre a potencial
gravidade desses sintomas deve ser feita cuidadosamente pelos próprios envolvidos.
Se, por um lado, as pequenas
incapacidades para realizar tarefas do cotidiano devem ser
valorizadas e esclarecidas, por
outro, há que se contextualizar
em que condições funcionais os
pequenos lapsos de memória
ocorrem e quais são as suas
reais conseqüências.
Os profissionais que cuidam
da saúde, especificamente das
funções cognitivas, poderão
prestar grande auxílio nessa
identificação, mas é fundamental que saibamos interpretar as
nossas peculiaridades comportamentais para melhor entendermos quais os fatores protetores ou agressivos que as estão
determinando.
WILSON JACOB FILHO, professor da Faculdade
de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de
"Atividade Física e Envelhecimento Saudável"
(ed. Atheneu)
wiljac@usp.br
[...] Os distúrbios de memória
que prenunciam uma disfunção
cerebral grave são mais notados por familiares do que pelo paciente
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