São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2008
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ROSELY SAYÃO

Sobre pais e avós

Temos tido efemérides em excesso. Quase todo dia é data para comemorar algo, mas, em geral, quem comemora é o comércio. Mas vou juntar duas dessas datas bem próximas para nossa conversa de hoje: o Dia da Vovó (final de julho) e o Dia dos Pais (início de agosto).
Por que juntar essas duas figuras, aparentemente tão distintas na formação da família? Ser pai e ser avô ou avó hoje tem sido uma experiência diferente daquela que conhecemos. Mas não deixa de ser curioso o fato de que o Dia dos Avós seja conhecido popularmente como Dia da Vovó, não é? Vamos considerar os avós em geral.
Até pouco tempo atrás, eles tinham uma função privilegiada na relação com os netos: o bom mesmo era desfrutar da relação com as crianças, o que é renovador para os velhos.
Criança tem energia de sobra, é afetiva e, quando mimada, responde mais carinhosamente ainda no relacionamento. Já com os filhos que se tornaram pais, o papel dos avós era principalmente o de passar a experiência acumulada.
Não podemos esquecer que esse fato era de extrema importância, já que não existem cursos para se tornar mãe e pai, não é? Por isso, a lembrança da educação recebida, mesmo que fosse para ser usada como contra-exemplo, acrescida das dicas dos avós, constituía patrimônio importante na conduta dos jovens pais.
Agora, cabe a grande parte dos avós outras funções. Com os netos, parece que acabou a festa, e muitos avós precisam assumir o papel de mãe ou de pai substituto, respondendo pela função educativa. Isso tem ocorrido principalmente porque os jovens pais têm se dedicado intensamente à carreira, à profissão e à vida pessoal. Além disso, sabemos que muitos avós assumiram a responsabilidade de serem os principais provedores econômicos da família dos filhos.
Tal fato pode gerar conflitos entre as gerações: pela dependência econômica, os jovens pais se sentem dependentes e sem autonomia para exercer com autoridade e liberdade seu papel com os filhos. Um problema a ser superado.
Outra mudança importante na relação dos avós com seus filhos é justamente no que diz respeito à transmissão do conhecimento. Como o mundo se transformou radicalmente, muitos jovens recusam os conselhos e as dicas que seus pais poderiam dar na lida com os filhos. Nesse lugar, colocam os profissionais que, parece, são considerados mais competentes. E os avós ficam, portanto, relegados ao segundo plano nessa importante função.
E os pais? Eles têm construído uma relação de maior proximidade educativa com os filhos: acordam de madrugada, alimentam os filhos, colocam-nos para dormir, levam-nos para passear etc. E, para as mães, esse é um fato recebido de modo contraditório, incrivelmente. Por um lado, elas se sentem apoiadas na árdua missão materna, mas muitas hesitam em aceitar que os maridos façam as coisas a seu modo. Outro problema a ser superado.
Pais e avós têm um desafio em comum: construir um novo modo de exercer seus papéis na família contemporânea e contribuir para a formação das novas gerações.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



Texto Anterior: Relação entre diabetes e consumo de refrigerantes
Próximo Texto: Bate-papo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.