São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006
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bem-estar

Banho

Com promessa de relaxamento, chá-mate e chá-verde estão entre as novidades dos spas e das clínicas de estética; especialistas alertam para os efeitos negativos das altas temperaturas em banhos prolongados

Bruno Miranda/Folha Imagem
Banho Amazonas (capim-santo, hortelã e erva-doce) oferecido no spa Kyron, em São Paulo


AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

É hora do chá. Mas, dessa vez, servido numa banheira, em vez de numa xícara. Associados a óleos e sais, os chás passaram a ser oferecidos na forma de banhos em spas, que diversificam cada vez mais as opções: há até a terapia do chimarrão, lançada pelo Kurotel Centro de Longevidade e Spa de Gramado, no Rio Grande do Sul, na qual o cliente mergulha numa banheira repleta de erva-mate.
De modo geral, os banhos duram de 20 minutos a meia hora, e a água é mantida a uma temperatura de aproximadamente 37C. Para fazer o chá, são utilizados de 10 a 30 sachês de ervas, fervidos em um litro de água. A mistura é depois adicionada à água da banheira.
De acordo com a fisioterapeuta Fernanda Ferrari, do spa Kyron, em São Paulo, o objetivo do banho com chá é o relaxamento. "É um tratamento holístico", diz ela, ressaltando que o cheiro exalado por ervas como o capim-santo -que integra o banho Amazonas, oferecido no local- ajuda as pessoas a se acalmarem.
Mas há quem defenda que o resultado dessas imersões ultrapassa o relaxamento. O chá de menta, por exemplo, dá à pele uma sensação de refrescância e estimula a circulação periférica, de acordo com a farmacêutica Débora Corso Gonçalves, do Kurotel.
Ainda segundo ela, o gengibre possui características desinfetantes e reduz a oleosidade da pele, e a salsaparrilha tem propriedades desintoxicantes.
Um dos banhos mais populares nos spas é o que leva chá-verde em sua composição. A mistura, quando ingerida, é associada a efeitos antioxidantes.
Para Kimie Kawashima, dona do spa que leva seu nome, em São Paulo, os benefícios promovidos pela bebida são semelhantes aos dos banhos com a erva. "A pele propicia a entrada de partículas do chá-verde, que entra na circulação sangüínea, ativa a circulação e limpa artérias e veias", afirma.
Débora Gonçalves defende a mesma teoria. "Os efeitos do chá, quando consumido via oral, são mais fortes. Mas, durante o banho, ele também é absorvido pela pele."
Os verdadeiros efeitos dos banhos de chá ainda são, porém, uma questão polêmica.
De acordo com o dermatologista Luiz Carlos Cucê, professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), os chás de erva-cidreira e camomila são realmente associados a uma melhora em processos inflamatórios.
Já o chá-preto, rico em ácido tânico, tem a capacidade de diminuir secreções e, por isso, pode ajudar a diminuir a transpiração em pessoas com hiperidrose, afirma o dermatologista Jayme de Oliveira Filho, coordenador do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Entretanto, os dois especialistas afirmam que os benefícios obtidos com essas ervas são muito pequenos para justificar imersões e que os banhos realizados com outros tipos de ervas não têm efeitos comprovados cientificamente.
"A sensação que a pessoa tem de que a pele fica mais fina e macia é psíquica", afirma Cucê. Segundo ele, a diminuição da gordura na pele é um efeito da água quente, e não das ervas adicionadas ao banho.
"As plantas têm muitas propriedades, tanto medicinais quanto tóxicas", afirma Flávio Dantas, professor de clínica médica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista em fitoterapia. "Mas o fato de uma erva ter determinados efeitos quando ingerida, por exemplo, não significa que ela terá os mesmos efeitos se for utilizada de outra forma, como num banho."
Ele cita, como exemplo, a arnica. "Ela é ótima quando usada sobre a pele, para aliviar os efeitos de uma pancada. Se for ingerida, pode causar sérios problemas à saúde."
Além disso, afirma Dantas, ainda não se sabe se a quantidade de chá absorvida pelo organismo durante um banho é suficiente para provocar algum efeito significativo no corpo.
"Alguns estudos mostram que o chá-verde realmente tem várias propriedades antioxidantes, mas são dados que se referem à ingestão, não ao uso em banhos", diz.
Ainda assim, os banhos com chá dificilmente podem gerar algum tipo de reação alérgica, segundo os especialistas.

Temperatura
A ressalva normalmente feita pelos médicos é relacionada a banhos quentes em geral.
Por ter uma ação adstringente, a água quente pode gerar pruridos, principalmente em idosos, que têm a pele naturalmente mais ressecada.
Quem tem pressão baixa também não deve fazer banhos quentes prolongados, que diminuem ainda mais a pressão.

[...] A capacidade de a camomila aliviar irritações na pele é reconhecida, mas o alcance dos efeitos de outras ervas utilizadas em banhos ainda gera polêmica entre terapeutas e pesquisadores


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