São Paulo, sexta, 1 de maio de 1998

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Brasil tem que retomar crescimento e investir mais em educação

BIA ABRAMO
especial para a Folha, de Berkeley

Para o economista Martin Carnoy, professor da Escola de Educação da Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA), o avanço tecnológico por si só nem gera nem destrói empregos.
Em co-autoria com Manuel Castells, professor da Universidade de Berkeley, Carnoy descreve as mudanças no mundo do trabalho num estudo, publicado neste ano, intitulado "Sustainable Flexibility" (Flexibilidade Sustentável), que examina a crise do emprego nos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Para os autores, a intensificação do uso de tecnologia e a economia globalizada provocam mudanças profundas no mundo do trabalho.
No Brasil, porém, afirma Carnoy, a causa do desemprego deveria ser procurada na política econômica: "O problema no Brasil é manter a inflação baixa. Se se quer manter o índice de inflação baixo, você tem que restringir a economia. Isso significa que se vai criar mais desemprego. Não entendo por que nessa situação o governo está culpando a tecnologia. É absolutamente verdade que, introduzida em operações específicas em uma fábrica ou negócio, a tecnologia pode reduzir empregos num determinado setor, mas não há evidências que destrua o nível geral de emprego. Não há absolutamente nenhuma relação entre o crescimento de gastos com tecnologia e as taxas de desemprego. Por exemplo, o índice geral de desemprego na Itália é da ordem de 12%. No Norte da Itália, que é mais avançado tecnologicamente, este índice cai para 5% e no Sul, onde há muito pouco investimento em tecnologia, é mais de 20%".
As privatizações também podem ser, segundo Carnoy, responsáveis pelo aumento nas taxas de desemprego: "O Brasil está passando por um processo de privatização, certo? Se há empresas sendo privatizadas, então há empregos sendo destruídos, por que provavelmente essas empresas empregavam mais do que deviam".
No novo mundo do trabalho criado pelas novas tecnologias, Carnoy prevê uma demanda cada vez maior por mão-de-obra com formação superior. "O Brasil investiu muito pouco em educação por muitos anos e agora tem que corrigir isso", diz.
Investir prioritariamente em educação básica, afirma o economista, "é uma política criada pela necessidade, mas há um preço a pagar por isso. O fato é que o país precisa tanto ampliar sua base investindo em educação primária quanto expandir a educação secundária e se preocupar em aumentar a qualidade do ensino superior. Infelizmente, isso custa muito dinheiro e o governo e a sociedade têm que estar dispostos a gastar dinheiro em educação".
Carnoy e Castells sugerem que mudanças no currículo do ensino superior, em direção a uma abordagem solucionadora de problemas, são fundamentais para preparar esse novo tipo de trabalhador exigido por um mercado mais flexível. Para Carnoy, o ensino superior brasileiro também deveria escolher esse caminho "em todos os campos, tanto nas ciências sociais quanto nas ciências físicas. Alguns de meus melhores alunos aqui em Stanford eram brasileiros, eram pessoas com uma capacidade solucionar problemas tremendamente criativa. Mas as universidades em geral não estão promovendo iniciativas capazes de solucionar problemas. O ensino acaba sendo muito mecânico, e não deveria ser".
Para Carnoy, os empregos do futuro exigirão "flexibilidade, boa capacidade de comunicação, facilidade para trabalhar em equipe. Cada empresa requer trabalhadores com capacidades que sejam úteis imediatamente, mas de maneira geral, as empresas tendem a contratar pessoas que sejam treináveis, que aprendam a fazer muitas coisas e coisas diferentes, que se movam rapidamente de uma tarefa para outra."



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