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S.O.S. família
rosely sayão
Escola não legisla sobre o individual
As escolas tomam determinadas atitudes em relação a seus alunos, e, muitas vezes, os pais não concordam com as medidas adotadas -em geral porque acham que o filho saiu prejudicado-, contestam e discutem com a direção e com os professores outras abordagens do problema.
Foi o que aconteceu com uma leitora. O assunto é ótimo porque permite que muitos pais reflitam sobre a maneira como se relacionam
com as escolas de seus filhos, muitas vezes em
prejuízo deles. Vamos lá.
O garoto que frequenta a sétima série teve de
faltar, por motivo justo, no dia em que teria de
entregar um trabalho. A mãe mandou um bilhetinho -ah, esses malditos bilhetinhos que substituem o diálogo direto entre os professores e seus alunos!- em que avisava a professora do ocorrido e garantiu ao filho que ele
não sairia prejudicado.
Pois bem: a mestra aceitou o motivo, mas,
mesmo assim, deu um ponto negativo ao aluno. A mãe não concordou e conversou com a orientadora da turma, que ratificou a atitude
da mestra. E está armado o impasse. De um lado a escola, do lado oposto a família. Não, esse
tipo de relação não é uma parceria. A escola
está absolutamente correta na atitude que tomou. Por quê? Porque não é papel da escola legislar sobre o individual. Ao contrário, cabe à
escola a formação para a cidadania. Portanto
ela deve trabalhar considerando o coletivo da
classe, da turma, da série, da escola.
Quando ficam sensibilizados com a consequência ou a sanção com a qual o filho teve de
arcar na escola, os pais pensam nos aspectos
pessoais e individuais relacionados ao fato
ocorrido, e isso é claro e compreensível. Justamente por esse motivo é que a escola tem papel fundamental na formação dos alunos: ela
ensina as regras de convivência social e os valores éticos sociais na prática, na vivência dos
alunos.
Foi esse o ensinamento que a escola passou
ao filho de nossa leitora quando manteve o
combinado com os alunos. Caso tivesse cedido, teria sido injusta com a classe toda. E não
precisamos mais desse tipo de ensinamento
que contempla o individual em prejuízo do
coletivo, não é verdade?
Além disso, com essa atitude, a escola teve
papel educativo importante: acompanhar o
crescimento do aluno na experiência de viver
por conta própria e saber reconhecer direitos,
deveres, consequências dos atos e, principalmente, aprender que crescer significa fazer escolhas e arcar com elas.
A escola só não tem razão em uma questão,
apontada pela leitora: ela diz que os professores costumam apontar os bons alunos como
exemplo e humilhar os que não fazem as tarefas em dia etc. A escola não deve moralizar as
atitudes de seus alunos. Os pais, sim, podem
fazer isso. Mas a escola não. Nenhum aluno
pode ser conceituado bom ou não pelas escolhas que faz ou tem de fazer. A escola deve apenas fazer os combinados, mantê-los e garantir
sua aplicação. Sem julgamentos.
Um último comentário, motivado pelo
comportamento de nossa leitora, tão comum
entre os pais, que é ir frequentemente à escola
para intervir pelo filho. Talvez os pais possam
contribuir um pouco mais com o crescimento
dos filhos considerando a relação deles com a
escola. Em vez de ir até a escola sempre que o
filho reclamar de algo ou precisar de uma
atenção especial, mesmo que tenha razão, é
bem melhor encorajá-lo e orientá-lo sobre o
que fazer ou falar do que fazer por ele. Agindo assim, apesar de bem-intencionados, os pais acabam contribuindo para a dependência dos filhos. E sempre é bom lembrar que a educação visa à autonomia, à independência, à liberdade possível de ser vivida em sociedade.
Fica para uma próxima conversa uma questão também importante a refletir: a atitude de pais que acreditam ter poder de consumidor na relação com a escola, e o tratamento de "cliente" que muitas escolas dão aos pais. Só para aquecer a discussão que está por vir: educação não é consumo. Portanto não há cliente nessa relação.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras);
e- mail: roselys@uol.com.br
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