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foco nela
Consultora propõe a minimização do lixo
CRISTINA CAROLA
DA REPORTAGEM LOCAL
Que o lixo precisa ser reciclado, todo
mundo já sabe. Mas o que poucos sabem
é que a reciclagem também gera poluição
e lixo e, portanto, deve ser evitada. Como? Reduzindo a quantidade de lixo.
Diminuir a produção de lixo é a proposta defendida pela consultora ambiental Patrícia Blauth, 40, que trabalha nessa
área há 15 anos. Segundo Blauth, é simples fazer isso: basta olhar para o lixo produzido e verificar o que poderia não estar
ali. Guardanapos de papel são um exemplo, pois podem ser substituídos por modelos de tecido.
A redução pode ser feita também em
escala maior. Em um banco, a consultora
trocou os copos descartáveis usados pelos funcionários por canecas de porcelana, evitando assim o descarte de 25 mil
copos por dia. Já no bar Zatar (SP), ela
implantou um programa que minimizou
em até 50% a produção de lixo. Uma das
ações foi substituir os sachês de açúcar
por açucareiros. Leia a entrevista abaixo.
"A reciclagem tem legitimado o desperdício. Em escolas,
temos de desconstruir os programas que se baseiam na
gincana de quanto mais reciclável, melhor. Não é essa a
idéia, é quanto menos lixo, melhor"
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Folha - As pessoas estão mais conscientes do problema do lixo?
Patrícia Blauth - O enfoque de muitos
programas tem sido a reciclagem, e eu
trabalho com a minimização. Mas, muitas vezes, por meio de um programa desses, a pessoa começa a se dar conta da
quantidade de resíduos e repensa suas
opções de consumo. Sinto que as pessoas
estão receptivas, sensíveis e estão multiplicando o trabalho. Quando você realmente sensibiliza a pessoa, ela não consegue mais ver o lixo da mesma forma.
Folha - A quanto pode chegar a redução
do lixo?
Blauth - Tem lugares em que reduzimos
o lixo para um décimo, com um trabalho
pautado nos três erres. Primeiro, a redução do uso, do consumo e do desperdício. Se há um material que não dá para reciclar -uma embalagem, por exemplo-, tento cortá-lo da minha lista de
compras e substituí-lo. Segundo, a reutilização e, por último, a reciclagem. Quando falamos em minimizar não é algo simbólico, dá para minimizar bastante.
Folha - É possível obter os mesmos resultados em casa e no escritório?
Blauth - O princípio dos três erres serve
para qualquer ambiente, e até mesmo para resíduos complicados, como os de saúde. Na minha casa, eu começaria olhando
e fazendo um diagnóstico do meu lixo.
Coador de papel: é frescura, então troco
pelo de pano. Bandeja de isopor: posso
encontrar os mesmos produtos sem a
bandeja. Comida: comprei demais, errei
no cálculo? Essa é a lógica, ver item por
item. No fundo, é um exercício de ser
mais responsável mesmo. É um movimento em busca de opções.
Folha - Mas o estilo atual de vida não incentiva a redução, não é?
Blauth - Para eu reduzir meu lixo, tenho
de rever meu estilo de consumo. Não é só
usar o papel frente e verso, isso não é reduzir. A redução depende muito de um
arranjo comunitário, que não é muito
privilegiado nas grandes cidades. O lixo
acaba sendo um reflexo de um padrão individualista, de famílias menores. Se eu
trabalho a competição na escola, eu enfraqueço esses laços afetivos entre as pessoas e acabo contribuindo para o individualismo e o consumo. Não é só uma discussão mecânica, do que eu separo, onde,
em que lixeira, não é isso. Porque isso
não garante resultados duradouros.
Folha - Educar as pessoas é difícil?
Blauth - A etapa da educação é um desafio mesmo, mas eu, que trabalho com isso há 15 anos, vejo que está dando resultado. Acho que o que falta mesmo é discutir mais o espaço entre a consciência e a
ação. No aspecto operacional, por exemplo, não adianta eu descartar seletivamente se eu não tiver a garantia de que
aquilo será reciclado. Até brinco: comece
pelo fim. Quem quer o material descartado, com que frequência pode ser retirado? Aí pense na infra-estrutura para descarte e depois na educação.
Folha - As pessoas erram quando separam o lixo?
Blauth - Muito. Para simplificar, algumas cartilhas dizem para separar o lixo seco do úmido. Isso é absurdo! Entre os
resíduos secos, há muita coisa não-reciclável, como o isopor. Ninguém quer isopor no Brasil, não é reciclável comercialmente. A questão não é facilitar e tornar a
coisa tão banal que seja malfeita. As pessoas mandam um monte de coisas que
não são recicláveis e vão ser descartadas
como lixo. A simplificação tem confundido as pessoas, e elas se frustram.
Folha - Seguras de que um material é reciclável, as pessoas não aumentam seu
consumo?
Blauth - A reciclagem tem legitimado o
desperdício. Em escolas, temos de desconstruir os programas que se baseiam
na gincana de quanto mais reciclável,
melhor. Não é essa a idéia, é quanto menos lixo, melhor. Em escolas menos carentes, por exemplo, as crianças chegam
a convencer os pais a não comprarem
cerveja em garrafa de vidro, que é retornável, para comprar a descartável. As
pessoas geram lixo de propósito em nome da reciclagem.
Folha - O símbolo nas embalagens é garantia de que o material é reciclável?
Blauth - Não, isso ainda não está normatizado no Brasil, e as empresas usam
isso como marketing ecológico. É propaganda enganosa. Tanto que até em bandejas de isopor está lá o símbolo em relevo. Tudo bem, o isopor é reciclável. Mas
onde, no Japão? Aqui, ninguém aceita.
Esse símbolo deveria ser usado onde o
material fosse comercialmente reciclável.
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