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INGREDIENTE
Semente de papoula é consumida há milênios
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Planta favorita de Morfeu, o deus dos sonhos
na mitologia grega, a
papoula é famosa por
suas propriedades alucinógenas e medicinais: é de sua semente que são extraídos o ópio
e a morfina. Usada na alimentação humana há mais de 4.000
anos -há registros de consumo
nas antigas civilizações da Suméria, da Mesopotâmia e da
Babilônia-, foi o grego Hipócrates um dos primeiros a descrever seus efeitos medicinais.
Rica em alcalóides que produzem efeitos depressores do
sistema nervoso central e em
fibras, era utilizada no tratamento de insônia e de constipação intestinal. "A semente contém também entre 40% e 50%
de gorduras insaturadas, que
contribuem para aumentar o
HDL [colesterol "bom"], incluindo ácidos graxos essenciais, como os ômegas 6 e 9", diz
Daniela Jobst, nutricionista
clínica funcional da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo). Jobst explica que o narcótico é obtido com a extração
do látex das sementes que ainda não amadureceram. Para o
preparo de alimentos, são usadas apenas as sementes totalmente maduras.
Assim, as delicadas sementes
não causam efeitos sedativos
ou hipnóticos. O seu "barato" é
gastronômico. "É difícil encontrar ingredientes de cor escura,
que dão um efeito muito interessante aos pratos. Além disso,
sua textura crocante é valorizada", diz Robert Kenzo, professor de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi.
Kenzo conta que ela é encontrada do Extremo Oriente ao
Mediterrâneo. "No Japão, é
misturada com especiarias. No
norte da Índia, é triturada e
usada como espessante. Na Europa central e na oriental, entra
na preparação de pães e bolos."
O ingrediente chegou às
Américas com os imigrantes,
principalmente os europeus.
"Sempre foi usado pela comunidade judaica no Brasil, mesmo quando era mais difícil de
ser adquirido", conta a chef Andrea Kaufmann, da AK Delicatessen, de São Paulo. Imigrantes húngaros, austríacos e alemães também davam um jeito
de obtê-lo. Antes da abertura
do mercado às importações, no
início dos anos 90, o produto tinha de ser encomendado do exterior. Hoje, é encontrado em
supermercados e mercearias.
O sabor, que lembra o da
amêndoa, é bem suave, o que
torna a semente de papoula um
ingrediente versátil. "Pode ser
usado tanto em doces quanto
em salgados. As sementes podem ser polvilhadas sobre saladas, peixes ou carnes brancas.
Ou acrescentadas ao preparo
de massa fresca, que fica linda
com os pontinhos escuros e
crocantes", sugere Kenzo.
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