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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003
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s.o.s. família - rosely sayão

Educação familiar é responsabilidade dos pais

Muitos pais não se dão conta, mas deixam os professores de seus filhos em situação muito delicada. Vejam a questão que uma professora de educação infantil colocou: "Vários pais que enfrentam problemas de disciplina em casa com os filhos nos procuram para pedir orientação sobre como agir nessas situações. Como dizer a esses pais que não temos como orientá-los? O professor é avaliado também de acordo com as respostas que dá às questões que os pais colocam".
Pois é, os pais que agem assim acreditam que os professores tenham competência para ajudá-los na tarefa educativa da família. Por que será? Bem, talvez tenha sido a própria escola que, enfrentando também dificuldades para exercer sua autoridade no espaço escolar, tenha iniciado um movimento de chamar os pais para conversar sobre o comportamento dos filhos. Essas conversas pouco a pouco se transformaram em orientações, porque os professores creditavam os problemas de indisciplina de seus alunos à educação familiar ineficaz. Pensaram que, ensinando os pais a educar seus filhos, os problemas de indisciplina na escola diminuiriam.
Foi -e continua sendo- muito problemática essa atitude da escola. Em primeiro lugar, porque isso implica um julgamento negativo e uma depreciação do tipo de educação praticada pelos pais de seus alunos. Mesmo que não seja explicitado, esse parecer, de algum modo, é passado para os alunos e isso compromete a relação de confiança deles com seus professores, algo que é muito importante.
Em segundo, porque os professores se julgaram competentes para entender de educação familiar. Não são. Nenhum professor tem formação para trabalhar com os pais de seus alunos, para orientá-los. A formação que eles têm -ou deveriam ter- é voltada para trabalhar com a educação dos alunos na escola, que é um espaço público, e não no lar, que é um espaço privado, e isso faz uma grande diferença.
Demorou, mas muitas escolas já entenderam que não compete a elas intervir na educação praticada pelas famílias. Sua competência é educar seus alunos ali, em seu espaço, visando à convivência em grupo, independentemente do tipo de educação recebido em casa.
Muitos pais, porém, insistem em pedir ajuda quando enfrentam dificuldades com os filhos. Além de criar um problema para os professores, isso é problemático também para os pais, porque significa assumir que não conseguem ter autoridade com os filhos, que logo percebem essa situação. E fica criado um círculo vicioso de alta voltagem formado por elementos interdependentes: pais que não assumem a autoridade necessária para educar os filhos, professores que julgam os pais, filhos que não obedecem aos pais por perceberem sua fragilidade e que não confiam em seus professores por perceberem que eles não respeitam seus pais, e famílias e escola sem vínculo de confiança mútua. Como quebrar isso?
Bem, a escola não pode orientar os pais de seus alunos, mas pode dividir com eles os conhecimentos que tem a respeito do desenvolvimento infantil, das etapas da infância e da adolescência e dos princípios fundamentais dos direitos e deveres da criança e do adolescente, por exemplo. Pode também encorajar os pais mais aflitos a assumir seu papel com convicção e paciência. E também pode abrir seu espaço para que os pais compartilhem, entre eles, suas dúvidas, suas angústias, seus acertos e seus equívocos. A troca de experiência é bastante salutar, já que ser pai e ser mãe é, em geral, uma atividade bastante solitária.
Os pais, por sua vez, devem avaliar a escola pelos efeitos que a educação lá praticada produz em seus filhos, não pelo que os professores lhes dizem -as tais orientações- e pelas teorias que usam. Uma boa escola faz bem aos seus alunos, esse é o ponto.
Ah! E os pais devem, principalmente, preservar a privacidade familiar. Nada de ficar contando problemas da intimidade da família aos professores. Isso não faz bem a nenhuma das partes envolvidas, principalmente aos alunos, além de ser constrangedor para quem fala e para quem ouve.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail: roselys@uol.com.br


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