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Livre-se do cigarro e, com ele, do câncer de boca
Marcelo Barbani/Folha Imagem
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O funcionário público Edson Evangelista, 47, que teve câncer |
KARINA KLINGER - DA REPORTAGEM LOCAL
Além de fumo e álcool, a má higienização e o consumo frequente de bebidas quentes e carnes grelhadas são fatores de risco
Discreto, ele começa em forma de pequenas feridas na boca ou de manchas esbranquiçadas ou avermelhadas nos lábios. Por ser pouco conhecido, costuma ser diagnosticado tardiamente e, por isso, mata. Fala-se
muito em câncer de mama, de colo de útero e de próstata, mas pouco do câncer de boca. Só o Estado de São Paulo tem a quarta maior incidência desse tipo de câncer do mundo, perdendo apenas para a Índia, a França e a antiga Tchecoslováquia, nessa ordem.
São 3.960 novos casos por ano, segundo
dados do Instituto Nacional do Câncer.
Ou seja, 17 novos casos para cada 100 mil
homens e 6 novos casos para cada 100 mil
mulheres em São Paulo. E é também nesta cidade que fica um dos cinco centros
de referência mundial de cânceres de cabeça e pescoço, o Hospital do Câncer.
"O grande problema no país é que as
pessoas não procuram atendimento médico no início da doença por desconhecimento. Se isso fosse feito com maior frequência, o tumor seria tratado desde o
começo e, nesse caso, as chances de cura
chegariam a 95%", afirma Amadeu Rodrigues da Silva Jr., professor da Faculdade de Odontologia da USP, em Ribeirão
Preto (interior de SP).
Somente em estágio mais avançado da
doença é que o paciente sente incômodo.
Nessa fase, dificuldades de fala, mastigação e deglutição, dor e emagrecimento
acentuado são sintomas comuns.
"As pessoas acham que as feridas iniciais são simples aftas e não procuram
tratamento. Mas, se as feridas não cicatrizam em 15 dias, elas devem procurar ajuda de médico ou dentista", adverte o oncologista Luiz Paulo Kowalski, diretor do
Departamento de Cirurgia de Cabeça e
Pescoço do Hospital do Câncer (SP).
A equipe de Kowalski já tem catalogadas 200 mil sequências de DNA relacionadas ao câncer de boca. Com essas descobertas, espera-se um dia prevenir os
cânceres dessa região por meio de testes e
dispor de tratamentos mais específicos.
Como boa parte dos cânceres, o de boca também é consequência de maus hábitos adotados pelo homem. O tabagismo encabeça a lista dos fatores de risco,
seguido pelo alcoolismo. Enquanto
quem fuma tem de sete a oito vezes mais
chances de desenvolver câncer de boca,
quem bebe tem de três a quatro.
Além da ação tóxica do cigarro e do álcool (leia mais na pág. 10), a má higienização bucal, o consumo excessivo de bebidas quentes (como chimarrão) e de
carnes grelhadas, próteses mal adaptadas
e uma dieta pobre em proteínas, vitaminas A, E, C e do complexo B contribuem
para o aparecimento do câncer.
A associação desses fatores à predisposição genética aumenta ainda mais o risco de desenvolver a doença.
Os métodos terapêuticos aplicáveis ao
câncer de boca são cirurgia, radioterapia
e quimioterapia, que podem ser usadas
de forma associada ou não. Segundo Miriam Honda Federico, chefe da oncologia
do Instituto de Radiologia do Hospital
das Clínicas, as cirurgias costumam ser
complicadas quando a área do tumor é
extensa e podem resultar em mutilações,
como a retirada de parte da língua, do
olho ou do lábio.
De indefesa, a mucosa bucal não tem
nada. Por isso não adianta culpá-la pelo
câncer de boca, como faz boa parte das
vítimas. Apesar de a mucosa ser lesionada com facilidade (basta usar o fio de
dental de forma incorreta ou escovar os
dentes bruscamente), ela se regenera
com facilidade. "Se contarmos os múltiplos traumas que sofre no dia-a-dia, ela
tem poder de regeneração invejável", diz
Rodrigues. A questão é que a mucosa não
suporta traumas constantes e por longos
períodos.
As alterações celulares que resultam da
exposição da mucosa bucal aos agentes
cancerígenos (como cigarro e álcool) inicialmente se manifestam por meio de lesões inflamatórias. Se a agressão for intensa e prolongada, levará ao desenvolvimento de displasias (anormalidade na
multiplicação das células), que podem
ser de grau leve ou intenso. No segundo
caso, podem evoluir para um carcinoma,
tipo de câncer de boca que aparece sobretudo na língua e no assoalho da boca.
Em Nova Déli , na Índia, a incidência de
câncer da boca é altíssima. Atualmente,
18,1% dos novos casos de câncer entre a
população masculina local são de boca.
Lá, além do cigarro, uma das principais
causas da doença é o hábito da população
de mascar tabaco e "pan masala" (mistura de tabaco, noz-de-bétele esmagada e
outros ingredientes enrolados em uma
folha). A situação no país é considerada
alarmante porque crianças em idade escolar estão desenvolvendo o hábito constante de mascar a "pan masala". "Segundo especialistas, a Índia caminha para
uma epidemia de câncer de boca", afirma
Miriam Federico.
Como no caso da prevenção ao câncer
de mama, o de boca também tem seu auto-exame.
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