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Se todos trabalhassem menos horas haveria mais empregos?
Reduzir jornada
de trabalho para
empregar mais
pessoas pode
produzir efeito
oposto; alguns
países adotam
contratos de
meio período
como forma de
expandir vagas
do Conselho Editorial
Em francês ou em inglês, em espanhol ou até em grego, o movimento sindical europeu canta um
cântico único: "Trabalhar menos
para que todos possam trabalhar".
É a pauta musical para defender
a redução da jornada de trabalho
das 40 horas semanais, hoje mais
ou menos generalizadas, para 35
horas (ou até 32 horas, em certos
casos ou países).
Seria a resposta para o desemprego, na visão do sindicalismo
europeu e também brasileiro.
Será mesmo? Nem os sindicalistas exibem consenso a respeito.
Embora a maioria defenda a tese,
Nicole Cotat, secretária-geral da
CFDT (Confederação Francesa de
Trabalhadores), acha que a redução da jornada pode servir para
outras finalidades, "mas, como
arma antidesemprego é publicidade enganosa".
Por quê? Responde Jennifer
Hunt, especialista da Universidade de Yale em trabalho/emprego:
"Não há evidências de que a redução da jornada reduza também o
desemprego. Os empregadores
acham o sistema ineficiente e
compensam a redução com o corte dos custos, inclusive na folha de
pagamentos" (dispensando empregados, portanto, em vez de
contratá-los).
O patronato, como é natural,
concorda com a análise de Hunt,
como o demonstra a reação de
Jean Gandois, o principal dirigente empresarial francês quando do
anúncio, no final de 97, do projeto
de lei que reduz a jornada de trabalho para 35 horas.
Gandois demitiu-se da central
patronal, dizendo que a nova lei
"será muito ruim para o emprego
e vai criar considerável desemprego".
Dúvida européia
O governo socialista francês passou por cima da reação e encaminhou ao Legislativo o projeto que
prevê uma jornada de 35 horas a
partir de janeiro do ano 2000.
Romano Prodi, o primeiro-ministro italiano, pegou carona e
também apresentou proposta com
o mesmo objetivo.
Até agora, no entanto, França e
Itália ficaram isoladas, na Europa,
na proposição das 35 horas semanais. Padraig Flynn, o irlandês que
chefia a área de Assuntos Sociais
na Comissão Européia (braço executivo do conglomerado de 15 países), diz: "A União Européia não
recomendará a seus membros
aplicar de forma generalizada a semana de 35 horas".
Flynn duvida das virtudes milagrosas da jornada semanal de 35
horas: "Certamente, não é a panacéia contra o desemprego",
afirma.
Prova de que a questão é de fato
complexa vem do fato de outro líder europeu, Jacques Poos, chanceler de Luxemburgo, ter opinião
oposta: "A idéia das 35 horas semanais se imporá a todos no início
do século 21".
A experiência alemã
Previsão arriscada a de Poos. Por
enquanto, as 35 horas semanais
parecem confinadas a poucos
exemplos, entre as grandes empresas. Um deles é o da Volkswagen alemã.
Pressionada pelos prejuízos, em
1993, a empresa propôs (e os trabalhadores aceitaram) reduzir a
jornada para 28,8 horas semanais
(diminuição de 20%), com corte
salarial menor (15%), a partir de 1º
de janeiro de 94.
A alternativa era dispensar 30
mil dos 128 mil trabalhadores das
dez unidades da Volkswagen na
Alemanha.
O esquema funcionou, aparentemente para os dois lados: a
Volks voltou ao lucro, e uma pesquisa feita dois anos depois (em
1996) mostrou que 75% dos empregados estavam satisfeitos.
A Siemens, a maior empregadora alemã (197 mil funcionários),
seguiu a tendência, mas num segmento mais limitado: acordo com
o sindicato permitiu que os empregados de 55 anos ou mais reduzam à metade a jornada de trabalho, com corte salarial de apenas
18%.
São dois casos poderosos, pelo
porte das empresas envolvidas,
mas nem assim o suficiente para
convencer o próprio empresariado alemão.
Peter Stihl, presidente das Câmaras de Comércio e Indústria da
Alemanha, acha que o correto é
aumentar, em vez de diminuir, as
horas trabalhadas, "para reduzir
o custo da mão-de-obra, e estimular as empresas a contratar".
Tempo parcial
Uma vertente menos polêmica
de redução da jornada de trabalho
é o trabalho em tempo parcial,
com salário correspondente.
A idéia é menos polêmica por
que implica a aceitação do empregado, que se dispõe a ganhar menos para ter mais tempo livre disponível, porque suas necessidades
básicas podem ser satisfeitas mesmo com um rendimento inferior.
Serve, acima de tudo, para países
extremamente homogêneos, como a Holanda, no qual 38,1% da
força de trabalho têm emprego
"part-time".
Nos Estados Unidos, o trabalho
em tempo parcial também cresceu, mas não por acordo entre as
partes. Foi como imposição, gerando um crescimento da desigualdade social criticada até por
Robert Reich, que foi secretário do
Trabalho no primeiro mandato de
Bill Clinton (1993-96).
Polêmica ou não, a proposta das
35 horas semanais ganhou força a
partir de dados impressionantes
sobre como a indústria, no mundo todo, faz hoje muito mais produtos com muito menos gente.
A Volkswagen alemã, para ficar
num só exemplo, fabricou, em
1996, 4 milhões de veículos com
243 mil funcionários. Quatro anos
antes, 280 mil trabalhadores faziam apenas 3 milhões de unidades.
(CLÓVIS ROSSI)
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